terça-feira, 27 de agosto de 2013

DINÂMICA DA ESTUPIDEZ

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A perspectiva evolucionária sugere que as seguintes proposições podem ser
verdadeiras, ou possam servir de princípios de trabalho plausíveis, até que
compreendamos melhor o nosso cérebro:


A estupidez é parcialmente genética e parcialmente adquirida;


A porção genética da estupidez está programada em todos nós e consiste no
"comportamento mamífero típico", o que quer dizer: uma boa porção do sistema
nervoso humano está numa espécie de "piloto automático", tal como no
sistema nervoso do chimpanzé, que se assemelha ao nosso, ou então para com o
sistema nervoso mais distantemente relacionado, da vaca. Os programas de
territorialidade, hierarquia no bando e outros, representam estratégias
evolucionárias estáveis e, portanto, funcionam de maneira mecânica, sem a
interferência do pensamento racional. Esses sucessos evolucionários
relativos se tornaram programas genéticos devido ao fato deles funcionarem
suficientemente bem para o mamífero ordinário nos assuntos ordinários dos
mamíferos. Eles se transformam em estupidezes nos seres humanos, onde os
centros corticais superiores foram desenvolvidos como um SISTEMA DE
MONITORIZAÇÃO PARA INJETAR TÉCNICAS DE SOBREVIVÊNCIA MAIS SOFISTICADAS, E
PARA CORRIGIREM OS PROGRAMAS ESTEREOTIPADOS COM OUTROS MAIS FLEXÍVEIS.


Em resumo, enquanto um ser humano obedecer aos programas genéticos e do
bando primata, sem respeitar ou receber qualquer retorno da córtex, aquele
humano está agindo como um macaco, e ainda não encontrou meios de utilizar o
NOVO CÉREBRO.


A porção adquirida da estupidez é o resultado da ENCULTURAÇÃO, que é o
processo pelo qual o sistema nervoso humano, flexível, polivalente, sofre um
processo de lavagem cerebral para abandonar a sua flexibilidade, e
convencido a imitar (mímica) comportamentos estereotipados, crenças,
valores, etc..., da tribo a qual ele pertence.



O COMPORTAMENTO PRIMATA SOMENTE SE MODIFICA SOB O IMPACTO DE UMA NOVA
TECNOLOGIA. Um bando de chimpanzés irá repetir roboticamente os mesmos
comportamentos por milênios ou mais; se alguém os ensinar como usar paus
para obter alimento ou então uma linguagem de sinais simples, eles irão
imediatamente modificar o seu comportamento sob o "choque" dessa nova
tecnologia.



As sociedades humanas (por exemplo: China, Bizâncio) podem também permanecer
estáticas e repetitivas por longos períodos de tempo, até que novas
tecnologias desencadeiem novos comportamentos.


Primatas domesticados (humanos) mudaram mais nos últimos cem anos do que em
toda a história anteriormente, debaixo do impacto de uma "acelerada
aceleração de tecnologias". Os irmãos Wright, Edison, Einstein, Ford,
etc..., desencadearam mais modificações de comportamentos do que todos os
outros revolucionários políticos deste século, sejam da direita ou esquerda.


Dos pontos 3, 4 e 5 segue-se que a forma mais rápida de modificar o
comportamento primata, é introduzindo uma nova tecnologia, e que a
tecnologia, é o remédio mais forte que pode ser administrado para curar a
estupidez, ou pelo menos no sentido de aliviá -la um pouco.


O comportamento genético se modifica com muito maior velocidade do que o
comportamento adquirido quando uma tecnologia nova é introduzida, porque o
código genético contém aquilo que Lorenz denomina de "buracos", ou PONTOS DE
VULNERABILIDADE DE IMPRINT, onde novos imprints (redes de novos circuitos
neuro-genéticos) podem ser formados. O choque e a confusão, que são dois
subprodutos de uma nova tecnologia, podem disparar este tipo de
vulnerabilidade de imprint (vide a EXO-PS CHOLOG de Thimothy Leary e HOW
REAL IS REAL de Paul Watzlawick).



A inteligência superior é a habilidade de receber integrar e transmitir
novos sinais rapidamente. Isto segue a definição de Wiener em CIBERNETICS,
onde para "viver de forma eficiente temos de viver com a informação
adequada", e também da TEORIA MATEMÁTICA DA COMUNICAÇÃO de Shannon.


A estupidez é um bloqueio na habilidade de receber, integrar e transmitir
novos sinais rapidamente. Programas genéticos, se não forem corrigidos por
novos imprints, podem gerar este tipo de "cegueira aos sinais de
informação": o comportamento genético, mecânico, inconsciente, não é
passível de ser corrigido pelos circuitos de retroalimentação dos centros
nervosos superiores. A ENCULTURAÇÃO (se identificar os mapas de realidade
tribais com a REALIDADE) pode também gerar esta cegueira aos sinais: os
sinais não consistentes com a mitologia tribal são reprimidos, ignorados,
recobertos com projeções ou distorções, até que se amoldem aos mitos locais,
ou simplesmente são esquecidos muito rapidamente.


Os primatas domesticados, como os selvagens, desejam principalmente que um
MACHO ALFA os liderem. Quanto mais esta figura vier a se aproximar do
arquétipo primordial, isto é: o babuíno mais mal encarado e mais
temperamental do bando - mais ferventemente os outros primatas o seguirão.
Isto explica a aparentemente inexplicável ascenção ao poder dos tipos
evidentemente sub-humanos de Mussolini, Nixon, Stalin, Hitler. A lógica
primata é: "se ele é assim tão ruuuim" no sentido em que a palavra "ruuuuim"
é utilizada dentro da comunidade de uma favela, "ele irá fazer os bandos de
primatas competidores fugirem com os rabos entre as pernas".


Depois de encontrarem um macho alfa para liderá-los, os primatas
domesticados então buscam um bode expiatório a quem culpar pelos seus
problemas. Eles agem desta maneira porque a resolução de problemas exige
inteligência, e existe muito mais estupidez do que inteligência neste
planeta. Os primatas domesticados não são otimistas no que se refere a
resolverem os seus problemas, que lhes parecem insolúveis no seu estado
confuso atual, situados como estão entre os reflexos mamíferos e a
consciência objetiva. É mais fácil para uma mente estúpida culpar alguém
pelos seus problemas.


A função principal do macho alfa num bando de primatas domesticados é a de
encontrar, denunciar e liderar a perseguição de tais bodes expiatórios,
sejam eles internos ou externos.


Para os primatas selvagens, assim como para os outros mamíferos, as emoções
funcionam como sinais de emergência, mobilizando a energia para as situações
de "ameaça", ou seja, aquelas que desafiam a territorialidade ou o "status"
na hierarquia do bando.


Para os primatas domesticados, as emoções servem tanto para desempenharem as
funções acima, como também para as duas novas funções tornadas possíveis
pela existência do novo cérebro, e pelas suas capacidades de simbolização.
Estas duas novas funções, são:

1. COMBATER O TÉDIO e
2. GANHAR STATUS OU PODER.

Primatas selvagens, assim como os outros mamíferos não possuem defesas
contra o tédio. Eles simplesmente vão dormir quando nada estimulante está
acontecendo. Isso também funciona como uma estratégia evolucionária
interessante na medida em que impede que o animal se meta em complicações:
você se torna muito menos visível a um predador quando está imóvel do que
quando em movimento; você tem menor probabilidade de enfiar as suas patas ou
focinho num vespeiro, etc. Os primatas domesticados aprendem a imitar os
seus parentes, uma habilidade que foi transmitida pelos hominídeos ao longo
de milênios, como usar as emocões para fugirem ao tédio.


A única outra maneira de espantar o tédio num complexo primata tal como a
humanidade é a de aumentar a consciência e a inteligência. Isto parece não
entusiasmar muito o primata ordinário, que prefere inventar jogos emocionais
(novelas, grandes espetáculos dramáticos), para manter a vida estimulante.
Os escritos de Eric Berne e os dos Analistas Transacionais estão dedicados
principalmente ao estudo e catalogação destes jogos emocionais ou
"chupetas".


Entre os primatas domesticados, as emoções também conferem status e poder.
Isto quer dizer que a pessoa mais emocional num bando "domina" todas as
demais: os outros devem reagir de acordo com as emoções dele ou dela ou
então fugir, retirando-se completamente do local.

Quase todas as crianças começam a aprender esses jogos emocionais
estereotipados ou "chupetas" de parentes ou irmãos mais velhos, a partir da
idade de dois anos. Elas então experimentam com estas táticas de poder
(política mamífera), até que tenham aprendido como ganhar vantagens
(vitórias simbólicas) pelo método da chantagem emocional. Muito poucas
crianças aprendem, dos parentes, professores ou de alguém mais, as técnicas
da solução racional dos problemas.


Dos itens 18 e 19 se conclui que neste planeta primitivo a maioria das
pessoas irá tentar lidar com os seus problemas de forma simbólica, pelo
jogo das emoções, e relativamente poucas pessoas irão saber como resolver os
seus problemas de modo racional.


A estupidez sendo parcialmente genética e parcialmente adquirida pela
enculturação parcialmente pela imitação de jogos emocionais para a aquisiçao
de status, é altamente contagiosa. O elemento mais estúpido de um grupo
inevitavelmente arrasta todos os demais para o seu nível. Tentar discutir
com uma pessoa emocional é frustrante porque é inútil; a única maneira de
"negociar" com elas, além de escapar da situação, é desafiar o seu jogo
emocional com um contra-jogo ainda mais forte. Normalmente este novo jogo é
denominado de "culpa".


Uma vez que o comportamento primata pode ser modificado por nova tecnologia,
a única cura para a espécie humana deve ser uma tecnologia que em si mesma
aumente a inteligência de maneira imediata e permanente.


Tal tecnologia de aumento da inteligência deve ser hedônica, isto é, deve
oferecer um maior prazer aos seus freguezes do que as demais do mercado
senão corre o risco de não se espalhar de forma rápida.


Quando um tal aparelho de elevação hedônica da inteligência for inventado,
os mandantes da sociedade tentarão suprimí-lo, como uma ameaça à
estabilidade.


Se um tal aparelho elevador hedônico da inteligência já foi inventado, ele
deve ter sido reprimido. Os pesquisadores devem ter sido aprisionados ou
intimidados; os seus distribuidores devem ter sido perseguidos com maior
vigor do que o seriam assassinos ou ladrões; o próprio aparelho seria
denunciado como algo terrível e perigoso em todos os meios de comunicação da
massa.


Até que a existência de um aparelho hedônico de aumento da inteligência seja
provada de forma totalmente não-ambígua, certas medidas podem ser tomadas
para tentarmos minorar a estupidez pelo menos um pouco.


A estupidez da biosobrevivência está "imprintada" quase que imediatamente
após o nascimento, e é gerada pelo pavor traumático (devido às nossas
práticas primitivas de cuidados ao recém-nascido) e assume a forma de uma
ansiedade crônica. Esta é epidêmica na nossa sociedade: uma pesquisa feita
pelos Serviços de Saúde Pública dos Estados Unidos em 1986 mostrou que 85%
da população apresenta algum sintoma de ansiedade crônica, sejam palpitações
cardíacas, pesadelos frequentes ao dormir, tonturas, cansaço fácil, etc.
Isto geralmente acompanhado por uma depressão crônica. Nas suas formas mais
extremas podemos encontrar o autismo ou a catatonia, que são "decisões"
biopsíquicas ou celulares de que os seres humano são demasiadamente
desagradáveis para que valha a pena se relacionar com eles, ou então,
podemos encontrar a paranóia, a arte sutil de encontrar inimigos em todos os
lugares, principalmente entre os nossos melhores amigos.

A estupidez da biosobrevivência causa tanto stress no organismo e tanta
alienação dos demais seres humanos, que ela cria a estupidez em todos os
outros circuitos igualmente e portanto, previne o desenvolvimento de um alto
nível de inteligência em QUALQUER CIRCUITO.
A estupidez da biosobrevivência pode ser aliviada pela prática de vários
tipos de artes marciais (aikidô, karate, kung-fu, etc.), pela prática de
"asanas", a técnica iogue de manutenção postural por longos períodos de
tempo todos os dias; pelos "movimentos Gurdjeffianos" ou então por alguma
psicoterapia eficiente. A prática do "asana" e as psicoterapias demoram mais
tempo para surtirem efeitos, porém podem ser necessárias nos casos mais
agudos.

A Estupidez Emocional, "imprintada" quando a criança está aprendendo as
"políticas familiares" pela primeira vez (jogos de hierarquia mamífera).
Tipicamente, a vítima é confrontada com todas as situações problemáticas
possíveis de serem resolvidos nas relações interpessoais com algum jogo
emocional estereotipado, por exemplo: um mau humor prolongado, uma explosão
emocional, "depressões", uma tendência ao alcoolismo, ameaças de suicídio,
gritos, berros, quebrar coisas na tradicional coreografia de um primata
frustado, e muito mais. Um ou outro desses reflexos emocionais robóticos
podem ser reconhecidos em cerca de 99% da população.

A estupidez emocional pode ser aliviada pela respiração iogue, conhecida
como "pranayama" ou pelas técnicas de Gurdjieff de estabelecimento de um
(auto)"Observador" que monitora os reflexos emocionais, isto é: os torna
"conscientes" ao invés de "mecânicos". As técnicas de "pranayama" produzem
resultados mais rápidos, enquanto que as técnicas Gurjeffianas produzem
resultados mais permanentes.

A Estupidez Semântica, "imprintada" quando a criança mais velha começa a
lidar com palavras e (artefatos abstratos produzidos pelos centros cerebrais
superiores depois que a linhagem se separou da espécie dos primatas). A
forma mais persistente de estupidez semântica consiste na confusão do mapa
de realidade local (tribal) com o todo da Realidade. O Dogmatismo, sistemas
ideológicos rígidos e mapas bizarros da realidade (esquizofrenias
ideacionais) também abundam. A cegueira simbólica, que vai desde o
analfabetismo até ao analfabetismo matemático ou artístico, é também muito
comum e frequentemente encontrada naqueles que são extremamente habilidosos
em algum campo estreito de símbolos (especialista), por exemplo: o pintor
que não sabe sequer o que é uma equação quadrática ou o cientista que não
consegue ou não se motiva a ler poesia, etc.

A Estupidez Semântica pode ser aliviada por uma dieta rica em lecitina e
proteína, por cursos de atualização e reciclagem em leituras, e no método
científico e pela prática da Semântica Geral.

A Estupidez Sócio-sexual, imprintada quando o DNA desencadeia a mutação em
direção à puberdade. Ela consiste na repetição robótica de um papel sexual
estereotipado, geralmente acompanhado por uma firme e profundamente
enraizada convicção de que todos os outros demais papéis sexuais são
anormais ("loucos" ou "maus").

O único alívio para a estupidez sócio-sexual que temos atualmente à
disposição são as várias formas de psicoterapia, sendo que as formas de
psicoterapia de grupo ou dos Encontros são as mais eficientes.

O alívio ou a cura total destes quatro tipos de estupidez produziria seres
humanos que se aproximariam da definição idealística dada por Robert
Heinlein no seu "Tempo Suficiente para o Amor":

" Um ser humano deve ser capaz de trocar uma fralda, de planejar uma
invasão, esquartejar um porco, projetar um edifício, manobrar um navio,
escrever um soneto, equilibrar orçamentos, construir um muro, reduzir uma
fratura, confortar os agonizantes, cumprir ordens, dar ordens, cooperar,
agir sozinho, resolver equações, analisar um novo problema, revolver
estrume, programar um computador, preparar uma refeição saborosa, lutar
eficientemente e morrer galantemente".

Grosseiramente falando, se você puder desempenhar 14 dos 21 programas de
Heinlein, você liberou 2/3 da sua inteligência potencial e, portanto é 2/3
de um ser humano. Se você pode apenas lidar com sete delas, você é apenas
1/3 do ser humano. Resultados acima de 14 significam que você provalvemente
é um gênio e certamente sabe disso, enquanto que resultados abaixo de 7
significam que você provavelmente é um imbecil e que certamente não sabe
disso (isto é, que você está convencido de que não é um imbecil, que o
mundo na realidade é um lugar terrível para se viver e a sua inabilidade em
lidar com a realidade é fruto mais da malignidade do mundo do que devido .
sua própria estupidez...).


Uma forma rápida de testar a inteligência, e que também indica a trajetória
do seu desenvolvimento, é:

"Se o mundo lhe parece estar cada vez maior e mais divertido a cada momento
que passa, então o seu quociente de inteligência está aumentando
sistematicamente";


"se o mundo lhe parece estar cada vez menor e cada vez mais ameaçador, a sua
estupidez está aumentando sistematicamente".

Pense no provérbio Sufi:


"Existe Conforto Na Estupidez"


Texto de ROBERT ANTON WILSON

"THE ILUMINATI PAPERS"

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