http://teorialiterariaufrj.blogspot.com.br/2009/07/modernidade-em-baudelaire.html
A importância de Baudelaire na tradição literária do ocidente consiste basicamente na instauração da Modernidade (haja vista o fato de que fora ele quem forjou o vocábulo Mordenité) na estrutura lírica de composição poética. Esta modernidade se vai caracterizar pela dialética de razão e paixão no nível da estrutura e do sentido da construção poemática. Isto significa dizer que se vai harmonizar em sua obra o máximo de vigor passional com o máximo de rigor racional. Como já foi dito, essa harmonização se dá no nível estrutural (no que se diz respeito a forma que delineia o sentido ) e no nível semântico (no que diz respeito ao sentido delineado pela forma); agora, a importância dessa harmonização de duas potências consideradas estanques por toda a tradição do pensamento ocidental (razão e paixão) é que a vida em si mesma não promove a separação dos contrários pois que tudo o que se manifesta , não apenas no fazer humano, mas na vida cósmica em geral, se dá a partir dessa tensão harmônica de essências opostas.
Por exemplo, não se dá o surgimento de todas as cores sem o entrelaçamento de luz e trevas, não nasce uma nova árvore sem a morte da semente e assim por diante.
Quando Baudelaire aplica essa harmonização de contrários no fazer poético, ele está aproximando a arte literária da vida , mostrando que a ficção não é algo estanque da realidade circundante.
2- A modernidade como representação dos conflitos nas grandes cidades
A realidade que cercava Baudelaire era a de mudanças na estrutura da sociedade ocidental nos séculos XIX e XX com o evidenciamento da vida urbana e com a instauração de uma nova ordem burguesa e capitalista, que acabaram por chocar o sujeito urbano desse tempo já que essa nova ordem era constituída sem um centro fixo ou um organizador comum.
A Paris, do Segundo Império no século XIX, em que o poeta viveu, também como as outras grandes cidades ,sofreu essas transformações por meio do surgimento de uma vida urbana, da construção de grandes avenidas, mercados ,teatros etc, fazendo com que a convivência das pessoas se transferisse de suas casas para as ruas cada vez mais movimentadas da cidade e com que diversas classes sociais, como desde um aristocrata a um réles da sociedade se defrontassem num mesmo local.
A construção dessa metrópoli-labirinto além de expor os contrastes sociais, também contrastava o indivíduo com a multidão. Pois ao chegar na rua o sujeito urbano perdia sua individualidade e passaria a ser simplesmente mais um na multidão.
Neste momento, também presenciamos uma modernização no comércio que traz para o parisinense uma inovação : as galerias e suas vitrines ilumindas que ao mesmo tempo que expunham a mercadoria, fascinavam aquele que vagava pelas ruas.
O que traz à cena o flâuner, muito retratado nas obras de Baudelaire; um errante que se entrega a compulsão de sujeito urbano, que passeia prazerosamente sem destino pelas galerias e pelas ruas da metrópoli-labirinto mas, que ao mesmo tempo não perde sua natureza inumana.
Em meio a essa experiência nova, onde o sujeito poderia se defrontar com a multidão e com a velocidade das mudanças na sociedade moderna, Baudelaire viu-se obrigado a refletir e a trabalhar essas transformações que trouxeram à tona esses constrastes sociais outrora camuflados e a expor essa dualidade presente na arte e na vida , dedicando a esse tema -modernidade, vários de seus textos poéticos e ensaios.
3- A definição de modernidade para Baudelaire
Segundo o filósofo Walter Benjamim, Baudelaire é o primeiro poeta a trabalhar em sua obra a crise e os constrastes da modernidade capitalista e industrial.
Em seu ensaio "Le peintre de la vie moderna"
que foi dedicado ao pintor Constantin Guys por quem Baudelaire não esconde
admiração e não poupa elogios à sua arte, vemos a demonstração mais clara do
conceito de modernidade em Baudelaire quando ele afirma que o artista, ou
melhor, como ele recoloca , o homem do mundo, ou seja aquele que não está
submetido à uma área específica , mas que se interessa e aprecia assuntos do
mundo inteiro (assim ele define Guys); retira da moda atual e de seu momento
histórico o que tem de poético, portanto, retira do transitório o que tem de
eterno para alcançar a essência do belo.
"A modernidade é o transitório,o efêmero,o contigente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável"
4- Conclusão
Baudelaire não foi entendido por sua época sendo pouco lido e tendo alguns de seu poemas proibidos.
Talvez, porque tenha provocado na sociedade um certo horror por representar com muita maestria o choque que a modernidade capitalista e industrial causou em seu tempo.
Uniu o clássico com o moderno, denunciou por meio de uma dualidade sempre presente em seus poemas (pois para ele a modernidade está ligada à noção de conflitos) os constrastes sociais de sua cidade, aproximando a arte da vida, promovendo importantes reflexões que ecoam até os dias de hoje.
Bibliografia:
BAUDELAIRE, Charles. "O pintor da vida moderna". In: Obras Completas
"A modernidade é o transitório,o efêmero,o contigente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o imutável"
4- Conclusão
Baudelaire não foi entendido por sua época sendo pouco lido e tendo alguns de seu poemas proibidos.
Talvez, porque tenha provocado na sociedade um certo horror por representar com muita maestria o choque que a modernidade capitalista e industrial causou em seu tempo.
Uniu o clássico com o moderno, denunciou por meio de uma dualidade sempre presente em seus poemas (pois para ele a modernidade está ligada à noção de conflitos) os constrastes sociais de sua cidade, aproximando a arte da vida, promovendo importantes reflexões que ecoam até os dias de hoje.
Bibliografia:
BAUDELAIRE, Charles. "O pintor da vida moderna". In: Obras Completas
Por:
Lúcia R. R. (DRE 086210714) e Taáte P. Tomaz Silva (DRE 107369090)
Lúcia R. R. (DRE 086210714) e Taáte P. Tomaz Silva (DRE 107369090)
(...)
SOBRE A MODERNIDADE,
(trecho: A Moda e o conceito de Belo))
Charles Baudelaire
Há neste mundo, e
mesmo no mundo dos artistas,
pessoas que vão ao
Museu do Louvre, passam
rapidamente — sem se
dignar a olhar — diante de um
número imenso de
quadros muito interessantes
embora de
segunda categoria
e plantam-se
sonhadoras diante de
um Ticiano ou de um Rafael, um
desses que foram mais
popularizados pela gravura;
depois todas saem
satisfeitas, mais de uma dizendo
consigo: “Conheço o
meu museu”. Há também
pessoas que, por
terem outrora lido Bossuet e Racin
e,
acreditam dominar a
história da literatura.
Felizmente, de vez em
quando aparecem
justiceiros,
críticos, amadores autodidatas e intuitivos que afir
mam
nem tudo estar em
Rafael nem em Racine, que os
poetae minores
possuem
[página 7]
algo de bom, de
sólido e de brilhante,
e, finalmente, que mesmo
amando tanto a beleza
geral, expressa pelos poetas
e
artistas clássicos,
nem por isso deixa de ser um er
ro
negligenciar a beleza
particular, a beleza de
circunstância e a
pintura de costumes.
Devo convir que o
mundo, de alguns anos para cá,
se corrigiu um pouco.
O valor que os amadores
atribuem hoje aos
mimos gravados e coloridos do
século XVIII prova
que houve uma reação na direção
reclamada pelo
público: Debucourt, os Saint-Aubin e
muitos outros
entraram para o dicionário dos artist
as
dignos de serem
estudados. Mas eles representam o
passado. Ora, hoje
quero me ater estritamente à
pintura de costumes
do presente. O passado é
interessante não
somente pela beleza que dele
souberam extrair os
artistas para quem constituía o
presente, mas
igualmente como passado, por seu valo
r
histórico. O mesmo
ocorre com o presente. O prazer
que obtemos com a
representação do presente deve-se
não apenas à beleza
de que ele pode estar revestido
,
mas também à sua
qualidade essencial de presente.
Tenho diante dos
olhos uma série de gravuras de
modas que começam na
Revolução e terminam
aproximadamente no
Consulado. Esses trajes que
provocam o riso de
muitas pessoas insensatas, essas
pessoas sérias sem
verdadeira seriedade apresentam
um fascínio de uma
dupla natureza, ou seja, artísti
co e
histórico. Eles quase
sempre
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são belos e
desenhados com
elegância, mas o que me importa,
pelo menos em
idêntica medida, e o que me apraz
encontrar em todos ou
em quase todos, é a moral e a
estética da época. A
idéia que o homem tem do belo
imprime-se em todo o
seu vestuário, torna sua roupa
franzida ou rígida,
arredonda ou alinha seu gesto e
inclusive impregna
sutilmente, com o passar do
tempo, os traços de
seu rosto. O homem acaba por se
assemelhar àquilo que
gostaria de ser. Essas gravur
as
podem ser traduzidas
em belo e em feio; em feio,
tornam-se
caricaturas; em belo, estátuas antigas.
As mulheres que
envergavam esses trajes se
pareciam mais ou
menos umas às outras, segundo o
grau de poesia ou de
vulgaridade que as distinguia.
A
matéria viva tornava
ondulante o que nos parece
muito rígido. A
imaginação do espectador pode ainda
hoje movimentar e
fremir esta
túnica
ou este
xale
.
Talvez, um dia
desses, será montado um drama num
teatro qualquer, onde
presenciaremos a ressurreição
desses costumes nos
quais nossos pais se achavam tã
o
atraentes quanto nós
mesmos em nossas pobres roupas
(que também têm sua
graça, é verdade, mas de uma
natureza sobretudo
moral e espiritual, e se forem
vestidos e animados
por atrizes inteligent
es,
nós nos admiraremos
de nos terem despertado o riso
de modo tão leviano).
O passado, conservando o sabo
r
do fantasma,
recuperará a luz e o movimento da vida
,
e se tornará
presente.
[página 9]
Se um homem imparcial
folheasse uma a uma
todas
as modas francesas
desde a origem da França
até o momento, nada
encontraria de chocante nem de
surpreendente. Seria
possível ver, sim, as transiçõ
es
organizadas de forma
tão gradativa quanto na escala
do mundo animal.
Nenhuma lacuna; logo, nenhuma
surpresa. E se ele
acrescentasse à vinheta que
representa cada época
o pensamento filosófico que
mais a ocupou ou
agitou, pensamento cuja lembrança
é inevitavelmente
evocada pela vinheta, constataria
a
profunda harmonia que
rege toda a equipe da históri
a,
e que, mesmo nos
séculos que nos parecem mais
monstruosos e
insanos, o imortal apetite do belo
sempre foi saciado.
Na verdade, esta é
uma bela ocasião para
estabelecer uma
teoria racional e histórica do belo
, em
oposição à teoria do
belo único e absoluto; para
mostrar que o belo
inevitavelmente sempre tem uma
dupla dimensão,
embora a impressão que produza seja
uma, pois a
dificuldade em discernir os elementos
variáveis do belo na
unidade da impressão não
diminui em nada a
necessidade da variedade em sua
composição. O belo é
constituído por um elemento
eterno, invariável,
cuja quantidade é excessivament
e
difícil determinar, e
de um elemento relativo,
circunstancial, que
será, se quisermos, sucessiva o
u
combinadamente, a
época, a moda, a moral, a paixão.
Sem esse segundo
elemento, que é como o invólucro
aprazível,
palpitante, ape-
[página 10]
ritivo do divino
manjar, o primeiro
elemento seria indigerível,
inapreciável, não
adaptado e não apropriado à
natureza humana.
Desafio qualquer pessoa a descobri
r
qualquer exemplo de
beleza que não contenha esses
dois elementos.
Escolho, se
preferirem, os dois escalões extremos
da história. Na arte
hierática, a dualidade salta à
vista;
a parte de beleza
eterna só se manifesta com a
permissão e dentro
dos cânones da religião a que o
artista pertence. A
dualidade se evidencia igualmen
te
na obra mais frívola
de um artista refinado pertenc
ente
a uma dessas épocas
que qualificamos com excessiva
vaidade de
civilizadas; a porção eterna de beleza
estará ao mesmo tempo
velada e expressa, se não pel
a
moda, ao menos pelo
temperamento particular do
autor. A dualidade da
arte é uma conseqüência fatal
da
dualidade do homem.
Considerem, se isso lhes apraz,
a parte eternamente
subsistente como a alma da arte
, e
o elemento variável
como seu corpo. É por isso que
Stendhal, espírito
impertinente, irritante, até mes
mo
repugnante, mas cujas
impertinências necessariament
e
provocam a meditação,
se aproximou mais da verdade
do que muitos outros
ao afirmar que
o belo não é
senão a promessa da
felicidade
. Sem dúvida, tal
definição excede seu
objetivo; ela submete de forma
excessiva o belo ao
ideal indefinidamente variável
da
felicidade; despoja
com muita desenvoltura o belo d
e
seu caráter
aristocrático, mas
[página 11]
tem o grande
mérito de afastar-se
decididamente do erro dos
acadêmicos.
Já expliquei estas
coisas mais de uma vez; estas
linhas são
suficientes para aqueles que apreciam os
exercícios do
pensamento abstrato.
(...)
Vale a pena lembrar rapidamente a história conturbada da publicação dos ensaios benjaminianos sobre Baudelaire, pois ela testemunha, de maneira exemplar, as dificuldades de toda ordem, que Benjamin enfrentou nos seus últimos anos de vida. Essa história também nos previne contra uma interpretação apressada e globalizante que leria nesses textos uma teoria acabada da poesia moderna e da grande cidade, enquanto são partes, importantes, sem dúvida, de uma obra maior que não chegou a se realizar. História que também diz respeito às difíceis relações de Benjamin com o Instituto de Pesquisa Social, do qual dependia financeiramente, em particular com o amigo/discípulo/rival Adorno. Benjamin escreveu o primeiro ensaio, “A Paris do Segundo Império”, em fins de 1938 e o enviou à revista do Instituto. Numa carta que devia tornar-se famosa (de 10 de novembro de 38), Adorno o criticou severamente, deplorando a sua falta de articulação teórica, em particular, de argumentação dialética. Em nome da redação, pediu um remanejamento profundo do texto. Benjamin atendeu rapidamente às exigências desse “parecer negativo”, o que indica certamente mais uma urgência econômica que um acordo com as críticas de Adorno quanto ao fundo. Fruto dessa segunda redação é o ensaio “Sobre Alguns Temas em Baudelaire”, escrito entre fevereiro e julho de 39, que retoma principalmente os materiais trabalhados no segundo capítulo da primeira versão (“O Flaneur”) e lhes acrescenta elementos teóricos novos, ligados a uma explicitação dos conceitos de choque, de memória e de tempo em Baudelaire. Durante o ano de vida que lhe sobrou, Benjamin não chegou a reformular os primeiros e terceiros capítulos. A Revista de Pesquisa Social aceitou esse manuscrito e o publicou no seu número de janeiro de 40, o último, aliás, a sair na Europa antes da transferência definitiva da revista para Nova York.
ResponderExcluirhttp://www.ebah.com.br/content/ABAAAA63EAC/baudelaire-benjamin-moderno
ExcluirAo ler Benjamin sobre Baudelaire devemos, portanto, nos contentar com os fragmentos de uma interpretação e não esperar uma construção teórica acabada. Apesar disso, a leitura benjaminiana provocou mudanças consideráveis na compreensão tradicional de Baudelaire, pois relaciona, de maneira convincente, a estrutura íntima dessa obra às novas condições de produção da arte na modernidade. É justamente esse conceito-chave tanto para a poesia de Baudelaire como para a interpretação de Benjamin, esse tão falado conceito de “modernidade”, que gostaria de explicitar aqui. Proponho proceder em três passos principais: primeiro, apresentar uma breve história do conceito; segundo, uma análise do texto programático de Baudelaire, “O Pintor da Vida Moderna”2 e, enfim, uma descrição sucinta da transformação e da ampliação da categoria de modernidade em Benjamin. A referência crítica básica desse artigo é o livro de H. R. Jauss, consagrado à consciência da modernidade da literatura. Jauss relata o surgimento do conceito de modernidade, mostra o seu lugar central em Baudelaire e, num apêndice, critica a interpretação benjaminiana. Segundo o nosso crítico, Benjamin teria cometido vários erros de leitura, negligenciando as conotações positivas da modernidade em Baudelaire, em proveito de uma denúncia, de cunho materialista, da alienação da vida urbana
ResponderExcluir“O Pintor da Vida Moderna” (1859), repousa sobre esse caráter paradoxal do moderno. Baudelaire se opõe à concepção acadêmica e tradicional do Belo como forma eterna e absoluta, ironizando os turistas apressados que atravessam o Louvre em sua busca, parando religiosamente na frente dos quadros famosos e obrigatórios, negligenciando os “menores”. Contra essa idéia atemporal do Belo, Baudelaire pretende desenvolver uma “teoria racional e histórica do belo” que dê conta do elemento temporal, histórico, fugitivo da beleza. Esse vela, mas, ao mesmo tempo, mostra e exprime o eterno da Beleza que só pode se manifestar sob essa aparência transitória e fugaz. O exemplo privilegiado de Baudelaire é a moda, (categoria que tornar-se-á muito importante para Benjamin), que, longe de ser um fenômeno superficial, dá a ver, mostra a beleza em cada uma das suas configurações históricas
ResponderExcluirhttp://www.ebah.com.br/content/ABAAAA63EAC/baudelaire-benjamin-moderno
ExcluirAo citar a definição da modernidade do “Pintor da Vida Moderna”, a “modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte, sendo a outra metade o eterno e o
ResponderExcluirimutável”, Benjamin conclui de maneira depreciativa: “Não se pode dizer que isso vá fundo na questão”.1 Jauss observa o tom peremptório dessa crítica12 e afirma que Benjamin não captou o sentido fundamentalmente positivo de “modernidade” em Baudelaire por duas razões: ele não entende a dialética entre antigo e moderno, em particular o fato de que “antigo” não remete mais, em Baudelaire, ao paradigma da Antiguidade mas, sim, ao par obsoleto-novo; por isso Benjamin criticaria a ausência em Baudelaire de uma confrontação teórica mais apurada com a arte da Antiguidade, enquanto tal ausência é devida a uma mudança de paradigmas teóricos, segundo Jauss. Nas suas análises, Benjamin sublinharia o apego de Baudelaire a uma imagem idealizada de natureza e sua aversão pela grande cidade, insistindo na crueldade da modernidade sem perceber os traços positivos desse conceito em Baudelaire. Curiosamente, jauss deduz esses mal-entendidos da postura marxista de Benjamin, que queria ler a obra de Baudelaire como uma denúncia do capitalismo e não como uma descrição positiva da emergência da modernidade.
Ora, se podemos concordar com a justeza de várias das observações de Jauss, não precisamos aceitar o seu balanço final. A nossa hipótese é muito mais que Benjamin descobre “em” Baudelaire uma modernidade que não coincide com a modernidade “segundo” Baudelaire, notadamente com as descrições entusiastas do “Pintor da Vida Moderna”. Nas Flores do Mal e no Spleen de Paris o heroísmo de C. Guys é substituído pela alternativa dilacerante entre conquista do belo e do novo e o triunfo do Aborrecimento, do tempo que tudo derrota e devora. Baudelaire não seria, então, o primeiro poeta moderno por ter tematizado a modernidade, mas porque a sua obra inteira remete à questão da possibilidade ou da impossibilidade da poesia lírica em nossa época. Essa questão é parte integrante das preocupações teóricas de Benjamin, a partir do fim dos anos vinte, a respeito das mutações sofridas pela produção estética nos séculos XIX e X. Os principais conceitos dessa reflexão orientam as análises da poesia de Baudelaire: a experiência (Erfahrung) na sua oposição à experiência vivida (Erlebnis), a memória (Gedächtnis), o lembrar (erinnern), a rememoração (Eingedenken), a harmonia do símbolo e a discrepância da alegoria, enfim, o valor de culto da arte tradicional e a perda da aura na arte moderna.
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAA63EAC/baudelaire-benjamin-moderno
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