terça-feira, 11 de junho de 2013

Arrancado das profundezas


Gostaria de frisar, mais uma vez, que o símbolo do peixe constitui uma representação espontânea da figura do Cristo do Evangelho e tbm um sintoma que mostra de que modo e com que significado ele foi assumido pelo inconsciente. Sob este aspecto, a alegoria patrística da captura do Leviatã (a cruz entendida como anzol e o Cristo preso á ela como isca) é sumamente característica: Capturou-se um conteúdo (peixe), do fundo do inconsciente (mar), que ficou preso á figura de Cristo. Daí provém, provavelmente, a expressão característica de Agostinho: de profundo levatus (tirado das profundezas), que se aplica ao peixe. E tbm á Cristo? A figura do peixe surge das profundezas do inconsciente, ao encontro de Cristo, e quando Cristo era invocado como Ichthys (peixe), tal designação dizia respeito áquilo que fora arrancado das profundezas do inconsciente. O símbolo do peixe representa, portanto, uma ponte entre a figura histórica de Cristo e a natureza psíquica do homem no qual repousa o arquétipo do Redentor. Por esta via, Cristo se converteu na experiência interna, no ‘’Cristo em nós’’.
Como acabo de mostrar, o simbolismo do peixe na Alquimia conduz em linha reta ao lápis philosophorum (pedra filosofal), ao salvator, servator e deus terrenus (salvador, conservador e deus terreno), ou seja ,psicologicamente falando, ao SI-MESMO. Assim surge um novo símbolo, em lugar do peixe, ou seja, um conceito psicológico da totalidade do homem. Do mesmo modo que o peixe significa mais ou menos Cristo, assim tbm o SI-MESMO significa a divindade. Mas se trata de correspondência e experiência interior, de uma recepção de Cristo na matriz psíquica ou de uma nova realização do Filho de Deus, não mais sob um simbolismo teriomórfico e sim sob um simbolismo conceitual ou filosófico. Desse modo se expressa claramente uma TOMADA DE CONSCIÊNCIA, ao invés de um peixe mudo e inconsciente.
C.G.JUNG

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