quarta-feira, 25 de setembro de 2013

RETORNO DO MITO

 
Vinícius Romagnolli Rodrigues Gomes*
Solange Ramos de Andrade**
O pensamento simbólico é considerado pelo historiador romeno Mircea Eliade em sua obra Imagens e Símbolos como consubstancial ao ser humano; precedendo até mesmo a linguagem e a razão discursiva.
(...)
. Assim sendo, temos que cada ser histórico traz consigo uma parte da humanidade anterior a História, logo a parte a-histórica de todo ser humano não se perde, mas traz a marca da lembrança de uma existência mais rica e completa. Os símbolos jamais desaparecem da "atualidade" psíquica, podendo mudar de aspecto, mas com a função permanecendo a mesma. (ELIADE, 1991)

Mesmo diante da dessacralização do homem moderno (que alterou o conteúdo de sua vida espiritual), não se rompeu com as matrizes da sua imaginação e com as questões mitológicas, assim sendo, o interesse pelas imagens e símbolos não diminuíram, pois esses nos oferecem um possível ponto de partida para a renovação espiritual do homem moderno. A partir disso, Eliade fala da "redescoberta" do simbolismo, citando a psicanálise, a superação do "cientismo" da filosofia, o renascimento do interesse religioso pós 1°guerra e as múltiplas experiências poéticas, como fatores que contribuíram para tal retorno da atenção do público sobre o símbolo como um modo autônomo de conhecimento. (ELIADE,1991).

Mircea Eliade ressalta, entretanto, que essa retomada aos diversos simbolismos não é uma descoberta inédita do mundo moderno, tendo em vista que o símbolo enquanto instrumento de conhecimento era uma orientação presente na Europa até o século XVIII, além de se fazer presente em culturas extra-européias, mesmo naquelas consideradas arcaicas e primitivas. O autor destaca que a invasão do simbolismo na Europa Ocidental coincidiu com o despertar da Ásia no horizonte da História e considera este fato uma "feliz conjunção temporal" na medida em que a Europa redescobre os símbolos em um momento no qual ela não é a única a "fazer história" e a cultura européia passa a contar com outros valores e vias de conhecimento que não apenas as suas. Assim sendo, as descobertas relacionadas ao irracional, ao inconsciente e ao simbolismo, serviram indiretamente ao Ocidente; preparando-o para uma compreensão mais profunda e para um diálogo com povos não-europeus. (ELIADE,1991).

Por fim, vemos que o símbolo, o mito, a imagem podem ser camuflados, degradados, porém jamais extirpados, tendo sobrevivido até os dias de hoje. E que para um estudo dos simbolismos possa ser útil, deve ser feito em cooperação de várias áreas do conhecimento, dentre as quais; Literatura, Psicologia, Antropologia filosófica, História das religiões, Etnologia, entre outros. (ELIADE, 1991).

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