Gostaria de
frisar, mais uma vez, que o símbolo do peixe constitui uma representação
espontânea da figura do Cristo do Evangelho e tbm um sintoma que mostra de que
modo e com que significado ele foi assumido pelo inconsciente. Sob este aspecto,
a alegoria patrística da captura do Leviatã (a cruz entendida como anzol e o
Cristo preso á ela como isca) é sumamente característica: Capturou-se um
conteúdo (peixe), do fundo do inconsciente (mar), que ficou preso á figura de
Cristo. Daí provém, provavelmente, a expressão característica de Agostinho: de
profundo levatus (tirado das profundezas), que se aplica ao peixe. E tbm á
Cristo? A figura do peixe surge das profundezas do inconsciente, ao encontro de
Cristo, e quando Cristo era invocado como Ichthys (peixe), tal designação dizia
respeito áquilo que fora arrancado das profundezas do inconsciente. O símbolo do
peixe representa, portanto, uma ponte entre a figura histórica de Cristo e a
natureza psíquica do homem no qual repousa o arquétipo do Redentor. Por esta
via, Cristo se converteu na experiência interna, no ‘’Cristo em
nós’’.
Como acabo
de mostrar, o simbolismo do peixe na Alquimia conduz em linha reta ao lápis
philosophorum (pedra filosofal), ao salvator, servator e deus terrenus
(salvador, conservador e deus terreno), ou seja ,psicologicamente falando, ao
SI-MESMO. Assim surge um novo símbolo, em lugar do peixe, ou seja, um conceito
psicológico da totalidade do homem. Do mesmo modo que o peixe significa mais ou
menos Cristo, assim tbm o SI-MESMO significa a divindade. Mas se trata de
correspondência e experiência interior, de uma recepção de Cristo na matriz
psíquica ou de uma nova realização do Filho de Deus, não mais sob um simbolismo
teriomórfico e sim sob um simbolismo conceitual ou filosófico. Desse modo se
expressa claramente uma TOMADA DE CONSCIÊNCIA, ao invés de um peixe mudo e
inconsciente.
C.G.JUNG
Nenhum comentário:
Postar um comentário