quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Transfiguração e interpenetração de dois planos num só

 
Vemos na primeira linha - eu não sei grego - da Ilíada de Homero, que lemos na versão tão censurada de Hermosilla: ''Canta, Musa, a cólera de Aquiles''. Ou seja, Homero, ou os gregos que chamamos de Homero, sabiam, sabiam, que o poeta não é o cantor, que o poeta (o prosador, o escritor) é simplesmente o amanuense dealgo que ignora e que em sua mitologia chamava de A Musa. Em compensação os judeus preferiram falar do Espírito, e nossa psicologia contemporânea, que não adoece de excessiva beleza, da Subconsciência, do Inconsciente Coletivo, algo assim. Mas, enfim, o importante é o fato de que o escritor é um amanuense, ele recebe algo e trata de comunica-lo, o que recebe não são exatamente certas palavras em uma certa ordem, como queriam os judeus, que pensavam que cada sílaba havia sido prefixada. Não, nós pensamos em algo muito mais vago do que isso, mas em todo caso em receber e comunicar algo''.
Jorge Luis Borges.
(...)
 
Amanuense era todo aquele que copiava (transcrevia ) textos ou documentos à mão.
 
(...)
 

Penetrar nesta problemática é para nós tanto mais importante quanto André Breton, "pai" do movimento surrealista, referiu que o surrealismo "repousa na crença na realidade superior de certas formas de associação negligenciadas até aí, no forte poder da ruptura do nível de consciência habitual, no jogo desinteressado da meditação ativa e criativa do pensamento".

 
Somente os artistas que tentaram dar à imaginação iniciática e aos estados superiores de consciência um papel fundamental - e por isso libertador - nas suas composições, apresentaram para os primeiros surrealistas um autentico interesse (caso de Bosch). Por quanto o que lhes interessava e fundamentava era a transfiguração e a interpenetração dos dois planos num só.


 
 
 

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