quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O MULLÁH E A LUA

 
 
É perfeitamente possível explorar as sinergias entre os ensinamentos do misterioso mestre caucasiano Georges Gurdjieff e os dos mestres sufis. Para aqueles que gostam de encontrar as associações ocultas debaixo da capa superficial das coisas, essa comparação lado á lado pode ajudar a por em relevo em um nível mais detalhado os aspectos de cada um desses sistemas. .


O MULLÁH E A LUA


Um dos crossovers mais óbvios entre Gurdjieff e os mestres sufis foi a fixação pela maestria iniciática do Mulláh Nasrudin. Cito a cifra do ensinamento sufi, tanto em suas conversações, assim como em seus escritos. Muitos seguidores de Gurdjieff desde então estudaram a via e sabedoria dos mulás de forma muito bem compactada. Os compiladores dos contos sempre advertiram aos seus leitores que o Mulláh não é o que parece, e que suas histórias podem ser absorvidas em muitos níveis.
Nasrudin entrou em uma casa de chá e anunciou: ''A Lua é mais útil que o sol''.. "¿Por qué?" perguntaram. "Devido ao fato de que de noite necessitamos mais da luz''
Isto é imediatamente divertido y os não-sufis também podem desfrutar do humor do Mulláh, fora qualquer outra consideração.. Claramente, no nível mais simples, o mulá se faz passar por idiota, e demonstra a ignorância de um idiota sobre a fonte de luz da lua. Mas mais informação entra em cena, assim como a história se declara abertamente, e alguma indicação de outras profundidades se agita no fundo da mente. Nasrudin dá a explicação de que a luz se necessita mais na noite, depois de afirmar que esta luz da lua é mais importante que a do sol ou dia. Os interlocutores, desconfiados, poderiam se perguntar: ''..de que noite e de que luz fala o Mulláh?''.

E aqui reside a chave desta história. Um dos principais símbolos do Islam é a lua crescente e, de fato, o Profeta (a paz seja com ele) se associa com a lua. Isto irrita aos alunos de Gurdjieff, é claro, devido á posição que a LUA funesta ocupa no RAIO DA CRIAÇÃO e seu papel como planeta ainda por nascer e com voracidade vampírica para drenar a energia psíquica dos homens e de toda a vida orgância na terra.... símbolos... No entanto, no contexto súfi, a lua é um símbolo positivo, já que ocupa um lugar importante na alegoria extensa da luz, que se utiliza amplamente em seus ensinamentos.
Mestres súfis em todo o mundo dizem a seus seguidores para não expressarem suas emoções negativas e terem controle sobre o que chamam de imaginação negativa através do exercício da auto-observação: este exercício, para se livrar da ira, da cobiça, dos zelos e do orgulho, suavizará o coração e o dotará de uma superfície reflexa, como um espelho polido. Um espelho limpo e polido pode refletir a luz. Do mesmo modo, os alunos de Gurdjieff são advertidos á não expressarem suas emoções negativas, e lhes é ensinado que o plexo solar do homem se rompeu em uma era primordial e é preciso recompacta-lo.
As referências á percepção dos diferentes tipos de cultivos energéticos desponta em muitos lugares dentro da tradição sufi. Nada menos que um comentarista da Junta de Andaluzia do século XIV e um grande poeta místico, o sufi Ibn Arabi, se baseava no Corão para descrever os jardins do paraíso, e explicou como os diferentes elementos se movem entre eles. No capítulo do Misericordioso o Corão menciona quatro jardins.

A partir da peça superior, o Jardim da Essência representa o mundo não criado e o lugar dos arquétipos eternos. Os três jardins mais baixos constituem o mundo criado. O Jardim do Espírito é o paraíso celestial, e se divide nos sete selos, que o Profeta (a paz seja com ele) atravessou durante sua ascensão espiritual. Mais abaixo dos jardins, do coração e da alma, são os reinos da perfeição possível, o homem verdadeiro, que se relacionam com seus paraísos por dentro, e são senhas em sua viagem no Sendeiro de Retorno, a TARIQA. Cada jardim tem um aspecto externo e interno e em último sentido reflete sucessivamente faculdades superiores do homem. O jardim da alma se mostra na noite, da mesma forma que nossas almas se perdem na obscuridade ao abandonar o estado de presença que nos conecta ao instante. Os jardins estão conectados entre si através da circulação da água e da luz, e o seguinte quadro mostra as fontes e rios do paraíso em seus diferentes níveis.
A fonte do Supremo no Jardim da Essência não está diretamente conectado com o fluxo de água no jardim imediatamente sob ela, e no entanto é, em ultima instancia, a fonte das fontes do Espírito. O fluxo de água entre os tres jardins inferiores representa os diferentes níveis de inteligência em seus papéis de percepção das verdades espirituais. A Fonte da Imortalidade é a razão ou intelecto puro (Guenón: http://portalpineal.blogspot.com.br/2013/08/intelecto-puro.html) e a Fonte da Alma representa a intuição e aspiração espiritual. O verdadeiro aspirante á iniciação utiliza das faculdades no jardim da alma para encontrar o caminho de regresso á Fonte. Ordinariamente, o homem comum, não regenerado na Fonte, perde constantemente sua energia psíquica ao derramar-se (ao derramar e escravizar sua atenção) á superficialidade das coisas externas e não pensa em sua natureza simbólica última, que é a única coisa que pode fortalece-lo neste contexto.
A palavra árabe ''ayn'' pode referir-se tanto a uma FONTE como a um OLHO. Segundo o comentarista, no Jardim do Coração a fonte da imortlidade, o Olho da Certeza e a Lua são mais ou menos equivalentes ou dizem respeito a uma mesma aquisição de faculdades extra-sensoriais. O ''olho da certeza'', também chamado o OLHO DA PERCEPÇÃO UNIVERSAL, pode ver os raios de luz que viajam internamente hasta formar um perfeito ponto de projeção solar interno, que simboliza o Sendereiro de Retorno dos Mestres. Por tanto, um autentico mestre possuído pelo olho da certeza conhece esse caminho como uma questão de percepção direta e por isso pode conduzir outros pelo mesmo caminho de aquisição.
O jardim da alma, o olho da alma ou o Olho de Percepções Particulares, oferece uma visão menos completa, mas mesmo assim preliminar da Verdade. A luz da lua refletida neste jardim destaca os significados ocultos dentro dos objetos físicos da percepção externa. Representa a faculdade pela qual podem ganhar um pouco de brilho da natureza simbólica do mundo tal como é percebida pelos cinco sentidos. Este ''quarto sentido'' anagógico (que diz respeito ao 'mergulho dentro de si-mesmo') apoia a petição de Gurdjieff para o despertar da consciência: sendo qualquer outra perspectiva ilusória e debilitante (assim como frustrante e mortífera). A humanidade se encontra escravizada pela imagem incompleta do mundo apresentada pelos nossos sentidos através da maquinaria interna da personalidade mundana em seu estado de consciencia adormecida e involução.
De modo que agora o argumento do Mulláh Nasrudin de que a lua é mais útil que o sol não parece mais tão idiota assim. Para o Homem Verdadeiro, movendo-se no Sendeiro da Consciencia Desperta, a luz direta do sol poderia resultar em cegueira. A alegoria platônica da caverna ilustra o mesmo problema técnico para o buscador de causas, na qual se deslumbrou o habitante da caverna com a luz direta do sol quando este é levado ao ar livre, acostumado que estava com as escuras sombras dos infernos infra-conscientes: as ''aparências''.
Da mesma forma que no mundo físico, o fluxo de luz nos jardins do Paraíso mostra a Lua baixar a intensidade dos raios solares. Os grandes mensageiros são enviados á Terra como mediadores para fazer as idéias esotéricas acessíveis á um grande número de pessoas. Assim, se fala em parábolas como Jesus Cristo e aos que quiserem se aprofundar no estudo da própria consciência lhes são mostrados os mistérios diretamente.

Post Scriptum
 
Gurdjieff afirma que há dois centros superiores do homem (o emocional e intelectual superiores maiores), que são completamente funcionais em si mesmos, mas completamente distanciados do nosso estado ordinário de consciência, que é costantemente drenado pela malha de patifarias do mundo que distorce a capacidade de compreensão do ser humano até torna-lo completamente incapaz de entrever ou compreender qualquer vestígio de uma Verdade mais profunda em sua vida. Estes centros operam com energias psíquicas tão intensas que os centro menores se ''queimam'' ao longo do processo de despertar da consciencia, usados como combustíveis voláteis. É evidente que Platão, os Sufis e Gurdjieff se referiam ao delicado problema de como levar a luz da consciência desperta á humanidade sem cegar, confundir ou enlouquecer as pessoas com este processo.

Post Scriptum
 
''Todos falam de liberdade, mas quando conhecem uma pessoa livre ficam amedrontados''.

Post Scriptum
 
''As coisas se apresentam muito feias quando não se tem a capacidade de entende-las''

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