sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Eu penso nos críticos literários daqui...


 
No Brasil, onde a crítica literária oficial (concentrada na cidade de São Paulo)carece completamente de inteligência cultural efetiva e autêntica erudição, as palavras de Macedônio Fernandes, nativo de uma pátria como a Argentina, onde os críticos literários mais respeitados foram também grandes poetas e escritores, o que não acontece no Brasil, caem como uma luva: "a idéia de classificar e hierarquizar assuntos de arte é uma desgraça''. A exposição pública total do meu processo criativo é o artifício do qual lanço mão para enfatizar meu saudável distanciamento da atividade mimética, estéril e meramente acadêmica da crítica da crítica daqui e reforçar a idéia de que me defino pela autonomia absoluta em relação às representações naturalizadas na realidade social sobre mim por uma crítica literária invejosa, inculta e desclassificada. Por que todo crítico literário é para mim, antes de tudo, um porco complexado -e especialmente esses do nosso tempo. Todos aqueles homenzinhos de olheiras fundas, curvados e barrigudos, cheios de pontos de referência literários artificiais no espírito, quero dizer, de um certo lado da cabeça, por que o espírito já lhes abandonou há muito tempo. Todas essas múmias decrépitas que passam o dia inteiro num canto sombrio de seus apartamentos lustrando seus cérebros apodrecidos para depois se apresentarem em salas de aula e oficinas de arte como mestres em sua língua - eu fico pensando na biliosidade cancerígena de suas tarefas precisas, nesse rangido de jegues mastigando capim. Todas essas criaturas cheias de modos afetados e irritadiços, desses que acreditam em classes de sentimentos e padrões de personalidade e que discutem um grau qualquer de suas hilariantes classificações, que acreditam ainda que o uso acadêmico dos termos de um vocabulário pode levar a arte a algum lugar, que recebem o jornal de manhã e ficam a manhã inteira remoendo as ideologias do momento e escrevendo tirinhas sobres as correntes de pensamento em destaque na época para postarem em seus blogs --- são porcos!

----Como você é gratuito, moço(!)
---- Não, eu penso nos críticos literários daqui...
 
Girando e girando em círculos que se ampliam,
O falcão não pode mais ouvir os comandos do falcoeiro;
Os contos se despedaçam; a narrativa se desloca;
A anarquia está à solta no livro,
A maré de tinta enfurecida está à solta e por toda parte
A cerimônia da epifania está sendo relatada e fotografada;
Aos melhores ela fala de luz espiritual e convicção
Enquanto os piores se queimam com o ardor de seu fogo.
Certamente alguma revelação está por acontecer,
Certamente a Segunda Vinda está por acontecer.
A Segunda Vinda! Mal essas palavras são proferidas
Uma vasta imagem sai do Spiritus Mundi
Perturbando minha vista: em algum lugar nas areias do deserto
Uma forma com corpo de leão e cabeça de homem,
De olhar vazio e impiedoso como o sol,
Move as coxas lentas, enquanto à sua volta
Circulam as sombras de pássaros irados do deserto.
A escuridão baixa novamente, mas agora eu sei
Que vinte séculos de um sono espiritual de pedra
Viraram um pesadelo literário saído de um berço
E que uma besta literária agora ruge, na hora enfim chegada,
Arrastando-se rumo a Belém para nascer.
 

KALKI-MAITREYA
 

 

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