quinta-feira, 8 de agosto de 2013

KAFKA E O TRIBUNAL INVISÍVEL

 


No dia 03 de julho de 1883 nasceu Franz Kafka em Praga, umdos escritoresque mais influência exerceu na literatura moderna, especialmente na concepção de mundos que são alegorias de outros mundos e na consciência do absurdo. Sem dúvida, um dos escritores que mais transformaram a consciência literária no último século. Este arisco e lacônico escritor de origem judaica se destacou como ninguém por haver cravado na mente popular mundial um adjetivo derivado do seu próprio nome: o ''KAFKIANO'', usado para descrever, paradoxalmente, uma sensação quase indescritível, que beira o absurdo e perturbador mas que aparece também para referir-se a um sentido metafísico oculto, do qual nossas vidas são uma sobrecarregada alegoria.
O PROCESSO e O CASTELO são suas principais obras e compartilham uma temática fundamental, como escreve Roberto Calasso em seu livro K.:
 
O Processo e O Castelo são histórias nas quais se trata de concluir uma diligência investigativa: desfazer-se de um processo penal e confirmar uma nomeação. Tudo sempre gira em torno de uma eleição, o mistério da eleição, sua obscuridade impenetrável. em O Castelo, K. deseja a eleição e isto complica infinitamente toda a ação. Em O Processo, Josef K. quer se livrar da eleição (processo ou inquérito de que está sendo objeto) e isto complica igualmente toda a ação. Ser escolhido, eleito, absolvido ou condenado: modalidades do mesmo procedimento... O eleito e o condenado são os escolhidos, aqueles que são separados do rebanho, da multidão, de entre todos. Este isolamente é a origem da aungustia (kafkiana) que constrange todo o romance.
Este particular entendimento de um sistema metafísico que parece reger a realidade e a moralidade, penetrou na mente de Kafka, ao que parece em dezembro de 1910, em ''um período sombrio e estéril'' no qual, sem poder escrever, Kafka registrou ''Ouço permanentemente uma invocação''. ''Oh, se tu viesse, tribunal invisível!''. Aqui talvez esteja o momento chave da enigmática existência literária de Franz Kafka. Explica Calasso:
O mesmo Kafka, quando em sua desolação se permitiu invocar uma entidade denominada ''Tribunal Invisível'', não pedia outra coisa senão colocar-se nas mãos do tribunal e do Castelo, inclusive sabendo o que lhe esperava. Mas suspeitava que apenas mediante aqueles tormentos alcançaria a vida que de outra forma lhe seria negada.
Elias Canetti observa que ''Kafka é, entre todos os escritores, o maior especialista em 'poder', em ''potência''. Digo no poder indeterminado e ilimitado, que abarca todas as coisas. Sua máxima virtude como escritor é representar metaforicamente essa potência ainda não dissociada, inabarcável, em uma estrutura de poder com aqual podemosnos relacionar. Um tribunal e um castelo que se parecem suficientemente com nossos tribunais e nossos castelos para que possamos vincula-los com uma narrativa existencialista do poder mas diferem suficientemente para nos mostrar o enigma dessa potência celeste incompreensível (aquela da burocracia metafísica, dos Arcontes, do ''Soberano Saturnal'',com diz Calasso).
Como regalo adicional, Calasso, o grande escritor do ocultismo na literatura clássica, identifica uma jóia literária na qual Kafka faz alusão á magia, á qual concebe essencialmente como uma linguagem que opera sobre o mundo:
''É perfeitamente imaginável que a magnificência da vida está disposta, sempre em toda plenitude, em torno de cada um, mas coberta por um véu, nas profundezas, invisível, muito longínqua. Entretanto está ali, sem hostilidade, sem desgosto, semsurdez, vem até ti se vocêsouber chamá-la pela palavra correta, pela modulação correta do seu ''nome''.
 
 
 

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