terça-feira, 22 de outubro de 2013

Ler Dostoiévski permite compreender melhor as emoções dos outros


Estudo da New School for Social Research de Nueva York mostra que mesmo períodos curtos de leitura fortalecem a inteligência emocional que nos permite compreender melhor as outras pessoas, especialmente quando se lê os grandes autores que exploram os abismos da natureza humana.

Os grandes escritores e escritoras tem a fama de entender com assombrosa claridade as contradições mais íntimas da natureza humana. Não são poucas as obras e os autores que nos desvelam e detalham situações que ocasionalmente consideraríamos inexplicáveis, sobretudo quando estas sucedem com nós mesmos: os zelos, o desengano amoroso, a felicidade buscada, a paixão desenfreada, etc.. O interessante é que entender ou apenas tentar entender estas circunstâncias resulta num melhor e mais depurado conhecimento de nós mesmos e também dos outros. Se entendemos nossos dilemas é possível que sejamos mais compreenivos com os dilemas dos outros.

Há poucos dias a prestigiosa revista acadêmica Science publicou os resultados de um estudo ( los resultados de un estudio ) no qual investigadores da New School for Social Research de Nueva York se questionaram pelo efeito que a leitura de ficção tem sobre atitudes como a nossa empatia, nossa percepção do entorno social e nossa chamada ''inteligência emocional''.

Cabe ressaltar que a investigação opôs á literatura de ficção (alta literatura) á outras classificações como ficção-popular (best-sellers) ou os textos de âmbito anglo-saxão que se conhecem como ''não-ficção''. De acordo Emanuele Castano y David Comer Kidd, os investigadores responsáveis, isto se deve ao fato de que a ficção literária estimula a imaginação, deixando aberta a porta para que os leitores façam suas próprias inferências sobre as particularidades de cada personagem, a sutileza e a complexidade de suas emoções. Enfim, a riqueza humana da qual toda grande literatura é feita.

No estudo participaram pessoas entre 18 e 75 anos, que receberam 2 ou 3 dólares para ler durante alguns minutos obras de Don DeLillo ou Wendell Berry ou, por outro lado, um best-seller de Gillian Flynn ou um conto de ficção-científica de Robert Heinlein. Depois disto, os voluntários responderam um questionário desenhado para avaliar sua capacidade de decodificar as emoções dos outros ou predizer as expectativas de uma outra pessoa em determinadas situações. Uma prova, por exemplo, consistiu em olhar 36 fotografías de olhos de pessoas e eleger quatro adjetivos que caracterizassem cada um desses olhares.

Os resultados obtidos mostraram que os leitores de ficção (contos, romances, etc) puderam identificar melhor as emoções dos outros, principalmente nos casos em que acharam particularmente agradável aquilo que tinham lido.

David Comer Kidd justifica o contraste entre literatura e outras leituras em razão da abertura que caracteriza a primeira. Enquanto na literatura de best-sellers o autor ''tem o controle e o leitor desempenha um papel mais passivo'', na grande literatura de ficção, como na de Dostoiéviski, ''NÃO HÁ UMA ÚNICA VOZ GERAL DO AUTOR: CADA PERSONAGEM APRESENTA UMA VERSÃO DIFERENTE DA REALIDADE QUE NÃO SÃO NECESSARIAMENTE CONVERGENTES. O LEITOR SE VÊ OBRIGADO A PARTICIPAR ATIVIMENTE DESTA DIALÉTICA, DA MESMA FORMA COMO FAZ COM OS PERSONAGENS DE SUA VIDA REAL''.

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