Pode-se demonstrar que na tradição judaica, particularmente na literatura
mística e apocalíptica, há uma relação intrínsica entre o estudo de um texto e a
experiência visionária. Longe de excluir-se mutuamente, a experiência visionária
em si mesma pode ser de natureza interpretativa, enquanto que a tarefa exegética
pode originar-se e desembocar em um estado revelador de
consciência.
As teses deste ensaio, formulado de maneira
simples, é que no Zohar os dois modos, revelação e interpretação, se identificam
e se fundem. E que ocorra essa convergência se deve ao fato de que a estrutura
teosófica subjacente proporciona uma base fenomenológica comum a ambos. Na
relação hermenêutica que o exegeta místico mantém com o texto, ele vê novamente
a Deus como Deus foi visto no acontecimento histórico da revelação. Em suma,
desde a perspectiva do Zohar, a experiência visionária é um veículo para a
hermenêutica, assim como a hermenêutica é um veículo para a experiência
visionária. A combinação destas modalidades constituiu uma enorme força que
exerceu uma influencia profunda nas seguintes gerações de exegetas judeus.
Estabelecidos os nexos entre o estudo textual e a experiência visionária, a
interpretação da Escritura já não foi considerada uma simples execução do
mandato fundamental de Deus, no caso:estudar o Torá (talmud Torá), e sim que
dita interpretação era melhor entendida como um ato de participáção mesmo no
acontecimento-apropriador da revelação por parte do intérprete. A interpretatio
mesma se converteu num momento da revalatio, a qual na linguagem do Zohar
comprende además el proceso de devequt, es decir, la unión del individuo con
Dios.
Elliot R.
Wolfson,
«A hermenéutica da experiencia
visionaria»
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