sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O encontro entre Castaneda e Fellini

 
Ao longo de sua vida Castaneda concedeu raríssimas entrevistas – uma delas à revista americana Time, outra à Psycolo-gy Today e, em 1975, falou à revista Veja, edição 356, por meio de um estudante brasileiro, então bolsista na Universidade da Califórnia, Luiz André Kossobudzki. Num diálogo com perguntas e respostas publicadas nas tradicionais páginas amarelas da revista, Castaneda explicou sua postura reservada e as razões para se comportar dessa maneira. Disse que atribuir importância a si próprio torna a pessoa tão imatura quanto uma criança: “O ser incompleto nasce da incessante procura por reconhecimento social.”

Nessa entrevista procurou definir uma série de outros conceitos herméticos em seus escritos e condena enfaticamente o uso de drogas, alegando que a administração de psicotrópicos, no início de seu aprendizado foi parte de um método e nada mais que isso. Castaneda se referiu ainda a uma capacidade de utilizar os sonhos como exercício de domínio e controle da própria vontade no percurso de se tornar um homem de conhecimento, aprendizado descrito em Porta para o infinito – quarto de seus 12 livros. Para Castaneda, a arte de sonhar exige “o mesmo domínio da vontade para sair e voltar da realidade ordinária”. Ele declara: “Com d. Juan aprendi a deixar de ser criança profissional e me tornei um guerreiro. Ficar sentado, esperando que me dessem tudo, ou sonhando acordado com a glória de minha auto-importância, não me trouxe nada. Tive de ir procurar coragem e disciplina”.
 
Castaneda esclarece que xamãs da linhagem de seu mentor, d. Juan Matus, “consideram consciência como o ato de estar deliberadamente consciente de todas as possibilidades perceptivas do homem e não apenas das possibilidades perceptivas ditadas por qualquer determinada cultura, cujo papel parece ser o de restringir a capacidade perceptiva de seus membros”.

Ao longo dos últimos 40 anos em que a obra de Castaneda foi publicada – ele assegura que a publicação é parte de suas tarefas para se tornar um homem de conhecimento, e não uma forma de exposição pessoal, daí o contato restrito com a imprensa e a recusa em ser fotografado –, as mais diferentes personalidades se envolveram com ela de diferentes formas. O cineasta italiano Federico Fellini foi uma delas, como registra em Block-Notes di um Regista:

No capítulo “Viaggio a Tulun” Fellini, interessado num filme sobre Castaneda, relata em detalhes o encontro/desencontro que teve com o personagem que buscou e expressa sua convicção de que nele há algo mais além da habilidade literária destacada por Spicer e Leach
 
Em sua vida deu raras entrevistas, sendo uma delas à revista Veja, em 1975. Na ocasião, explicou sua postura reservada. Disse que atribuir importância a si mesmo torna a pessoa tão imatura quanto uma criança: “o ser incompleto nasce da incessante procura por reconhecimento social”, declarou.

Castaneda acreditava no potencial e na capacidade humana de, por exemplo, utilizar os sonhos como exercício de domínio e controle da própria vontade no percurso de se tornar um “homem de conhecimento

7 comentários:

  1. Esta realidade subjacente é o que David Bohm chamou de ORDEM IMPLICADA, um MAR DE ENERGIA do qual se desprende nossa existência apenas como a onda que se forma sobre a superfície de um lago quando se atira uma pedra dentro. É também o que o filósofo alemão Arthur Schopenhauer chamou de O MUNDO DA VONTADE (nossa realidade explícita é o Mundo da Representação: El Maia, la Matrix). É também o mundo do Nagual de Don Juan Matus segundo Carlos Castaneda e que poderia ser parte da tradição oculta tolteca. É o mundo do Espírito, o Brahman. O ENTRELAÇAMENTO QUÂNTICO parece ser o cordão umbilical (de luz comunicante) entre a dimensão de unidade divina absoluta e o mundo material da multiplicidade, que é uma falsa caída ou divisão, já que, pelo mesmo entrelaçamento quântico, o Espírito segue irradiando, transmitindo-se a si mesmo através de nós. IN-formando-nos.


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  2. Provavelmente a grande aportação do pensamento filosófico da última metade do século XX foi estruturar e aprofundar a noção de que a linguagem constrói a realidade que experimentamos. Desde a famosa frase de Wittgenstein - ''os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo'' - á incansável desprogramação (recapitulação) de Carlos Castaneda, sob a máxima de que a descrição de mundo que nos fazemos se converte no mundo que percebemos, a psicanálise lacaniana ou os túneis de realidade de Robert Anton Wilson (só para citar alguns exemplos), se consolida na consciência humana uma idéia que pertence á tradição ocultista. Esta inseminação psíquica coletiva da realidade como um constructo linguístico se reforça com as linguagens de programação informática, nos quais percebemos diretamente que o que vemos é na realidade a representação de um código, uma linguagem.

    Essa noção que nasce do ocultismo e da arte - onde ''dizer'' é mover uma força psíquica, que pode vir a se tornar física - foi finalmente apreendida pela neurociência nas últimas décadas, descobrindo que para o cérebro humano escutar uma história é praticamente o mesmo que vivê-la: tal é o poder da narrativa. E agora não são só os neurocientistas que estudam os neurônios espelhos ou as companhias de neuromarketing que estão interessados em estudar a ''neurobiologia das narrativas'', a mesma DARPA, a agência de tecnologia militar dos Estados Unidos, co-responsável pela invenção da Internet, mostrou recentemente interesse por entender e quantificar os mecanismos com que operam as narrativas. Os militares e os agentes secretos se infiltraram na Literatura.

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  3. Nova evidência parece confirmar o proposto pela teoria das cordas: existe um vibrante mundo oculto na profundidade da matéria, o qual afeta a realidade macroscópica que percebemos.
     
    We are like islands in the sea, separate on the surface but connected in the deep. — William James
    ¿Qué río es éste
    por el cual corre el Ganges?
    ¿Que río es éste cuya fuente es inconcebible? – Jorge Luis Borges




    La raíz del loto es el agua toda


    Uma nova teoria sugere que por trás das coisas, do mundo das aparências e dos objetos, jaz um mar de energia radiante onde inclusive as partículas atômicas se diluem em uma unidade holográfica. Desde o início da física quântica foi observado uma espécie de carreira intra-especial para chegar ao fundo da matéria e definir um limite: um ladrilho fundamental (building block) do qual tudo se constrói. Esta empresa atômica é a essência da ciência: segmentar um fenômeno até seu mais mínimo denominador para poder analisá-lo como uma entidade separada. Mas o que sucederia se não existissem as entidades separadas, se as partículas e os fenômenos que integram fossem apenas uma percepção superficial de uma realidade mais profunda, como uma onda em um mar sem fundo? Provavelmente nos veríamos abrumados, como em uma miragem que mistura o limite entre o céu e a terra. Ao mesmo tempo em que estaríamos nos aproximando de um entendimento mais profundo da matéria - nos aproximando talvez, á crista da sede de totalidade, ao levar a sensação oceânica do mistiscismo a um corpo de conhecimento científico.

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  4. A ciência admite a intuição poética - enquanto a imaginação é o conducto ou a ferramenta epifânica para descobrir ou levantar o véu da natureza e do que ela esconde. Que exista uma unidade subjacente da qual emergem os fenômenos que percebemos como a realidade é algo que foi proposto por diversas filosofias místicas em diferentes tempos e tradições. Um exemplo é o conceito de vazio e ilusão do hinduismo que foi tomado por Arthur Schopenhauer para conceber seu sistema baseado em um Mundo de Vontade e um Mundo de Representação. A filosofia de Schopenhauer tem seu avatar na física com a Ordem Implicada e a Ordem Explicada proposta por David Bohm
    http://portalpineal.blogspot.com.br/2013/03/david-bohm-e-sua-teoria-da-ordem.html
    ...em parte como uma forma de conciliar irregularidades entre a física quântica e a da relatividade, mas também a partir da influência do pensamento oriental, especificamente de Krishnamurti, com quem travou uma larga amizade. Sondando a profundidade interior do espaço - as variáveis ocultas - ,Bohm utilizou a metáfora do holograma para comunicar a natureza incomensurável da matéria em sua ordem implicada: que cada partícula e cada fenômeno eram na realidade apenas uma representação da totalidade, sulcando o espaço -tempo como ondas de água na superfície de um estanque. ''Proponho que cada momento no tempo é uma projeção da Ordem Implicada Total''.

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  5. A teoria quântica adverte que existem campos de energia que permeiam o universo, os quais se comportam em ocasiões como partículas e em outras como ondas. Nova evidência sugere que as partículas e as ondas que medimos são somente a manifestação superficial do mar e das ondas e as partículas a turbulência nessa superfície. Cientistas de Harvard e da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara consideram que o nível superficial de descrição do mundo sub-atômico já não é suficiente para descrever todos os fenômenos. Estudando uma estranha forma de matéria conhecida como ''cuprates'' - metais que contém cobre e que exibem a propriedade de super-condutividade em altas temperaturas - , concluíram que a matéria sub-atômica parece estar refletindo uma série de propriedades mais profundas, que poderiam estar ''vibrando'' em outras dimensões, em sintonia com os postulados da teoria das cordas.

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  6. CUPRATES SOB O MICROSCÓPIO

    Esta correspondência multidimensional de eventos foi demonstrada pelo físico Juan Maldacena, quem logrou correlacionar matematicamente eventos diferentes sucedendo-se em 3-D com eventos em regiões de 2-D (eventos em 4-D correspondem a eventos em 3-D e eventos em 5-D com eventos em 4-D, e assim sucessivamente). Segundo este modelo a massa e as propriedades macroscópicas correspondem á vibrações e interações de diferentes formas de matéria (possivelmente a espectral matéria escura) e forças que surgem das conexões das cordas - ás quais vivem dentro desse mar metafórico. Isto se conhece como dualidade holográfica, segundo denominou Maldacena em 1997: a superfície bidimensional deste mar seria descrita pela mecânica quântica; os eventos dentro do mar seriam descritos pela teoria das cordas, se traduziriam matematicamente em eventos na superfície e incluiríam a força da gravidade. Paradoxalmente, quando a superfície do mar imaginário se encontra em calmaria, isto é reflexo de complexidade e agitação interna (a tranquilidade é resultado de uma grande quantidade de energia). A maioria dos objetos materiais têm partículas relativamente estáveis , pelo que ao que parece são o resultado de uma espécie de tormenta interna perfeita.
    Materiais como os ''cuprates'' pertencem á categoria de uma forte interação na superfície, até o ponto de perder sua própria individualidade na força de sua correlação. ''Estes efeitos coletivos sumamente complexos da mecânica quântica são belissimamente capturados pela física dos buracos negros'', disse Hong Líu, professor de MIT (Massachussets Instituct of Technology). '' Para os sistemas de forte correlação, se colocas um elétron no sistema, imediatamente ele desaparecerá e já não poderá ser rastreado''. Assim estes elétrons que em alguns casos se comportam como ''ladrilhos de construção'',em outros se comportam como excitações coletivas - mesmas que não podem descrever-se pelos modelos quânticos atuais e poderiam corresponder ás propriedades de buracos negros em dimensõe susperiores.

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  7. Um teoria da gravidade quântica poderia ter que abandonar a noção de que os constituintes básicos da matéria são partículas, e considerar que os eventos que surgem na superfície do ''mar'' são eventos unidos a uma série de eventos a partir de uma maior profundidade. As implicações filosóficas disto seriam enormes, já que em certo sentido tudo o que ocorre a nossa volta seria a manifestação superficial de um ordem mais profunda, de uma vibração hiperdimensional. O fundo desse mar (do qual surge o mar) é incomensurável, sua fonte é inconcebível.
    David Bohm via a relação entrea consciência e amatéria de maneira muito similar á dualidade holográfica: o conteúdo implicado da consciência se manifesta no espaço-tempo como um fenômeno material que guarda relação com a totalidade da qual emerge. Na visão de Bohm, a matéria escura e as supercordas extra-dimensionais seriam articulações da consciência. Segundo o AdvaitaVedanta, a consciência não é uma propriedade do Brahman (oincomensurável, o imutável, deus), mas ésua própria natureza. Não há diferença entre esse mar do qual emerge o mundo e a consciência? Segundo Herr von Welling, com apenas um grão de sal e uma partícula de Pedra Filosofal na água, sepode construir um novo universo; segundo William Blake em um grão de areia se encontra um mundo inteiro:
    "Ver o Mundo num Grão de Areia
    E o Céu numa Flor Silvestre,
    Agarrar o Infinito na palma da mão
    E a Eternidade num instante."

    (William Blake)

    Estassão apenas metáforas, acaso desejos sugestivos de encontrar um sentido mais profundo, mas... quem pode argumentar que o mar original, o mar genético, o mar no qual emergem os homens e as estrelas, não está implicado indelevelmente em cada pequena coisa²
     

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