segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nuestro predecible reflejo

 
Saludos hermanos(a), me habeis hecho recordar esto de EL DESCENSO DEL ESPIRITU
en el libro EL CONOCIMIENTO SILENCIOSO:

Cortar nuestras cadenas es algo maravilloso,
pero también algo muy fastidioso porque nadie quiere ser libre.
La sensación de deslizarme por un túnel se prolongó un momento más y luego todo quedó en claro. Me eché a reír. Extrañas intuiciones acumuladas dentro de mí estaban estallando en carcajadas, Don Juan parecía leerme la mente como si fuera un libro abierto.
-Qué sensación más extraña, ¿no?: el darse cuenta de que todo cuanto pensamos, todo cuanto decimos, depende de la posición del punto de encaje -comentó.
Y eso era, exactamente, lo que yo había estado pensando y lo que provocaba mi risa.
-Sé que en este, momento tu punto de encaje se ha movido -prosiguió- y que has comprendido el secreto de nuestras cadenas. Has comprendido que nos aprisionan; que nos mantienen amarrados a ese reflejo nuestro a fin de defendernos de los ataques de lo desconocido.
Yo estaba en uno de esos extraordinarios momentos en los cuales todo lo relativo al mundo de los brujos me era claro como el cristal. Lo comprendía todo.
-Una vez que nuestras cadenas están rotas -continuó don Juan-, ya no estamos atados a las preocupaciones del mundo cotidiano. Aún estamos en el mundo diario, pero ya no pertenecemos a él. Para pertenecer a él debemos compartir las preocupaciones y los intereses de la gente, y sin cadenas no podemos.
Don Juan dijo que el nagual Elías le había explicado que la característica de la gente normal es que compartimos una daga metafórica: la preocupación con nuestro reflejo. Con esa daga nos cortamos y sangramos. La tarea de las cadenas de nuestro reflejo es darnos la idea de que todos sangramos juntos, de que compartimos algo maravilloso: nuestra humanidad. Pero si examináramos lo que nos pasa, descubriríamos que estamos sangrando a solas, que no compartimos nada, y que todo lo que hacemos es jugar con una obra del hombre: nuestro predecible reflejo.


C.CASTANEDA

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

HEYOKAH


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Vamos recapitular: se um ser humano começa a aplicar os princípios da arte da espreita tolteca, ele ou ela se torna uma caçadora ou um caçador, pois faz o rastreamento daquilo que caça. Nesse sentido, tudo é caça, e tudo pode ser espreitado. Mas aí ainda se aplicam os princípios a seres e coisas, por exemplo, um animal, uma pessoa que se quer cooptar, uma namorada, um cliente, um ganho etc.
Quando o ser humano aplica os princípios da espreita a si mesmo, e começa a se rastrear, as suas fraquezas, os seus hábitos, etc, ele não tem mais um objetivo concreto, então ele está pronto para caçar o ''poder pessoal''. O homem e a mulher que caçam o ''poder pessoal'' são um guerreiro e uma guerreira.
Uma forma exuberante e supereficaz de espreitar o próprio ego (que é a mais difícil e importante das tarefas do rastreamento de energia) está na figura do Heyokah, como é chamado nas tribos das planícies americanas, e que os Hopis e Pueblos chamam de Koshari.
O Heyokah é um palhaço que, diferentemente dos outros, possui grande sabedoria e leva seus ensinamentos ao Povo através do riso e dos paradoxos, colocando-se a si mesmo em situações embaraçosas e por vezes ridículas. Este Trickster Sagrado é antes de tudo um supremo ator que faz com que você pense por você mesmo e chegue às suas próprias conclusões, levando-o a questionar se aquilo que os outros dizem ou fazem é verdadeiramente correto. No momento em que as pessoas são levadas a pensar por conta própria, começam a colocar à prova as suas próprias convicções; aquelas crenças psico-sociais vacilantes, que pertencem ao passado e se apoiam em muletas, passam a ser testadas e questionadas.
A fama do Heyokah consiste justamente em transmitir suas lições fazendo com que os outros não se levem assim tão a sério. O riso passa a constituir a lição definitiva, pois consegue romper os bloqueios que estão minando o equilíbrio das pessoas. O Heyokah consegue ser bem-sucedido quando tudo é encarado com humor, e os laços com os velhos hábitos, que já não servem mais para nada, são rompidos. O Guia de Cura que acompanha o Heyokah é o Coiote. O Heyokah é um grande conhecedor da Magia do Coiote, e sabe utilizar o lado brincalhão da natureza deste animal para conduzir os outros a um estado mais iluminado de consciência. Ocasionalmente, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro, e a Energia do Coiote pode vir a atingir o Heyokah em algum ponto fraco. Quando isto acontece, um verdadeiro Heyokah aceita o revés com humor, e acha graça na virada da situação, terminando por aprender a sua própria lição, juntamente com a lição que foi dada aos outros.
O Povo Nativo reconhecia a importância de saber levar a vida de modo um pouco menos sério e aprender a rir de si mesmo. Em outros tempos não se considerava que o fato de ser alvo das brincadeiras do Heyokah deixava a pessoa "de cara no chão". Na verdade, era até considerado uma honra ser escolhido como alvo de uma brincadeira que transmitisse uma valiosa lição espiritual. Cada membro da Tribo era parte essencial do Todo; por isto muitas vezes a brincadeira passava ensinamentos para outros indivíduos daquele mesmo grupo. Todos aqueles que haviam participado da brincadeira, ou que falavam dela, poderiam, mais tarde, relacionar aquela lição às suas próprias situações pessoais e crescer através deste processo.
O heyokah zomba, debocha, ilude, confunde, faz tudo ao contrário, se comporta como um louco, um idiota ou um supremo debochado, desmanchando todas as ilusões de certeza do dia-a-dia e dos costumes. É mestre em fazer o ponto de encaixe da percepção se deslocar de uma maneira quase imperceptível, mas profunda, e modificar o sentido de todas as situações com seu humor. É mestre em mostrar que todas as certezas não passam de ilusão, e que o inesperado é o próprio recheio do bombom de todos os instantes.
Há duas faces para a eficácia da tática heyoka, e do humor em geral, principalmente no campo da sociedade contemporânea, que barateia o humor e infantiliza as pessoas. O comportamento inusual e humorístico move sim suavemente o ponto de encaixe da percepção, mas, por outro lado, a pessoa pensa que aquilo é só bobagem, e tributa o movimento a um certo desconforto com essa tolice. E estamos na época da vigência da tolice e da besteira, que caem como uma gota no oceano da mídia e dos comportamentos grosseiros usuais.
Caçar o poder pessoal, rastrear a própria energia, espreitar as relações de força e de poder, lutar para ver a energia diretamente, são o campo de caça do guerreiro, que o faz em qualquer situação contingente, em qualquer época, lugar, estado etc. Aí ele está aplicando os princípios da ''espreita'' e da ''loucura controlada'', pois não se identifica mais consigo mesmo (seu ego, alheio a sua força) ou com objetivos mundanos (determinados arbitrariamente pela socialização).
A consequência aí é que o homem e a mulher podem começar a intuir a realidade de uma forma direta, e "ver", quer dizer, perceber, a força por trás de tudo, a energia que emana de todas as coisas e que as liga numa rede cósmica.
Esse é o vidente.
Se o vidente utiliza sua capacidade de caçador, de guerreiro, de espreitador e de vidente para a busca do outro lado da moeda do ser, o desconhecido, o "espiritual", o espírito, o nagual, o intento, então ele e ela estão lutando para ser um homem e uma mulher de conhecimento.
Ao começar a manejar o intento, ao aprender a se ligar na rede que vê e se faz uma com ele e com ela, ele e ela então se tornam homem e mulher de conhecimento, que sabem usar o intento.
O primeiro passo de todas as técnicas é adotar a morte como conselheira. Tal feito é o não-fazer do homem social que nós somos, que pensa que está externamente nos seus dilemas menores, quando, na verdade, assiste e participa de um momento único de força e beleza do mundo.
- É burrice sua escarnecer dos mistérios do mundo, simplesmente porque conhece o ''fazer'' do escárnio - disse ele, com uma cara séria.
Falei que não estava escarnecendo de nada ou ninguém, mas que era mais nervoso e incompetente do que ele pensava.
- Sempre fui assim - disse eu. - E, no entanto, quero modificar-me e não sei como. Sou muito inadequado.
- Já sei que você acha que não presta - disse ele. - Isso é seu fazer. Agora, para afetar esse fazer vou recomendar que você aprenda outro fazer. De hoje em diante, e por um período de oito dias, quero que você minta para si mesmo. Em vez de se dizer a verdade, que você é podre, feio e inadequado, você se dirá que é o oposto, sabendo que está mentindo e que é completamente sem esperança.
- Mas qual a finalidade de mentir assim, Dom Juan?
- Pode prendê-lo a outro fazer e então você pode compreender que ambos os fazeres são mentiras, irreais, e que prender-se a qualquer deles é uma perda de tempo, pois a única coisa que é real é o ser em você, que vai morrer. Chegar a esse ser é o não fazer do eu.
Antes de falar sobre o não fazer, vamos comentar um pouco mais a respeito do ponto de encaixe da percepção.
O conhecido são as emanações dentro do campo de consciencia que o ponto de encaixe está focando, que ilumina e ressalta, fazendo com que nossa autoconsciência se faça dessas fibras.
O desconhecido são as emanações da Águia que estão no nosso campo de consciencia, ou não, e que não focalizamos com nosso ponto de encaixe. A posição pré-estabelecida pela sociedade é chamada tonal dos tempos, todos são "normais".
A posição do ponto de encaixe que nos foi ensinada e à qual estamos acostumados é o nosso tonal pessoal. A primeira atenção.
A segunda atenção é deslocar o ponto de encaixe para essas posições do desconhecido, por algum tempo. Fazemos isso toda noite, no sonho. Os homens de conhecimento desenvolvem a capacidade de provocar esses deslocamentos á vontade, de forma espontânea e genuína, aprendem a utilizá-los e sabem ir e voltar com toda segurança e sem nenhum prejuízo mental ou físico. Pelo contrário, geralmente voltam fortalecidos de suas aventuras. Sobretudo fisicamente.
Deslocar o ponto além das emanações da Águia é o incognoscível.
A terceira atenção é o deslocamento para dentro da Águia.
As atenções também não são algo dado, não são um lugar ou lugares.
As atenções são sintonizações do ser, no caso, o ser humano, qualquer ser humano, sabe que consegue sintonizar de duas formas, a normal e a alterada: duas atenções. A terceira, a quarta e a quinta atenções são também realizações sofisticadas do ser humano. Estas implicam na manutenção da consciência e sua expansão além dos limites espácio-temporais humanoides.
Numa comparação porca: é como um rádio que pega AM ou FM; mas um rádio que pudesse se reprogramar, se refabricar, para atingir outras faixas eletromagnéticas.
Inclusive, pode-se pensar numa sexta atenção e ainda mais.
O mestre do não-fazer e da espreita, o palhaço, o temível e ao mesmo tempo histriônico Don Genaro, pode ter feito a maior revelação de todas (ou a segunda maior, depois daquela em que Don Juan diz a Carlos que ele está cercado pela eternidade e que pode usar essa eternidade se quiser).
Foi quando Don Juan apresentou Carlos a Genaro (antes o tinha visto rapidamente na praça, mas não conversaram), na sua casa no México central. Genaro debocha de Carlos, de ele tomar notas, senta-se sobre a cabeça, infla as narinas, fazendo a caricatura de nosso herói. Depois ridiculariza Don Juan, imitando seus trejeitos de se alongar e estalar as costas (quando ele então estaria fazendo passes mágicos), e o nagual volta bem a tempo de ver sua paródia e ri.
No outro dia, ele "ensina" a Carlos, explicação que será desmoralizada por Don Juan no momento seguinte, o qual dirá "Falar não é a predileção de Genaro". Claro, tudo isso é espreita nagualista.
- É verdade, você sabe disso Juan.
Depois afirmou que um mestre autentico podia levar seu discípulo com ele e chegar a atravessar as dez camadas do outro mundo. O mestre, desde que fosse uma águia, podia começar da camada mais inferior e depois passar por cada mundo sucessivo até chegar ao topo.
O que Don Genero estava realmente revelando? Dez atenções, através das quais o mestre pode levar seu aprendiz!
O não fazer é a suave e imperceptível prática de realizar atos incomuns, agir conforme não se espera de si mesmo, surpreender e chocar a si mesmo como tática para despertar a atenção, cultivar e cativar outras formas de estar, posições e atitudes, como uma espreita de si mesmo.
A busca de recompensas é o que mais energia nos faz perder. Você só deve fazer aquilo que o intento indica. A importância pessoal é implacável, ela nos rastreia e caça ao longo da vida, pois ela se alimenta de nossa energia psíquica. O nosso ego não é nosso. Mais precisamente: ele é um bicho, um inorgânico. Voltaremos a este ponto mais adiante. Para encontrar a liberdade total, a pessoa deve renunciar inclusive ao desejo de ser livre, à escravidão de qualquer desejo. Não se trata de buscar a liberdade por medo de morrer. A importância pessoal adora as recompensas porque ela coroa nosso desperdício de energia com a autoreflexão, nossa amante e homicida. E assim trunca o livre fluxo da energia através da pessoa. O que sempre acaba produzindo alguma doença letal com o tempo. Como o câncer.
Não vás demasiado depressa. Há que aperfeiçoar o tonal, antes de se aventurar no nagual.
Essa prática produz um suave e duradouro movimento do ponto de encaixe, e serve como forma de torná-lo mais "flexível", mais "movível".
Voltando a algo que falamos a muitas páginas e há muitos momentos atrás, o feiticeiro abandona por completo a posição de refém entre a cruz e a espada da mentira e da verdade. Isso é o não-fazer do ser e estar.
- Tudo isso é verdade, Dom Juan?
- Dizer que sim ou que não seria fazer. Mas como você está aprendendo a não fazer, devo dizer-lhe que realmente não tem importância se tudo isso é verdade ou não. É aqui que o guerreiro leva vantagem sobre o homem comum. O homem comum se importa em saber se as coisas são verdadeiras ou falsas, mas um guerreiro não. Um homem comum procede de maneira específica com as coisas que ele sabe serem verdade e de maneira diversa com o que sabe não ser verdade. Se se supõe que as coisas são verdadeiras, ele age e acredita no que faz. Mas, se as coisas são supostamente falsas, ele não quer agir, ou não crê no que faz. Um guerreiro, ao contrário, age em ambos os casos. Se se supõe que as coisas são verdadeiras, ele age a fim de estar fazendo. Se se supõe que as coisas são falsas, ele ainda assim age, a fim de não fazer. Entende o que digo?
- Não. Não estou entendendo nada - respondi.
Todas as técnicas estão relacionadas, como uma figura geométrica, todos os pontos se ligam de todas as formas, como num círculo ou esfera.
Combinando as técnicas sugeridas por Carlos e por Taisha para obter o silêncio interno e mover o ponto de encaixe da percepção, temos:

Arte Marcial

Recapitulação
Não-fazeres
Pequenos tiranos
Contemplação
Silêncio interior
Impecabilidade
Ensonho
Espreita
Centro de decisões
O centro de decisões pode ser o que exige mais energia no final das contas, pois signfica se livrar do ritmo da energia inorgânica e estabelecer a nossa própria vontade, vontade de potência, como diria Nietzsche, que é o portal de acesso ao intento.
Cada uma se liga com todas as outras, se potencializam, são um circuito que é percorrido o tempo todo, sem parar, de forma cada vez mais potente, no aprendizado. Tudo leva ao silêncio interior, que leva ao movimento do ponto de encaixe da percepção.
"Tudo o que chega a nossos sentidos é um sinal. Só é necessário ter a velocidade para silenciar a mente e captar a mensagem. Por meio dessas indicações, o espírito fala conosco com uma voz muito clara".
"Os bruxos da velha guarda eram propensos ao misticismo; eles usavam a astrologia, oráculos e conjuros, varas e amuletos mágicos, qualquer coisa que enganasse a vigilância da razão virava um ''objeto de poder''.
"Mas, para os novos videntes, esses recursos são um desperdício e ocultam um perigo: podem desviar a atenção da pessoa que, em vez de se focalizar em seu vínculo imediato com o espírito, termina por se acostumar ao símbolo. Os guerreiros atuais preferem métodos menos ostentosos. Don Juan recomendava diretamente o silêncio interior. /.../
"O silêncio é a passagem entre os mundos. Ao calar nossa mente, emergem aspectos incríveis de nosso ser. A partir desse momento, a pessoa se torna um veículo do intento e todos os seus atos começam a exsudar poder.
"Durante minha aprendizagem, meu benfeitor me mostrou prodígios de percepção inexplicáveis que me espantavam, mas, ao mesmo tempo, despertavam minha ambição. Eu também queria ser poderoso como ele! Frequentemente lhe perguntava como eu poderia aprender seus truques, mas ele colocava um dedo sobre seus lábios e ficava me vendo. Foi apenas muitos anos mais tarde que eu pude apreciar completamente a magnífica lição de sua resposta. A chave dos bruxos é o silêncio".

Os não fazeres têm como escopo principal o intento, assim como todas as técnicas. O objetivo se escalona em várias metas, na ordem: silêncio interno total, mover o ponto de encaixe da percepção, perder a auto-importancia, apagar a história pessoal , encontrar o aliado, dominar o intento.

RETORNO DO MITO

 
Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes*
Solange Ramos de Andrade**
O pensamento simbólico é considerado pelo historiador romeno Mircea Eliade em sua obra Imagens e Símbolos como consubstancial ao ser humano; precedendo até mesmo a linguagem e a razão discursiva.
(...)
. Assim sendo, temos que cada ser histórico traz consigo uma parte da humanidade anterior a História, logo a parte a-histórica de todo ser humano não se perde, mas traz a marca da lembrança de uma existência mais rica e completa. Os símbolos jamais desaparecem da "atualidade" psíquica, podendo mudar de aspecto, mas com a função permanecendo a mesma. (ELIADE, 1991)

Mesmo diante da dessacralização do homem moderno (que alterou o conteúdo de sua vida espiritual), não se rompeu com as matrizes da sua imaginação e com as questões mitológicas, assim sendo, o interesse pelas imagens e símbolos não diminuíram, pois esses nos oferecem um possível ponto de partida para a renovação espiritual do homem moderno. A partir disso, Eliade fala da "redescoberta" do simbolismo, citando a psicanálise, a superação do "cientismo" da filosofia, o renascimento do interesse religioso pós 1°guerra e as múltiplas experiências poéticas, como fatores que contribuíram para tal retorno da atenção do público sobre o símbolo como um modo autônomo de conhecimento. (ELIADE,1991).

Mircea Eliade ressalta, entretanto, que essa retomada aos diversos simbolismos não é uma descoberta inédita do mundo moderno, tendo em vista que o símbolo enquanto instrumento de conhecimento era uma orientação presente na Europa até o século XVIII, além de se fazer presente em culturas extra-européias, mesmo naquelas consideradas arcaicas e primitivas. O autor destaca que a invasão do simbolismo na Europa Ocidental coincidiu com o despertar da Ásia no horizonte da História e considera este fato uma "feliz conjunção temporal" na medida em que a Europa redescobre os símbolos em um momento no qual ela não é a única a "fazer história" e a cultura européia passa a contar com outros valores e vias de conhecimento que não apenas as suas. Assim sendo, as descobertas relacionadas ao irracional, ao inconsciente e ao simbolismo, serviram indiretamente ao Ocidente; preparando-o para uma compreensão mais profunda e para um diálogo com povos não-europeus. (ELIADE,1991).

Por fim, vemos que o símbolo, o mito, a imagem podem ser camuflados, degradados, porém jamais extirpados, tendo sobrevivido até os dias de hoje. E que para um estudo dos simbolismos possa ser útil, deve ser feito em cooperação de várias áreas do conhecimento, dentre as quais; Literatura, Psicologia, Antropologia filosófica, História das religiões, Etnologia, entre outros. (ELIADE, 1991).

Moby Dick y la dialéctica de la iniciación

 

Los criticos literarios estadounidenses tambien han ido bastante lejos en esa dirección. Hasta se podria afirmar que una buena cantidad de d ellos interpretan las criaciones literarias desde una perspectiva iniciática. El mito, el ritual, las crises, la iniciación, los heróes, la regeneracion,etcetera, ya han pasado a pertenecer a la terminlogia basica de la exegeses literaria. Hay una respetable cantidad de libros y articulos que analisan los textos iniciaticos escondidos en alguns poemas ,cuentos y novelas. Se los hani dentificado no solamente en Moby Dick de Melville, sino tambien en Wladen de Thoreau, en las novelas de Cooper y Henry James, en Huckleberry Fin de Mark Twan y en The Bear de WilliamFaulkner .................En un libro de 1963 Radical Inocence su autor, Ihab Hassan, dedica un capitulo entero a la ''dialectica'' de la iniciación, usando como ejemplos obras de Sherwood Anderson , Scott Fitzgerald , Thomas Wolfe y William Faulkner.
Mircea Eliade
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librosdearena.es/Biblioteca_pdf/Melville_Herman_Moby%20Dick_Ed%20perdidas_ilustraciones%20Fernando%20Gallego_jul2010.pdf
 
XXVI.— La toldilla

En escena, Ahab; después, todos.

PASADO NO MUCHO TIEMPO desde el asunto de la pipa, una mañana poco después del desayuno, Ahab, como de costumbre, subió a cubierta por el tambucho de la cabina. La mayor parte de los capitanes de marina suelen pasear por allí a esa hora, igual que los hidalgos rurales, después de desayunar, dan unas vueltas por el jardín.

Pronto se oyó su firme paso de marfil, yendo y viniendo en sus acostumbradas rondas, por tablas tan familiares para su pisada que estaban todas ellas marcadas, como piedras geológicas, por la señal peculiar de sus andares. Y también, si se miraba atentamente aquella surcada y marcada frente, se veían, igualmente huellas extrañas, las huellas de su único pensamiento, sin dormir y siempre caminando.
Pero en la ocasión de que hablamos, esas marcas parecían más profundas, del mismo modo que su nervioso paso dejaba aquella mañana una huella más profunda. Y tan lleno de su pensamiento estaba Ahab, que a cada monótona vuelta que daba, una vez en el palo mayor y otra vez en la bitácora, casi se podía ver aquel pensamiento dando la vuelta en él según andaba, y tan completamente poseyéndole, desde luego, que parecía todo él la forma interior de su movimiento externo. —¿Te has fijado en él, Flask? —susurró Stubb—, el pollo que lleva dentro golpea el cascarón. Pronto va a salir.

Iban pasando las horas; Ahab se encerró entonces en la cabina, y pronto, volvió a pasear por la cubierta, con el mismo intenso fanatismo de designio en su aspecto. Se acercaba el caer del día. De repente, él se detuvo junto a las amuradas, e insertando su pierna de hueso en el agujero taladrado allí, y agarrando con una mano un obenque, ordenó a Starbuck que mandase a todos a popa. —¡Capitán! —dijo el oficial, asombrado ante una orden que a bordo de un barco se da muy raramente o nunca, salvo en algún caso de excepción. —Manda a todos a popa —repitió Ahab—: ¡vigías, aquí, abajo! Cuando estuvo reunida la entera tripulación del barco, mirándole con caras curiosas y no libres de temor, pues su aspecto recordaba el horizonte a barlovento cuando se forma una tempestad, Ahab, después de lanzar una rápida ojeada por las amuradas, y luego disparar los ojos entre la tripulación, arrancó de su punto de apoyo, y, como si no hubiera junto a él ni un alma, continuó sus pesadas vueltas por la cubierta. Con la cabeza inclinada y el sombrero medio gacho siguió caminando, sin tener en cuenta el susurro de asombro entre la gente, hasta que Stubb cuchicheó prudentemente a Flask que Ahab les debía haber llamado allí con el propósito de que presenciaran una hazaña pedestre. Pero eso no duró mucho.

Deteniéndose con vehemencia, gritó:

—¿Qué hacéis cuando veis una ballena?
—¡Gritar señalándola! —fue la impulsiva respuesta de una veintena de voces juntas. —¡Muy bien! —grito Ahab, con acento de salvaje aprobación, al observar a qué cordial animación les había lanzado magnéticamente su inesperada pregunta.
—¿Y qué hacéis luego, marineros?
—¡Arriar los botes, y perseguirla!
—¿Y qué cantáis para remar, marineros?
—¡Una ballena muerta, o un bote desfondado!

A cada grito, el rostro del viejo se ponía más extrañamente alegre y con feroz aprobación; mientras que los marineros empezaban a mirarse con curiosidad, como asombrados de que fueran ellos mismos quienes se excitaran tanto ante preguntas al parecer tan sin ocasión.

Pero volvieron a estar del todo atentos cuando Ahab, esta vez girando en su agujero de pivote, elevando una mano hasta alcanzar un obenque, y agarrándolo de modo apretado y casi convulsivo, les dirigió así la palabra:

—Todos los vigías me habéis oído ya dar órdenes sobre una ballena blanca. ¡Mirad! ¿veis esta onza de oro española? — elevando al sol una ancha y brillante moneda—, es una pieza de dieciséis dólares, hombres. ¿La veis? Señor Starbuck, alcánceme esa mandarria. Mientras el oficial le daba el martillo, Ahab, sin hablar, restregaba lentamente la moneda de oro contra los faldones de la levita, como para aumentar su brillo, y, sin usar palabras, mientras tanto murmuraba por lo bajo para sí mismo, produciendo un sonido tan extrañamente ahogado e inarticulado que parecía el zumbido mecánico de las ruedas de su vitalidad dentro de él. Al recibir de Starbuck la mandarria, avanzó hacia el palo mayor con el martillo alzado en una mano, exhibiendo el oro en la otra, y exclamando con voz aguda:

—¡Quienquiera de vosotros que me señale una ballena de cabeza blanca de frente arrugada y mandíbula torcida; quienquiera de vosotros que me señale esa ballena de cabeza blanca, con tres agujeros perforados en la aleta de cola, a estribor; mirad, quienquiera de vosotros que me señale esa misma ballena blanca, obtendrá esta onza de oro, muchachos!

—¡Hurra, hurra! —gritaron los marineros, mientras, agitando los gorros encerados, saludaban el acto de clavar el oro al mástil.

—Es una ballena blanca, digo —continuó Ahab, dejando caer la mandarria—: una ballena blanca. Despellejaos los ojos buscándola, hombres; mirad bien si hay algo blanco en el agua, en cuanto veáis una burbuja, gritad. Durante todo este tiempo, Tashtego, Daggoo y Queequeg se habían quedado mirando con interés y sorpresa más atentos que los demás, y al oír mencionar la frente arrugada y la mandíbula torcida, se sobresaltaron como si cada uno de ellos, por separado, hubiera sido tocado por algún recuerdo concreto.

—Capitán Ahab —dijo Tashtego—, esa ballena blanca debe ser la misma que algunos llaman Moby Dick. —¿Moby Dick? —gritó Ahab—. Entonces, ¿conoces a la ballena blanca, Tash? —¿Abanica con la cola de un modo curioso, capitán, antes de zambullirse, capitán? —dijo reflexivamente el indio Gay-Head.

—¿Y tiene también un curioso chorro —dijo Daggoo—, con mucha copa, hasta para un cachalote, y muy vivo, capitán Ahab? —¿Y tiene uno, dos, tres..., ¡ah!, muchos hierros en la piel, capitán —gritó Queequeg, entrecortadamente—, todos retorcidos, como eso... —y vacilando en busca de una palabra, retorcía la mano dando vueltas como si descorchara una botella como eso...?

—¡Sacacorchos! —gritó Ahab—, sí, Queequeg, tiene encima los arpones torcidos y arrancados; sí, Daggoo, tiene un chorro muy grande, como toda una gavilla de trigo, y blanco como un montón de nuestra lana de Nantucket después del gran esquileo anual; sí, Tashtego, y abanica con la cola como un foque roto en una galerna. —¡Demonios y muerte!, hombres, es Moby Dick la que habéis visto; ¡Moby Dick, Moby Dick!

—Capitán Ahab —dijo Starbuck, que, con Stubb y Flask, había mirado hasta entonces a su superior con sorpresa creciente,pero al que por fin pareció que se le ocurría una idea que de algún modo explicaba todo el prodigio—. Capitán Ahab, he oído hablar de Moby Dick, pero ¿no fue Moby Dick la que le arrancó la pierna?

—¿Quién te lo ha dicho? —gritó Ahab, y luego, tras una pausa—: Sí, Starbuck; sí, queridos míos que me rodeáis; fue Moby Dick quien me desarboló; fue Moby Dick quien me puso en este muñón muerto en que ahora estoy. Sí, sí —gritó con un terrible sollozo, ruidoso y animal, como el de un alce herido en el corazón—: ¡Sí, sí!, ¡fue esa maldita ballena blanca la que me arrasó, la que me dejó hecho un pobre inútil amarrado para siempre jamás! —Luego, agitando los brazos, gritó con desmedidas imprecaciones—: ¡Sí, sí, y yo la perseguiré al otro lado del cabo de Buena Esperanza, y del cabo de Hornos, y del Maelstrom noruego, y de las llamas de la condenación, antes de dejarla escapar! Y para esto os habéis embarcado, hombres, para perseguir a esa ballena blanca por los dos lados de la costa, y por todos los lados de la tierra, hasta que eche un chorro de sangre negra y estire la aleta. ¿Qué decís, hombres, juntaréis las manos en esto? Creo que parecéis valientes. —¡Sí, sí! —gritaron los arponeros y marineros, acercándose a la carrera al excitado anciano—: ¡Ojo atento a la ballena blanca; un arpón afilado para Moby Dick! —Dios os bendiga —pareció medio sollozar y medio gritar—,Dios os bendiga, marineros. ¡Mayordomo!, ve a sacar la medida grande de grog. Pero ¿a qué viene esa cara larga, Starbuck; no quieres perseguir a la ballena blanca; no tienes humor de cazar a Moby Dick? —Tengo humor para su mandíbula torcida, y para las mandíbulas de la Muerte también, capitán Ahab, si viene por el camino del negocio que seguimos; pero he venido aquí a cazar ballenas, y no para la venganza de mi jefe. ¿Cuántos barriles le dará la venganza, aunque la consiga, capitán Ahab? No le producirá gran cosa en nuestro mercado de Nantucket. —¡El mercado de Nantucket! ¡Bah! Pero ven más acá, Starbuck, necesitas una capa un poco más profunda. Aunque el dinero haya de ser la medida, hombre, y los contables hayan calculado el globo terráqueo como su gran oficina de contabilidad, rodeándolo de guineas, una por cada tercio de pulgada, entonces, ¡déjame decirte que mi venganza obtendrá un gran premio aquí! —Se golpea el pecho —susurró Stubb—, ¿a qué viene eso? Me parece que suena como a muy grande, pero a hueco. —¡Venganza contra un animal estúpido —gritó Starbuck—, que le golpeó simplemente por su instinto más ciego! ¡Locura! Irritarse contra una cosa estúpida, capitán Ahab, parece algo blasfemo.

—Pero vuelve a oír otra vez, ¿y esa capa más profunda? Todos los objetos visibles, hombre, son solamente máscaras de cartón piedra. Pero en cada acontecimiento (en el acto vivo, en lo que se hace sin dudar) alguna cosa desconocida, pero que sigue razonando, hace salir las formas de sus rasgos por detrás de la máscara que no razona. Si el hombre ha de golpear, ¡que golpee a través de la máscara! ¿Cómo puede el prisionero llegar fuera sino perforando a través de la pared? Para mí, la ballena blanca es esa pared, que se me ha puesto delante. A veces pienso que no hay nada detrás. Pero basta. Me preocupa, me abruma, la veo con fuerza insultante, fortalecida por una malicia insondable. Esa cosa inescrutable es lo que odio más que nada, y tanto si la ballena blanca es agente, como si es principal, quiero desahogar en ella este odio. No me hables de blasfemia, hombre; golpearía al sol si me insultara. Pues si el sol podía hacerlo,yo podría hacer lo otro, puesto que siempre hay ahí una especiede juego limpio que preside celosamente todas las criaturas.

Pero ni siquiera ese juego limpio es mi dueño, hombre. ¿Quién está por encima de mí? La verdad no tiene confines. ¡Aparta tu mirada!, ¡una mirada pasmada es más intolerable que las ojeadas fulminantes del enemigo! Eso, eso; enrojeces y palideces; mi calor te ha hecho fundirte en llamarada de ira. Pero fíjate, Starbuck, lo que se dice acalorado, se desdice a sí mismo. Hay hombres cuyas palabras acaloradas son pequeñas indignidades. No quería irritarte. Déjalo estar. ¡Mira! ¡Observa esas mejillas salvajes de bronceado con manchas; pinturas vivas y con aliento, pintadas por el sol, esos leopardos paganos, esos seres vivos sin pensamiento ni piedad, y no busques ni des razones para la vida tórrida que llevan! ¡La tripulación, hombre, la tripulación! ¿No están, como un solo hombre, de acuerdo con Ahab, en este asunto de la ballena? ¡Mira a Stubb, cómo se ríe! ¡Mira a aquel chileno! Resopla de pensarlo. ¡Tu único retoño zarandeado no puede seguir en pie en medio del huracán general, Starbuck! ¿Y qué es? Calcúlalo. No es sino ayudar a herir una aleta; no es una hazaña prodigiosa para Starbuck. ¿Qué más es? Sólo en esta pobre caza, entonces, la mejor lanza de todo Nantucket no se va a quedar seguramente atrás, cuando todos los marineros han agarrado una piedra de afilar. ¡Ah! Ya te invade un impulso, ya lo veo: ¡la ola te levanta! ¡Habla, habla nada más! ¡Sí, sí, tu silencio, entonces, es lo que te manifiesta! (Aparte.) Algo, disparado de mis narices dilatadas, lo ha aspirado en sus pulmones. Starbuck ya es mío; ya no se me puede oponer sin rebelión.

—¡Dios me guarde, y nos guarde a todos! —murmuró en voz baja Starbuck. Pero, en su alegría por la hechizada aquiescencia tácita de su oficial, Ahab no escuchó su fatídica invocación, ni la sorda risa que subía de la bodega, ni el presagio de las vibraciones de los vientos en las jarcias, ni la hueca sacudida de las velas contra los palos, cuando por un momento se desplomaron, como sin ánimo. Pues de nuevo los ojos bajos de Starbuck se iluminaron con la terquedad de la vida; se extinguió la risa subterránea, los vientos siguieron soplando, las velas se hincharon y el barco cabeceó y avanzó como antes. ¡Ah, admoniciones y avisos! ¿Por qué no os quedáis cuando venís? Pero ¡oh sombras! Sois más bien predicciones que avisos; y no tanto predicciones desde fuera, cuanto verificaciones de lo que acontece en el interior. Pues habiendo pocas cosas exteriores capaces de sujetarnos, las necesidades interiores de nuestro ser nos siguen empujando. —¡La medida, la medida de grog! —gritó Ahab.

Recibido el rebosante recipiente, y volviéndose a los arponeros, les ordenó que sacasen las armas. Luego, alineándoles ante él, junto al cabrestante, con los arpones en la mano, mientras los tres oficiales se situaban a su lado con las lanzas, y el resto de la tripulación del barco formaba un círculo en torno al grupo, se quedó un rato escudriñando atento a todos los hombres de la tripulación. Pero aquellos ojos salvajes hacían frente a su mirada como los ojos sanguinolentos de los lobos de la pradera a los ojos de su guía, antes que éste, a la cabeza de todos, se precipite por el rastro del bisonte, aunque, ¡ay!, sólo para caer en el escondido acecho de los indios.

—¡Bebed y pasad! —gritó, entregando el pesado recipiente cargado al marinero más cercano—. Que ahora beba solamente la tripulación. ¡Dadle la vuelta, dadle la vuelta! Sorbos cortos, tragos largos; está caliente como la pezuña de Satanás. Eso, eso; da la vuelta muy bien. Se hace una espiral en vosotros; se bifurca; se bifurca en los ojos, que se disparan como las serpientes.

Bien hecho, casi vacío. Por allá vino, por acá vuelve. Dádmelo: ¡vaya hueco! Hombres, sois igual que los años; así se traga y desaparece la vida rebosante. ¡Mayordomo, vuelve a llenar!

»Atendedme ahora, mis valientes. Os he pasado revista a todos alrededor del cabrestante; vosotros, oficiales, flanqueadme con vuestras lanzas; vosotros, arponeros, poneos ahí con vuestros hierros, y vosotros, robustos marineros, hacedme un cerco, para que pueda de algún modo resucitar una noble costumbre de mis antepasados pescadores. Marineros, ya veréis que... ¡Ah, muchacho!, ¿ya has vuelto? Las monedas falsas no vuelven tan pronto. Dádmelo. Vaya, ahora este cacharro estaría otra vez rebosante, si no fueras el duende de san Vito... ¡Vete allá, peste! »¡Avanzad, oficiales! Cruzad vuestras lanzas extendidas ante mí.

¡Bien hecho! Dejadme tocar el eje.

Así diciendo, con el brazo extendido, agarró por su centro cruzado las tres lanzas, formando una estrella al mismo nivel, y al hacerlo, les dio un súbito tirón nervioso, mientras que lanzaba atentas ojeadas, pasando de Starbuck a Stubb, de Stubb a Flask. Parecía que, por alguna inexpresable volición interior, hubiera querido darles un calambre con la misma feroz emoción acumulada en la botella de Leyden de su propia vida magnética. Los tres oficiales cedieron ante su aspecto recio, firme y místico. Stubb y Flask apartaron la mirada a un lado; los honrados ojos de Starbuck cayeron hacia abajo.

—¡En vano! —gritó Ahab—, pero quizá está bien. Pues si los tres hubierais recibido por una sola vez el calambre con toda su fuerza, entonces mi propia cosa eléctrica quizá habría expirado saliendo de mí. Acaso, también, os habría hecho desplomaros muertos. Acaso no lo necesitáis. ¡Abajo las lanzas! Y ahora, oficiales, os nombro, a los tres, coperos de mis tres parientes paganos, esos tres honorables caballeros y nobles, mis valientes arponeros. ¿Desdeñáis la tarea? ¿Y qué, entonces, cuando el gran Papa lava los pies a los mendigos, usando la tiara como jofaina? Ah, mis dulces cardenales, vuestra misma condescendencia os plegará a esto. No os doy órdenes; vosotros lo queréis.

¡Cortad vuestras ligaduras y sacad las astas, oh, arponeros! Obedeciendo en silencio la orden, los tres arponeros quedaron sosteniendo ante él el hierro separado de los arpones, con las barbas para arriba.
—¡No me apuñaléis con ese agudo acero! ¡Dadles la vuelta, dadles la vuelta! ¿No conocéis el lado del mango? ¡Poned para arriba el hueco! Así, así; ahora, coperos, avanzad. ¡Tomad los hierros; sostenedlos mientras yo escancio! Y entonces, pasando lentamente de un oficial a otro, llenó hasta el borde el hueco de los hierros de arpón con las ardientes linfas del recipiente de peltre.

Ahora estáis ahí tres frente a tres. ¡Alabad estos cálices asesinos! Entregadlos, ahora que ya sois partes de una alianza indisoluble. ¡Ah, Starbuck, ya está todo hecho! El sol aguarda para ratificarlo posándose sobre ello. ¡Bebed, arponeros! Bebed y jurad, hombres que tripuláis la mortal proa de la lancha ballenera:

¡Muerte a Moby Dick! ¡Dios nos dé caza a todos si no damos caza a Moby Dick hasta matarla!

Los largos y afilados vasos de acero se elevaron; y con gritos y maldiciones contra la ballena blanca, la bebida fue simultáneamente engullida con un chirrido. Starbuck palideció, se volvió y se estremeció. Una vez más, la última vez, el recipiente de nuevo lleno dio la vuelta entre la frenética tripulación, y luego él les hizo una señal con la mano libre, y todos se dispersaron, mientras Ahab se retiraba a su cabina.

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terça-feira, 24 de setembro de 2013

DOMÍNIO DO INTENTO

 
Ana Maria Ramo y Affonso
 
Intentar é variar; variar a vibração, a velocidade . .enfocar a atenção., modular a perspectiva, transmutá-la, um ato xamânico (Castaneda EDJ: 36). Os seres humanos temos um ponto de cognição comum, o .punto de encaje. que se situa no mesmo lugar das esferas energéticas que somos. (EDJ: 37). Trata-se de um ponto de passagem e de tradução de campos energéticos, de enfiada de fibras, de planos. E também de uma coordenada, uma conexão individual, um ponto de encontro ou de perspectiva (o ponto de vista de que nos fala Viveiros de Castro(1996)), limite-tensão (ou tensão no limite): .punto de encaje., o .lugar onde ocorre a percepção., a .tradução da energia., a tradução da vibração do escuro mar da consciência, em .dados sensoriais que são interpretados como o mundo que nos rodeia., que nos circunda, que nos limita (Castaneda, 2000b: 35-36).



Os xamãs do México antigo descobriram a possibilidade de movimento volitivo do .punto de encaje., de des-locamento, de variação da posição que ocorria nos estados alterados de consciência ou de consciência intensificada (Castaneda EDJ: 38). Eles aprenderam a variar a perspectiva, mover o ponto de modo a permitir a passagem de outros campos, que forçosamente interpretamos como o mundo (ou a realidade); só que neste caso, um .verdadeiro mundo novo a perceber. (EDJ: 38), ou vários, pois é possível escolher uma dentre as várias .posições clave. que há .dentro da totalidade da esfera luminosa. (EDJ: 38). .Don Juan me aseguró que era un hecho energético que la posibilidad de viajar a cualquiera de esos mundos, o a todos ellos, es el legado de la humanidad. Dijo que esos mundos estaban allí para ser interrogados [.].

(Castaneda EDJ: 38).



O universo, .predatório ao máximo., pressiona os seres orgânicos e inorgânicos a variar, a .acrescentar sua consciência., de modo a .se fazer consciente de si mesmo., a afinar a vibração (Castaneda EDJ: 39). A consciência é, para estes guerreiros caçadores de poder, de velocidades e lentidões, de vibração, a .questão final. que anima seu modo de cognição, seu .mundo cognitivo. (EDJ: 39). O que requer descomprometer-se com a própria descrição, com a própria cultura, aliás, com .qualquer cultura dada. cujo papel seja.restringir a capacidade perceptiva de seus membros. (EDJ: 39); liberar o desejo de variar, de fluir, de sentir . liberar o desejo de sua funcionalidade, dos .ideais e pseudo-metas. dos homens comuns (EDJ: 39), do seu modo finito e imutável de ser no tempo e estar no espaço. Conhecer as múltiplas possibilidades perceptivas, experimentar possíveis. Há função, também, neste modo de percepção dos xamãs do México antigo: .fazer tudo o melhor que puder, e um pouco mais. (EDJ: 39), ser impecável. Ser funcional é afinar o ânimo, entrar em velocidades e lentidões que permitam .seguir o fluxo da energia. (EDJ: 39). A intenção impecável dos xamãs do México antigo da linhagem de don Juan é chegar ao .fato energético mais essencial para cada ser humano sobre a Terra.: a .viagem definitiva..



El viaje definitivo es la posibilidad de que la conciencia individual, acrecentada hasta el límite por la adherencia del individuo a la cognición de los chamanes, pudiera mantenerse más allá del punto en que el organismo es capaz de funcionar como una unidad cohesiva, es decir, más allá de la muerte. [.] llegar al nivel de la energía que fluye en el universo. Para los chamanes como don Juan Matus su búsqueda consistía en llegar a ser, al final, un ser inorgánico, es decir, energía consciente de si misma, actuando como una unidad cohesiva, pero sin un organismo. Llamaron a este aspecto de su cognición libertad total un estado en el que existe la consciencia, libre las imposiciones de la socialización y la sintaxis (Castaneda EDJ: 40).




O segredo está na atenção, na afinação com os modos de vibração que nos perpassam. E essa afinação se traduz no gesto, na ação, no modo de agenciamento de velocidades e lentidões. Cada gesto de um guerreiro pode ser sua última batalha sobre a terra (Castaneda RA: 248); são os gestos que lhe permitem deter-se e ocupar um lugar, um ponto de vista na sua caça ao poder, nas suas lutas. O conjunto destes movimentos, destas posturas, será a coreografia que interpretará nos últimos instantes de sua vida.




"Y así bailarás ante tu muerte, aquí, en la cima de este cerro, al acabar el día. Y en tu última danza dirás de tu lucha, de las batallas que has ganado y de las que has perdido; dirás de tus alegrías y desconciertos al encontrarte con el poder personal. Tu danza hablará de los secretos y las maravillas que has atesorado. Y tu muerte se sentará aquí a observarte. El sol poniente brillará sobre ti sin quemar, como lo hizo hoy. El viento será suave y dulce y tu cerro temblará. Al llegar al final de tu danza mirarás el sol, porque nunca volverás a verlo ni despierto ni soñando, y entonces tu muerte apuntará hacia el sur. Hacia la inmensidad." (Castaneda VI: 218).



Assentir com a morte, travar a última batalha. O gesto é o modo de objetivar o mito, de ocupar um ponto de vista, a fé do desejo. O guerreiro dança perante a morte: este é o seu tributo; e a dança é a coreografia que conta de suas lutas, dos gestos que ao longo de sua passagem pela terra impediram que fosse devorado pela perspectiva alheia. A luta é sentir, trocar e guardar o poder que o permitirá continuar mais uma vez o jogo da variação. Ser perecedouro por um instante, neste instante atual; chegar, em vida, à totalidade de si mesmo, eis a grande tarefa que só um espírito impecável é capaz de empreender. E um espírito impecável é a conquista de um guerreiro, o resultado de suas ações, como o são todas as outras variedades e qualidades de espíritos e as realidades que os espelham. Um espírito impecável se faz, só que aprendendo a não-fazer.




.[.] a lo mejor entonces te das cuenta de que ambos haceres son

mentira, son irreales, que prenderte en cualquiera es una pérdida de

tiempo, porque lo único real es el ser que hay en ti y que va a morir.

Llegar a ese ser, al ser que va a morir es el no-hacer de la persona.

(Castaneda VI: 277).



Peço paciência aos céticos! Assentir com a morte não é abolir ou negar a vida; assentir com a morte não é uma fuga, a projeção transcendental de uma .substância coerente e sólida, satisfeita e repousada. (Tarde 2007b: 70) que representa a si mesma nos mesmos espelhos que a permitem durar. Eis a visão da máquina dual, da máquina de opacidade que produz objetos finitos e projeta a nossa finitude nos objetos, tornando-se assim nossos espelhos. A nossa visão se adaptou à duração do objeto, à sua imobilidade, e é por isso que nosso olhar é rígido. Eis o preço que pagamos pelos resguardos que nosso Tonal déspota nos vende junto com uma imagem de fragilidade perante a inevitável morte. Achamos que podemos esgotar o mistério sem-fim que é o mundo com nossos afazeres de homens comuns, com nossas realidades indiscutíveis e objetivas e com o poder que nos outorga o conhecimento. Também para um guerreiro o conhecimento pode se transformar em poder, mas não no modo da duração, na imobilidade de estantes onde se acumulam palavras e pó, até que alguém venha a tirá-las do lugar. No mundo habitado pelo guerreiro, .cada pedacinho de conhecimento que se torna poder tem a morte como força central. (Castaneda RA: 173).



Um guerreiro é alguém que assente com a sua morte, o que não quer dizer entregar o jogo e quebrar os espelhos num voraz movimento de inquietação. Um guerreiro é alguém que escolhe os elementos que formam o seu mundo, os espelhos que o refletem, e que, com muito esforço e de modo impecável, equilibra o seu espírito e fortalece o seu Tonal pessoal, lutando para viver, para desfrutar ainda um pouco mais no .caminho com coração. que escolheu percorrer. Pois um caminho com coração é uma escolha, o modo pelo qual um homem que assentiu com a morte passa pelo mundo, no mundo. Prazer indizível de realizar cada ato, desfrutar cada momento presente, dando o melhor de nós mesmos, e transformando em .poder mágico nosso tempo ordinário sobre a terra. (RA: 173) . modo de ação daqueles que fazem da morte sua melhor conselheira, que assentem em escutá-la, em percebê-la:




"Sólo la idea de la muerte da al hombre el desapego suficiente para que

sea incapaz de abandonarse a nada. Sólo la idea de la muerte da al

hombre el desapego suficiente para que no pueda negarse nada. Pero un

hombre de tal suerte no ansía, porque ha adquirido una lujuria callada por

la vida y por todas las cosas de la vida. Sabe que su muerte lo anda

cazando y que no le dará tiempo de adherirse a nada, así que prueba, sin

ansias, todo de todo. Un hombre despegado, sabiendo que no tiene

posibilidad de poner vallas a su muerte, sólo tiene una cosa que lo

respalde: el poder de sus decisiones. Tiene que ser, por así decirlo, el amo

de su elección. Debe comprender por completo que su preferencia es su

responsabilidad, y una vez que hace su selección no queda tiempo para

lamentos ni recriminaciones. Sus decisiones son definitivas, simplemente

porque su muerte no le da tiempo de adherirse a nada. Y así, con la

conciencia de su muerte, con desapego y con el poder de sus decisiones,

un guerrero arma su vida en forma estratégica. El conocimiento de su

muerte lo guía y le da desapego y lujuria callada; el poder de sus

decisiones definitivas le permite escoger sin lamentar, y lo que escoge es

siempre estratégicamente lo mejor; así cumple con gusto y con eficiencia

lujuriosa, todo cuanto tiene que hacer. (Castaneda RA: 174-175).



Os atos de um guerreiro são uma forma de passar, pois a .continuidade. do homem carece de sentido neste .mundo de pavor e mistério. (Castaneda VI: 126). A arrogância, a excessiva importância que atribuímos a nós mesmos e a nossas invenções, nos impede a percepção de que o mundo ao nosso redor é um mistério sem-fim, de modo que acreditamos que somos os únicos que podem inventar os modos como queremos estar nele; o resto dos seres, como não pensam ou falam, vêem-se limitados ao reino dos fatos mudos, da motivação inata e, portanto, carentes de escolha. Somos seres isolados em nosso cubículo de verdades, alheios à diferença radical dos outros modos de estar no mundo, o que empobrece, e muito, a nossa experiência do diferir. .Perder a importância. supõe perceber que somos, assim como muitos outros, seres que vão morrer . ou seja, diferença diferindo, ou o diferir da diferença. Tal possibilidade de ação se abre ao guerreiro que aprende, ou seja, que se compromete com a cognição dos xamãs do México antigo, e estabelece uma aliança conceitual com o .fato energético. de que somos seres que vão morrer, que vão mudar, que vão variar (Castaneda EDJ: 33). O guerreiro que assente com a morte, assente com o infinito (EDJ: 33).



Mas nós, ocidentais, homens modernos, atores mascarados, falsos sábios, mestres do falso verbo, fantasmas, temos uma relação negativa com a morte, pois, como disse Foucault (1999: 382), escolhemos acreditar que a poeira em que se desfazem .as grandes arquiteturas funcionais. é .poeira sem vida.. Que pretensão do sujeito! A poeira, as partículas, os elementos em que nos desmembramos, as mônadas, o infinitesimal infinito de que nos fala Tarde (2007b), testemunham o fim da finitude (Foucault 1999: 516), a cegueira da perspectiva da duração. A variação infinitesimal é o movimento do aparentemente imóvel, a fluidez imanente do sólido, a passagem do durável . percepção do imperceptível aos .olhos de fantasma. que, segundo Kopenawa, nos caracterizam (Kopenawa apud Viveiros de Castro 2007: 02). Variar é alterar, se alterar e ser alterado . o modo de ação do bruxo, ou do xamã, aquele que não é mais um fantasma depois de sobreviver ao apavorante encontro com o aliado que lhe dá a velocidade necessária para vibrar em sintonia com múltiplas consciências. Há uma grande diferença entre as durações dos homens comuns e os encontros dos guerreiros, mesmo que tenhamos o costume de sacrificar os encontros às durações, como afirma Tarde (2007a: 189-190). .O real é apenas um caso do possível., como diz Vargas (2007: 26) parafraseando Tarde; um possível e misterioso mundo.




.El mundo es todo lo que está encajado aquí . dijo, y pateó el suelo .. La

vida, la muerte, la gente, los aliados y todo lo demás que nos rodea. El

mundo es incomprensible. Jamás lo entenderemos; jamás desenredaremos

sus secretos. Por eso, debemos tratarlo como lo que es: ¡un absoluto

misterio!. (Castaneda RA: 253).








O guerreiro ou, nas palavras de Viveiros de Castro (2007: 03), o .''diplomata cósmico.'' procura intencionalmente encontrar as .forças inexplicáveis e inflexíveis. que povoam os mundos que ele habita, percorrendo o que, em outro contexto, Duvignaud (1979: 85) chama de .labirintos de durações diversas. na extensão do cosmos. Mas encontro não quer dizer, no seu caso, explicação ou entendimento ou modificação ou controle das forças. Um guerreiro aprende a usar as forças poderosas graças ao equilíbrio que conquistou com sua impecável .vontade. (Castaneda RA: 246-247).



A .vontade. é um centro de percepção, um modo de ação; um modo que se atualiza, que se realiza, graças à fluidez do Tonal do guerreiro. Os resguardos, escudos, fachadas, limites, são modos de agenciamento do Tonal, modos de individuação, de modulação da velocidade da percepção. Modos que os homens comuns chamamos corpos, que interpretamos e experimentamos como corpo e, muitas vezes, como objetos, delimitados a um espaço, imóveis no tempo. Mas o guerreiro fluido não pode mais datar o mundo cronologicamente, e para ele .o mundo e ele mesmo já não são objetos. (Castaneda RP: 67).



Don Juan, e os bruxos de sua linhagem, percebem os seres humanos como bolhas ou.ovos de fibras luminosas., como diagramas ou figuras geométricas nas quais podemos .manejar. oito coordenadas principais que são oito mundos para perpassar (Castaneda RA: 296); oito pontos interconectados por meio de linhas. que a solidez do corpo dos homens comuns nos impede conceber (Castaneda RP: 129).




.No lo llames el cuerpo. . dijo .. .Ésos son ocho puntos en las fibras de

un ser luminoso. Un brujo dice, como puedes ver en este dibujo, que el

ser humano es, primero que nada, voluntad, porque la voluntad se

relaciona con tres puntos: el sentir, el soñar y el ver: después, el ser

humano es razón. Este es propiamente un centro más pequeño que la

voluntad; sólo está conectado con el habla. (Castaneda RP: 129).



Todos nós, homens comuns, manejamos a fala e a razão. E também sentimos, apesar de fazê-lo de modo vago. Mas só os bruxos manejam o sonhar, o ver, e a .vontade.. Diferença nada simbólica que, se alegorizada a outros contextos, nos permite compreender a impossibilidade de explicar a magia pela ciência. Modos diversos de ação, só isso. O Nagual não pode ser explicado ou entendido pelo Tonal, pois explicar é um modo de percepção e interpretação do Tonal. A razão é um .centro de ensamblagem., um espelho, um modo de testemunhar o Tonal (Castaneda RP: 361). O centro de testemunho do Nagual, o modo de presenciá-lo, é outro: a .vontade..



Razão, fala, .vontade., sonhar, ver, sentir: seis dos oito pontos que formam a .totalidade de nós mesmos. (Castaneda RP: 129) . coordenadas das relações entre os elementos do racimo, que don Juan chama .bolha da percepção. (RP: 356). Modos de passagem e de individuação, de formatar o ovo em corpo, de tradução. A razão e a fala nos permitem conhecer, entender e explicar o mundo de modo elaborado, e tem nos mantido em vigília durante séculos, enquanto povoamos o mundo de objetos que refletem o nosso modo de interpretar a matéria como algo sólido e durável. Mas há outros espelhos possíveis, accessíveis .sob condição., como diria Tarde (2007a: 167), outros modos de organizar e reorganizar o racimo de que nos fala Don Juan; e a condição é submergir-se no Nagual através da .vontade. e experimentar a .totalidade de si mesmo. ao .abrir as assas da percepção. (Castaneda RP: 332); des-organizar o Tonal e liberar os elementos da liga da vida, durante um momento (RP: 332). Assentir com a morte.






Yo era una miríada de yo mismo y todos eran "yo", una colonia de

unidades independientes que tenían una alianza especial entre sí e

inevitablemente se unirían para integrar una sola conciencia, mi

conciencia humana. No era que yo "supiese" sin duda alguna, porque no

había nada con lo que hubiera podido "saber", pero todos mis yo mismos

"sabían" que el "yo" de mi mundo familiar era una colonia, un

conglomerado de sentimientos separados e independientes que poseían

una inflexible solidaridad mutua. La solidaridad inflexible de mis

incontables conciencias, la alianza mutua de esas partes, era mi fuerza

vital (Castaneda RP: 350-351).




Aliança mútua que é a vida: a .goma da vida. cola os sentimentos, os seres e as individualidades, inventando modos de povoar o Tonal (Castaneda RP: 355). Um guerreiro fluido consegue expandir o seu racimo um pouco nas suas incursões ao Nagual (RP: 355- 356) . experimentar a Totalidade de si em vida é morrer, mas só durante um momento; é ter a própria consciência, liberar as mônadas, as partículas infinitesimais (Tarde 2007b), da liga, da cola da vida, e perceber que somos uma associação, uma .miríade de eu mesmos (Castaneda RP: 350), um racimo. Vibração da consciência sem organismo (o duplo energético ou sósia), ou sem o compromisso inalienável com um organismo.



Organismos são modos de agenciamento, produtos da interpretação da percepção. Dentre os possíveis organismos há os organismos fantasmas, interpretações não de percepções, mas de outras interpretações30 (Deleuze & Guattari 1996: 12) que formam o roteiro do nosso modo de estar no mundo, e é com estes modos que os atores comuns costumamos nos comprometer, confundindo o que fazemos da nossa percepção com o que somos enquanto perceptores. Os olhos de fantasma dos homens comuns não conseguem ver muitos dos mundos aos quais os olhos dos xamãs, amigos dos espíritos, aqueles que sobrevivem (após morrer) no seu encontro com o aliado, se abrem. O importante, diz Castaneda, é .ter experimentado com meu corpo, ou nele, as premissas da explicação. (RP: 357). O corpo de um guerreiro, o organismo fluido, é um modo de organizar a experiência perceptiva, um modo de sentir o mundo e a possibilidade de testemunhar o Nagual, de .apreender a alteridade., a .marca da presença Outrem. (Viveiros de Castro 2001: 10). Marca que é como um espelho, ou uma miríade de espelhos infinitesimais . de cristais pluridimensionais que refratam a luz, o movimento, em inúmeras direções.



Movimento modulado pelo crivo de um olhar, de um modo de agenciamento, de atualização momentânea e passageira. Um espelho é um modo de agenciamento, o .instrumento de passagem entre as experiências da intensidade luminosa e da inumerabilidade dos espíritos. (Viveiros de Castro 2007: 19); um meio de transporte: ponto de vista, marca ou modo da ação. E quando a ação é variação, o que ser além da imagem? O corpo é como um jogo de espelhos, compêndio de cristais polifacéticos, multidimensionais . pluriverso em ação.



A etnologia de Viveiros de Castro (2007: 11) chega ao ponto: o xamã, o .modulador de perspectivas., é alguém que .possui corpos demais., que possui espelhos demais. É alguém que enxerga outros modos de organizar a energia, outros modos de consciência, outras modulações da vibração; alguém que os espelhos infinitesimais da floresta, os .corpos. dos xapiripë, que .sempre brotam de novo.. Conforme diz Kopenawa, citado por Viveiros de Castro (2007: 20): .Nós não fazemos senão viver entre os espelhos [dos espíritos]; ...nossa floresta pertence aos xapiripë e ela é feita de seus espelhos..



.Ambigüidade trans-específica. dos xamãs (Viveiros de Castro 2007: 06), os heróis dos mitos, os que passam por entre os intervalos da ciência e seus modos de diferenciar o semelhante, seus modos de especiação. Se há oposição caberia dizer que o modo de ação dos bruxos do México antigo da linhagem de don Juan se opõem à mesmificação simbólica dos filósofos-sabios. Pois, apesar de ser a física ocidental por demais metafísica (como a amazônica) e de que seus representantes, seus tradutores, experimentam velocidades de percepção, usando .próteses. que lhes permitam enxergar o invisível, a sua função não é a mesma. Ser xamã, como ser filósofo socrático, é um .funcionamento., mas ser funcional é no primeiro caso ser impecável (Castaneda EDJ: 39) e no segundo, razoável. O poder do pensamento não é o poder pessoal que don Juan ensina a Castaneda caçar e guardar. O poder do guerreiro é poder variar. O guerreiro, como as mônadas de Tarde (2007b), está lá onde age; aqui e ali, às vezes, num mesmo momento.




.El secreto del doble radica en la burbuja de la percepción, que en tu caso

estaba, aquella noche, en lo alto del peñasco y en el fondo del barranco al

mismo tiempo. . dijo. .El racimo de sentimientos puede agruparse al

instante en cualquier parte. En otras palabras, podemos percibir a la vez

el aquí y el allí. (Castaneda RP: 358).



Don Juan e don Genaro aprenderam a ser inorgânicos, eis o legado, eis o segredo. Algum dia voltarão a entrar nos olhos do antropólogo, como .poeira no caminho. (Castaneda RP: 384); poeira cintilante, luminosa, viva, consciente de si.



O mestre e o .benfeitor. se despedem do antropólogo no final de Relatos de poder (Castaneda, RP). Castaneda, agora guerreiro, tem um longo caminho pela frente; um caminho com coração, um caminho que serve de metáfora à continuação deste trabalho antropológico, desta investigação acadêmica que estou iniciando. Diferentes Tonais são diferentes modos de ação e, portanto, diferentes mundos. Que mundo nós queremos habitar, homens modernos embebidos numa construção frenética de máquinas que fabricam objetos? O nosso mundo, a nossa invenção cultural de fato durará. Pelo menos o tempo da digestão da matéria, dos elementos sobre e sob o solo da terra que não cessamos de extrair e transformar em papéis, plásticos, metais e gases. Provavelmente os objetos que fabricamos testemunharão nossa finitude, como lhes pedimos para fazer. Este é o fim com o que nos comprometemos no cotidiano dos hábitos. Mas há outros possíveis modos de nutrição, de variação, como podemos testemunhar nas entrelinhas, nas linhas de fuga do texto antropológico. Há risos e .festas interdimensionais também no texto antropológico (Duvignaud 1979:202). E principalmente nos textos antropológicos de Castaneda, cujo autor é antes o mestre que o aprendiz. A função do guerreiro devora a funcionalidade da antropologia da duração. A morte é um presente pedindo para ser utilizado corretamente. Como é um presente a impecabilidade do guerreiro; um presente conquistado para o ser amado: um guerreiro .toca o menos possível o mundo ao seu redor. (Castaneda VI: 107), retirando do mundo só o que precisa para percorrê-lo e mastigando pouco a pouco o poder á medida que sua história pessoal se dissolve no ar, na planta, no animal, no vento, na água, na terra, nos elementos que se agrupam nesse ser esplêndido que ele ama, que ele escolhe amar: A TERRA.. . a predileção do guerreiro é a vida na terra.




.El amor de Genaro es el mundo. . decía . .Ahora mismo estaba

abrazando esta enorme tierra, pero siendo tan pequeño, no puede sino

nadar en ella. Pero la tierra sabe que Genaro la ama y por eso lo cuida.

Por eso la vida de Genaro está llena hasta el borde y su estado,

dondequiera que él se encuentre, siempre será la abundancia. Genaro

recorre las sendas de su ser amado, y en cualquier sitio que esté, está

completo. (Castaneda RP: 381).

Poderá a antropologia dar testemunho deste modo de estar no mundo, de ser mundo? Ou não é esta a tarefa que lhe compete? De qualquer modo, a antropologia é um veículo, e o caminho dependerá da escolha de quem viaje nela. Neste trabalho tentamos mostrar como a escolha de Castaneda de usar os .termos. de Don Juan para expressar os seus postulados é um modo de fazer antropologia que permite não só uma aproximação do Outro que queremos compreender, como também possibilita um modo diferente de experimentar os nossos próprios postulados, o nosso próprio mundo, a nossa descrição. E é justamente esta descrição que foi esquadrinhada na presente dissertação, a qual serve de ponto de encontro entre antropólogos, sociólogos, filósofos e xamãs, uma vez que suas produções, seus textos, suas palavras e seus conceitos pareciam, aos nossos olhos, ter muitos pontos em comum.



Carlos Castaneda mostra que é possível uma antropologia que, menos que produzir explicações, procura ser um veículo de expressão de modos de conhecimento e de experimentação do mundo que diferem dos nossos. Uma antropologia pronta para dialogar e deixar de reduzir os postulados dos povos que estuda a exemplos ou exceções que confirmem as suas próprias regras. Esta é uma difícil empresa que requer uma transformação e uma flexibilização conceitual que já vem acontecendo há algum tempo, como mostram os autores apresentados nesta dissertação. Porém, trata-se de um processo que requer ainda mais esforços de nossa parte, principalmente no que se refere aos estudos sobre o xamanismo. Pretendemos continuar nesta linha de investigação com nossos aportes ao modo (conceitual) da passagem, no intuito de propor alternativas ao modo do intervalo, da oposição e, inclusive, da dialética e da contradição, que tem preponderado na prática antropológica e na episteme ocidental como um todo.



Concluímos, então, que a fluidez conceitual, a fluidez do pensamento e do entendimento, enfim, o modo fluido da passagem são necessários para qualquer aproximação antropológica aos diversos postulados do que se chamava magia e agora se denomina xamanismo. Somente a partir deste ponto de vista, desta escolha conceitual nos parece possível aceitar como fato, e não só como valor, a .descrição mágica do mundo., na qual .a comunicação através de palavras com os animais era assunto rotineiro. (Castaneda RP: 15); na qual existe uma série de técnicas que .dão fluidez à personalidade e ao mundo. de modo a .eliminar a impraticabilidade de ter um duplo no mundo ordinário. (RP: 67); na qual não é mais preciso o apego à duração, uma vez que qualquer instante pode ser uma passagem ao infinito...




.¿Sabes que puedes extenderte hasta el infinito en cualquiera de las

direcciones que he señalado?. . prosiguió .. .¿Sabes que un momento

puede ser la eternidad? Esto no es una adivinanza; es un hecho, pero sólo

si te montas en ese momento y lo usas para llevar la totalidad de ti mismo

hasta el infinito, en cualquier dirección. (Castaneda RP: 19).