domingo, 22 de setembro de 2013

O treinamento xamânico


.Seguindo uma tradição universal, por regra o verdadeiro xamã é um ser renascido de provas transcendentais e perigosas. "Voce se surpreenderia ao ver como se pode agir bem, quando se está encurralado", diz Don Juan á Castaneda ( Porta para o Infnito , pg. 91).O guerreiro tende a "perder a forma humana". Diz Castañeda em certa altura:"Don Juan (...) tinha me preparado para viver exclusivamente através do poder pessoal, que eu compreendia ser um estado de ser, uma relação de ordem entre o sujeito e o Universo, uma relação que não pode ser interrompida sem resultar na morte do sujeito" (O Presente da Águia , pg. 30). Além disto, o próprio manejo com forças superiores requer uma crescente simplificação do espírito e a intensificação da auto-disciplina. Nem mesmo os melhores videntes estão liberados para agir de maneira displicente:"...talvez o guerreiro não seja um prisioneiro, e sim um escravo do poder, pois essa escolha não é mais para ele. ''Genaro não pode agir de outro modo a não ser impecavelmente. Agir como um asno o esgotaria e provocaria sua morte." ( Porta para o Infinito , pg. 173). Esta é a técnica de "andar sobre o abismo ou pelo fio da navalha", para o qual os guerreiros toltecas são literalmente empurrados um dia ). Neste processo, o guerreiro pode se deparar muitas vezes com situações que normalmente lhe teriam custado a vida, embora isto apenas possa ser considerado uma iniciação quando resulta na aquisição de dons superiores.
 
Com o advento da hieraquia todos estes procedimentos sofreram modificações importantes, vindo a interiorizar e a sintetizar as energias. Ainda assim os iniciados dos três primeiros graus sempre se reportam às energias naturais.O nagualismo dos videntes telúricos soa tão complexo porque envolve técnicas muito primitivas. Como não contavam com uma estrutura hierárquica satisfatória, capaz de impôr uma visão de síntese, eles se absorviam demais em de-talhes secundários e perigosos. Ainda assim o período áryo facilitou as coisas, dando origem ao neo-xamanismo, que teve nos toltecas um de seus principais expoentes, ao lado dos tibetanos. Sob a luz dos novos recursos, o treinamento xamanístico foi simplificado e recodificado, abrangendo os três níveis básicos de trabalhos: a técnica da espreita para o plano físico, a arte de sonhar para o plano emocional e o domínio do ''intento'' para o plano mental. Obviamente os três métodos se aplicam em todos os graus e planos.
 
Este é, com pequenas variantes, o treinamento-padrão em qualquer programa de iniciação. Os graus superiores estavam não apenas parcialmente inacessíveis aos videntes, como também representam realmente esferas raramente acessíveis e cujos programas não costumam ser divul-gados .Embora os antigos pré-colombianos detivessem todo o conhecimento sagrado, o único grau superior razoavelmente contemplado pelos toltecas recentes era o quarto. O trabalho do quarto grau se destina à conquista do corpo energético ou imortalidade, e deu origem à religião e aos cultos de sacrifício tão difundidos entre estes povos, ao passo que o trabalho do quinto grau deu acesso à imensa ciência astrológica por eles desenvolvida, originando inclusive o Regulamento do Nagual.
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No geral, por se concentrar a quatro graus, o treinamento xamânico pode ser visto como o do desenvolvimento humano ...


. O homem pertence ao quarto reino da Natureza, por isto a condição humana completa é quádruple. Isto ocorre de modo especial na Nova Raça, por ser a quarta raça sagrada. Dizem os sábios do Quarto Caminho:
 
"...enquanto seus quatro corpos não estiverem totalmente desenvolvidos, nenhum homem têm o direito de ser chamado Homem, no pleno sentido dessa palavra. Assim, o homem verdadeiro possui numerosas propriedades que o homem comum não possui. Uma dessas propriedades é um corpo de energia. Todas as religiões, todos os ensinamentos antigos, trazem a idéia de que, pela aquisição do quarto corpo, o homem adquire a imortalidade; e todos eles indicam caminhos que conduzem à aquisição do quarto corpo, isto é, à conquista da imortalidade."
(Gurdjieff, citado por P. D. Ouspensky em Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido , pg. 61)
 
.O quarto corpo, isto é, a quarta iniciação, traz consigo a iluminação, que são energias sagradas e eternas. Com elas surge uma consciência atemporal. Seus sinais podem ser registrados até fisicamente , não apenas através dos "canais sutis", mas do próprio sistema nervoso, que torna-se ''super-acelerado''.Também se pode associar estas energias a etapas da meditação


Este ‘’lado silencioso’’ se identifica com o que se chama de ‘’os olhos prensados de soma’’ no vedantismo, olhos pelos quais o Conhecedor do campo alcança o mundo da Luz. Há uma referência a estes ""Olhos de Soma, olhos de contemplação (dhi) intelecto (manas) com os quais nós contemplamos o Princípio Supremo’’ (hiranyam,
Rg Veda Samhita I.139.2, ou seja, Hiranyagarbham, o Sol, a Verdade, Prajapati, como em Rg Veda Samhita X.121).

Aqui temos, pois, um "roteiro" sumário da meditação completa. O tema está relacionado sobretudo às etapas finais do Ashtanga Yoga de Patânjali, ou a "Ioga de Oito Partes", conformada na sua totalidade por:
1) Yamas – Restrições (ética passiva)
2) Nyamas – Prescrições (ética ativa)
3) Asanas - Posturas
4) Pranayamas - Controle consciente da respiração
5) Pratyahara – Abstração
6) Dharana - Concentração
7) Dhyana - Meditação
8)Samady – Identificação, Contemplação
As três útimas fases conformam o Samyama, o tríplice corolário da Yoga de Patânjali, configurando mais propriamente as etapas da meditação. Porém, tanto o Pranayama quanto o Pratyahara, também participam ativamente na meditação, fazendo uma transição e uma preparação para o controle mental. A postura também faz parte disto, embora se trate de uma postura mais ou menos fixa, assim como, é claro, as energias concentradas graças às atitudes éticas.
 
O Samadhy final às vezes é associado à iluminação, mas na verdade se trataria aqui antes de uma Identificação, que é a meta da yoga, vista como a busca da Identificação ou yug (raiz da palavra yoga), que significa subjugar, controlar (a mente), donde a nossa expressão "jugo". A palavra yoga significa "união" semelhante a religião, do latim religare, "religação". Assim, a iluminação seria também a meta e a superação da religiosidade, tal como entendida habitualmente de salvação da alma, por exemplo.
 
Tema sutil e refinado, a iluminação (samadhi, nirvana) costuma ser interpretada e descrita de forma múltipla, existindo também na Yoga e no Budismo, classificações para as sucessivas "etapas da iluminação".
 
A rigôr, contudo, a iluminação perfeita vai além da pacificação mental e é um corolário ulterior da yoga, técnica esta definida por Patânjali como yogascittavrttinirodhah, ou seja: "Ioga é a parada das modificações mentais". Não casualmente, quando trata das "técnicas" existentes além da terceira iniciação, Alice A. Bailey quase se reduz a mencionar as "variantes da identificação" (a identificação é, sabidamente, uma das bases da compaixão). A iluminação é o mundo além da mente, embora já use a mente de forma livre e criativa.
 
O plano búdico ou quaternário é chamado "Mar de Fogo", um mundo auto-criado de energias divinas, que levou São Paulo a afirmar que "nosso Deus é um fogo consumidor" e Jesus a dizer que "o Pai tem a vida em si mesmo". Para chegar a este plano de glórias eternas, é preciso fazer a preparação do mental superior chamada "a travessia da terra ardente". Aqui entra a fórmula rosacruz que afirma: "para teres acesso ao FOGO, acende uma chama.
 
... um vez que a evolução da consciência permite condensar e concentrar os processos. Deste modo devemos relacionar as quatro iniciações elementais às últimas etapas do Ashtanga Yoga, que inclui o Samyama ou o triplo controle:
 
a. Abstração ou Pratyahara


b. Concentração ou Dharana


c. Meditação ou Dhyana


d. Contemplação ou Samadhi


Analisamos a seguir a forma como os "novos videntes" do México desenvolveram o seu treinamento básico, acrescentando algumas poucas referências oriundas do tradição árya para fins de comparação e enriquecimento.A técnica árya não é distinta da atlante, embora certamente mais avançada e mental. É apenas em relação ao treinamento tolteca de Castañeda que podemos observar certas idissioncrasias especiais, em função da adaptação que sofreu o nagualismo com a chegada dos conquistadores. Antes disto havia uma complexa mistura de tradição e decadência, que depois foi purificada e adaptada aos novos tempos.

. O conceito de INTENTO é o cerne do treinamento dos guerreiros e a chave de todo o seu conhecimento. Através dele se abrem as chaves dos mundos. Diz Castañeda em ''A Roda do Tempo '':


:"Considerando tudo o que me havia ensinado Don Juan acerca de seu mundo cognitivo, cheguei à conclusão, que era a conclusão que ele mesmo compartilhava, de que a unidade mais importante desse mundo era o conceito de


INTENTO


." (pg. 14) Naturalmente, o intento representa uma capacidade humana por natureza, associada à vontade e ao livre-arbítrio, não apenas porque permite opções e atitudes a partir do raciocínio, mas também abre as chaves do OCULTISMO PRÁTICO. Aquilo que for instintivo e mecânico já não se pode colocar propriamente sob as "asas do intento", em termos de manipulação pessoal, ainda que qualquer entidade, em qualquer densidade de volição, naturalmente exista apenas a partir de algum vínculo com o

INTENTO


."Mas o que resultava de valor inconcebível para aqueles chamãs era que o intento – uma pura abstração– estava intimamente ligado ao homem. O homem podia sempre manipulá-lo. Os antigos chamãs do México se deram conta de que o único modo de afetar esta força era mediante um comportamento impecável. Só os praticantes mais disciplinados podiam alcançar esta proeza." Naturalmente, o intento resume os melhores frutos do livre-arbítrio, é basicamente a orientação proposital da vontade, a energia do alinhamento. Também se pode denominar como o propósito .
 
Não se deve confundir com a intenção, que pode ser boa ou má.
 
O intento é uma essencia volitiva, um conteúdo energético direcionado que gera resultados nos planos sutis.O intento é aquela força que nos conduz a estados de consciência distintos, dando acesso aos vários mundos. E, por ser o intento uma força de natureza mental, é importante que o guerreiro obtenha uma comprensão profunda dos processos envolvidos em cada caso, como forma de obter a motivação e o estado de consciência necessário capaz de mover o ponto de aglutinação.A palavra sânscrita mandala significa "contole mental". O diagrama cosmológico que leva este nome representa uma forma de organizar o intento do mundo. "


INTENTO é o poder que sustenta o universo. É a força que tudo concentra. E faz o mundo acontecer." ( A Travessia das Feiticeiras , pg. 56, Taisha Abelar) Na verdade, a importância do intento reside em que ele é o mecanismo que permite nos movimentar nos outros mundos. Ali não existem os sentidos e nem a razão, mas apenas a volição pura para nos permitir atuar dinamicamente no ambiente e no relacionamento com outros seres.Seu direcionamento e efeito comportam uma dimensão visual, pois está vinculado às energias mentais:"Para os chamãs do antigo México, o intento era uma força que podiam visualizar quando viam a energia tal como flui no universo. A consideravam uma força onipresente que intervinha em todos os aspectos do tempo e do espaço. Era o que impulsionava tudo."(Castañeda, Op. cit. )


. Existe um núcleo de consciência capaz de agir com propósito interior, não se limitando a refrear impulsos ou a concentrar energias. É o campo da "Terceira Atenção", que o nagual Juan Matus coloca como a grande conquista dos novos videntes e sua área de trabalho especial. A exemplo de várias tradições semi-hierárquicas, o treinamento tolteca reune a terceira e a quarta atenção. Mas a verdadeira terceira atenção, conforme ensina a hierarquia árya, é um estado de elevada concentração de energia gerado pelo alinhamento dos três corpos inferiores, tornando-se capaz de canalizar uma expressão básica de energia divina através dos sub-planos superiores do plano mental. Esta luz se expressa então na forma de vidência interior , gerando certas peculiaridades no campo ener-gético que servem para sinalizar a posse desta condição.
O intento é a chave mais oculta da consciência.
 
"Para levar a cabo a interrupção dos vestígios perceptivos que cristalizam nossa percepção do mundo num ponto fixo, o benfeitor trata a intenção como um processo, como se ela fosse um fluxo, uma corrente de energia que pode eventualmente ser cessada ou ser reencaminhada." (Castañeda, O Presente da Águia , pg. 258).O intento é a chave dos atos de magia e um procedimento de grande sutileza. Não há como empregá-lo para fins mesquinhos. "O intento só surge para algo abstrato. Esta é a válvula de segurança dos xamãs; de outra maneira seriam criaturas insuportáveis" (Castañeda, El Lado Activo del Infinito , pg. 24).
 
A experiência no infinito despersonaliza o ser humano a ponto de terem os xamãs que pronunciarem seus nomes antes de nela penetrarem, a fim de preservarem suas individualidades(Castañeda, cf. op . cit., pg. 94).


.O intento é uma forma de atenção concentrada, e alcança a sua perfeição na esfera daTerceira Atenção, tema bastante hermético e em torno do qual devemos tecer aqui alguns esclarecimentos, não tanto nas complexidades do sonhar ou com experiências psíquicas, mas no próprio plano da mente criativa , conforme ensinado pela Escola Trans-Himalaya. A nova Raça realizará uma fusão entre as duas formas de trabalho. Por isto também se denomina neo- xamanismo ao novo trabalho racial. Iniciando pela questão dos alinhamentos , observamos que Don Juan ensina que o principal trabalho do terceiro grau é realinhar os feixes de energia mobilizados nas experiências inconscientes realizadas sob o comando do Nagual. O trabalho sobre os centros energéticos é objetivo no sistema tolteca, pela manipulação por vezes direta dos campos de energia no ho-mem, aumentando a responsabilidade e a atuação do nagual ao ponto máximo. O realinhamento é obtido recordando-se as experiências preservadas no inconsciente, o rememorizar significa reviver e assimilar em definitivo. Estes compartimentos de memória são reativados através da impecabilidade de vida. Enquanto o guerreiro não estiver preparado para assimilar de forma consciente estas vivências, elas permanecem depositadas no seu inconsciente e não interferem de modo substancial na vida do indivíduo. À medida em que o iniciado alinha sua personalidade ele move o ponto de aglutinação reativando as memórias esquecidas. No sistema áryo isto toma a forma do alinhamento da Personalidade , agrupando a tríade básica dos planos. Para isto é preciso trabalhar a mente de forma criativa, empregando a tensão interior como uma ferramenta.



 


O pontode aglutinação é trabalhado de forma distinta, sendo diretamente manuseado pelo próprio iniciado, que deve aprender a "focalizar o olho da Águia", o que é feito sob a influência de uma energia superior. Este é um grau muito abstrato porque envolve o trabalho direto com energias. A energia se torna um objeto de manipulação direta, e o instrumento para isto é a vontade ou a intenção. É preciso gerar um instrumento sutil para manusear as energias sutis. Em certo nível, o intento corresponde à tensão mental e à força de vontade. A intenção deve ser exercida de forma pura e relaxada. O trabalho impessoal exercita a alma para alcançar isto. A tensão interna (produto direto da concentração de energias) é muito enfatizada na Agni Ioga, técnica que trabalha diretamente neste nível, mobilizando as energias criativas e contatando o "imã cósmico". Neste grau o iniciado deve exercitar as suas asas de luz através da qual poderá ter acesso aos mundos sagrados. Sem isto ele pereceria no além, devendo antes permanecer na atmosfera terrena se possível.O intento é um atributo próprio do corpo energético. Através dele exercitamos a vontade pura e a energia.


. Esta técnica envolve formas de intenção dirigida ou de "mobilidade mental criativa". No sistema tolteca o terceiro grau se chama vidente . Está associado à perda da forma humana, o que apresenta entre os seus sinais a aparição de um grande olho diante da consciência interna (cf. Castañeda, O Segundo Círculo do Poder , pg. 118), sinalizando o sucesso do alinha-mento das energias. Através deste olho o guerreiro pode sonhar livremente sem adormecer, situação considerada a condição "mais sofisticada" que um vidente é capaz de alcançar. No esquema áryo este grau também está relacionado à "terceira visão" e ao "olho único", pois se caracteriza pela clarividência, que é basicamente a percepção interna de coisas sutis como o movimento das energias. O nagual Don Juan afirma que " ver só acontece quando a gente se esgueira entre os mundos, o mundo das pessoas comuns e o mundo dos feiticeiros."(Castañeda, Viagem a Ixtlan , Pg. 235) e que ''uma energia serena e transbordante (vigor e juventude que saltam aos olhos) é a marca de um guerreiro que vê''.
De certo modo, ver é a coroação do intento.

Ver não envolve apenas o sentido da visão, mas sim o ato de vontade e participação implícito no olhar, a essência interna que nos possibilita ter consciência das coisas. Assim, para os xamãs toltecas, no ato de ver a vista não é algo que se emprega para olhar, mas para atuar sobre aquilo que é visto (cf. Castañeda, El Lado Activo del infinito , pg. 231).Se olhar se dirige para as formas externas, ver se refere à energia que existe oculta nas formas. "(Como) a energia é o resíduo irredutível de tudo, ver energia diretamente é o máximo para um ser humano." (Castañeda, op. cit. , pg. 256).

Após o terceiro grau o Nagual se prepara para a sua iluminação e liberação. Geralmente ele aguarda para isto o pleno cumprimento do Regulamento, que inclui o compromisso de completar e orientar um novo grupo. No geral a liberação também é realizada de forma grupal, embora hajam casos em que os guerreiros partam um a um. Esta iluminação está associada ao Samadhi no Samyama áryo-oriental e ao que chamaríamos de "Quarta Atenção", um estado jamais contemplado pelas linhagens toltecas ou, pelo menos,nunca mencionado pelos novos videntes (talvez porque o toltequismo realiza certa fusão de categorias ), mas que na idade áurea do toltequismo pode ter sido bem conhecido.
 
No quarto grau o iniciado passa por provas supremas e as vence unicamente através do acesso a energias sagradas. Após isto, sua tarefa é em princípio meramente o fortalecimento da energia divina que contata. Por ser um grau sagrado, este iluminado pode ser posto em contato com grupos para dinamizar as suas energias. Será um Nagual no sentido superior do termo, isto é, um Arhat , que significa "vitorioso" ou "venerável".

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