quarta-feira, 14 de agosto de 2013

«A hermenêutica da experiência visionária»

 
Pode-se demonstrar que na tradição judaica, particularmente na literatura mística e apocalíptica, há uma relação intrínsica entre o estudo de um texto e a experiência visionária. Longe de excluir-se mutuamente, a experiência visionária em si mesma pode ser de natureza interpretativa, enquanto que a tarefa exegética pode originar-se e desembocar em um estado revelador de consciência.
 
 As teses deste ensaio, formulado de maneira simples, é que no Zohar os dois modos, revelação e interpretação, se identificam e se fundem. E que ocorra essa convergência se deve ao fato de que a estrutura teosófica subjacente proporciona uma base fenomenológica comum a ambos. Na relação hermenêutica que o exegeta místico mantém com o texto, ele vê novamente a Deus como Deus foi visto no acontecimento histórico da revelação. Em suma, desde a perspectiva do Zohar, a experiência visionária é um veículo para a hermenêutica, assim como a hermenêutica é um veículo para a experiência visionária. A combinação destas modalidades constituiu uma enorme força que exerceu  uma influencia profunda nas seguintes gerações de exegetas judeus. Estabelecidos os nexos entre o estudo textual e a experiência visionária, a interpretação da Escritura já não foi considerada uma simples execução do mandato fundamental de Deus, no caso:estudar o Torá (talmud Torá), e sim que dita interpretação era melhor entendida como um ato de participáção mesmo no acontecimento-apropriador da revelação por parte  do intérprete. A interpretatio mesma se converteu num momento da revalatio, a qual na linguagem do Zohar comprende además el proceso de devequt, es decir, la unión del individuo con Dios.



Elliot R. Wolfson,
«A hermenéutica da experiencia visionaria»


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