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POR SÉRGIO MICELLI
O
exame das relações entre o jovem Borges e o letrado Macedonio
Fernández permite recuperar uma segunda fornada de energias
propulsoras do dispositivo vocacional borgeano. Nascido em Buenos
Aires no mesmo ano de seu pai, filho de um estancieiro, Macedonio foi
colega de turma e amigo íntimo do pai de Borges, tendo freqüentado
juntos o Colégio Nacional de Buenos Aires no secundário e, mais
tarde, a Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade de
Buenos Aires, na qual ambos se formaram e defenderam a tese de
doutorado, em 189820.
Pertenceram a uma turma famosa da faculdade, a qual incluía nomes
ilustres que se tornaram figurões da economia, da política e da
cultura argentinas21.
Além dos diversos amigos em comum, o pai de Borges freqüentava a
casa dos pais de Macedonio, local de encontro de políticos e homens
de letras, muitos dos quais participaram da criação do Partido
Socialista em 1896. O modo de funcionamento desses encontros deve ter
contribuído para as feições de sucessivos círculos de amigos
letrados que se organizaram em torno da tutela exercida por
Macedonio.
Julio Molina
y Vedia, outro integrante das tertúlias, herdeiro de uma dinastia de
grandes proprietários de terras, também amigo do pai de Borges,
interessado em filosofia e literatura, era arquiteto, o responsável
pela construção da casa dos Borges na calle Serrano22, revestida com elementos art nouveau
na fachada. Jorge Guillermo viria a resenhar um livro de poemas de
Julio, em 1929. Macedonio, por sua vez, comparecia com regularidade
às tardes de domingo na casa dos Borges.
Entre
os tempos de universitário e os primeiros anos da década de 1920,
quando começam a ser divulgados alguns de seus textos em revistas de
vanguarda, a produção intelectual esparsa de Macedonio se assemelha
em toda linha àquela do pai de Borges: ensaios sobre costumes e
logradouros argentinos, sonetos bissextos, escritos filosóficos de
esotérico teor metafísico, sem falar do aceso interesse de ambos por
psicologia. Macedonio tinha gosto em conceber aforismos e reflexões
inusitadas, mesclando tais lampejos com citações de leituras em seus
cadernos. Entre 1897 e 1920, ou seja, entre os 23 e os 46 anos de
idade, Macedonio produziu apenas alguns poemas e artigos, tendo firmado
presença quase mítica muito mais por intervenções orais, pela
fluência e pelas tiradas de sua conversa, pela boa estrela de sua
imagem entre os amigos23.
Ao
emitir o juízo de que "o talento de Macedonio era eminentemente
verbal", Borges contribuiu para a tendência crítico-historiográfica
de apreender o veterano letrado como conversador de primeira,
tornando esse virtuosismo, em meio aos embates da oralidade, uma
forma sutil de detração dos dotes como escritor. O fundo de verdade
nessa aposta borgeana pode ser atestado pelo exame de certas modalidades
de sua expressão literária nos dois livros publicados no final dos
anos 192024.
Assim, em Papeles de recienvenido,
os breves escorços autobiográficos nos quais infunde uma tagarelice
afetada, permeada por uma reflexividade ácida e auto-irônica, deixam
aflorar lampejos de auto-representação, como a declaração de
pertença às antigas famílias criollas, os olhos claros como
faiscante traço recessivo do rentista discreto. Esse mesmo volume
comporta falas e improvisos pré-fabricados, enunciados em jantares
comemorativos, de homenagem a escritores e artistas amigos ("Brindis de
recienvenido"), um epistolário endereçado aos amigos íntimos
("Correo casero de recienvenido"), sem falar da "Miscelânea" ao final
do livro e das centenas de revelações naqueles
textos em que se misturam arroubos filosofantes, intervenções
jornalísticas, poemas e contos dedicados à esposa morta.Advogados
atuantes, especialistas em psicologia, casados, na mesma época, com
mulheres procedentes de famílias prestigiosas da elite nativa, Jorge
Guillermo e Macedonio também desfrutavam de acesso aos mesmos espaços
de sociabilidade da nata de bacharéis: o Jóquei Clube, as festanças
comemorativas da formatura em direito, as temporadas de verão nas
propriedades de parentes. Ao que tudo indica, Macedonio deve ter se
correspondido com Jorge Guillermo durante a estadia dos Borges na
Europa, o que permitiu ao jovem Borges seguir de perto as peripécias
políticas e espirituais dessa espécie de mago politiqueiro iniciado
nos recessos da psique humana.
Os
traços que o distinguiam devem ter impressionado um bocado Borges, a
começar pelas investidas políticas de Macedonio, que teria chegado a
ponto de externar a pretensão de lançar-se candidato extrapartidário
à Presidência da República nas eleições vencidas por Marcelo de
Alvear. Gozação ou intento frustrado, tal projeto foi levado tão a
sério por todos os circunstantes, que acabou por integrar-se ao
anedotário canônico sobre Macedonio. Conforme dão a entender as
cartas trocadas com o primo e confidente, Marcelo del Mazo, essa
aventura para a qual mobilizou uma legião de amigos, inclusive o
pai de Borges, então em Madri, e na qual fica difícil deslindar a
realidade da fabulação alimentou sucessivos projetos literários,
desde a novela projetada em colaboração com o jovem Borges25, até a fatura caprichosa do personagem presidencial em sua novela mais ambiciosa, publicada muitos anos depois26.
Macedonio
foi se convertendo num duplo da figura paterna, réplica positiva e
isenta das deficiências do modelo, encarnada num vulto de homem com
traços análogos de geração e de classe. Tais vantagens decerto lhe
infundiram o desejo de assumir a missão de como que perfilhar o jovem
Borges, quer em termos de sociabilidade, quer em chave literária,
como fez questão de registrar no poema "Al hijo de un amigo",
composto nessa época e de pronto acolhido pelo homenageado na
antologia mencionada. Os versos de abertura nessa composição ungem o
jovem Borges como o messias em defesa da doutrina do projeto abortado
pela geração dos veteranos.
Essa
paternidade vicária foi assumida pelo escritor bissexto e pelo
pupilo, com conseqüências de peso para a imagem pública e a fortuna
crítica do padrinho literário e existencial, incensado como precursor
do Borges maduro e realizado, dando margem a certo rearranjo do
panteão literário argentino. Borges precisava dessa mexida de
posições: entronizar Macedonio como o mestre da geração inovadora
equivalia a derrubar Lugones do pódio prevalecente na década de 1920.
O empenho em alardear a oralidade criolla de Macedonio, tanto por parte do jovem Borges como pelos vanguardistas da revista Martín Fierro,
dotou-o de uma efígie enigmática, homem misterioso, que teria se
afastado dos familiares e dos círculos exclusivos em que fora
educado, notabilizado por idiossincrasias e tiques do argentino de
alta estirpe. Macedonio seria quase a antítese do escritor
convencional festejado, como Lafinur, outro arrimo de Borges.
Não tendo jamais pisado em algum país europeu ou latino-americano, Macedonio foi se conformando às feições do eterno "recienvenido",
candidato plausível e, a um tempo, inviável como liderança política
ou ideológica, uma referência emblemática no cultivo dessa mística do
criollo que se basta a si mesmo. Tocava guitarra, apreciava
os românticos alemães e os prelúdios de Rachmaninoff, vivia trocando
de pensão ou residindo em casas afastadas do centro, cultivando as
manias e as maquinações do gênio recluso.
O
rentista Macedonio Fernández del Mazo conseguia sobreviver da venda
de terras no campo e de terrenos na capital, uma calculada
dilapidação do patrimônio familiar. Apesar das feições narrativas
pouco convencionais do famoso relato autobiográfico, de 1929, as
esparsas achegas do livro manejam esses fumos de prestígio por meio
de predicados inerentes à sociabilidade oligárquica, tendo logrado
acionar os recursos expressivos que lhe permitiram simular o rechaço
do cotidiano .
As
excentricidades de Macedonio em diversos domínios, que se haviam
intensificado após a viuvez em 1920 a troca constante de locais de
residência, as mulheres que amava, um trem de vida inusitado
para o ramerrão burguês como que avivaram em Borges a empatia pelo
personagem e o interesse crescente por seus escritos. Borges acabou
enxergando-o como uma espécie de pai substituto, ou melhor, o
sucedâneo senhor de si, sem os óbices paternos, igualmente imaginativo,
mas destrambelhado, propenso a condutas intempestivas e
surpreendentes.
Macedonio
se correspondeu com o filósofo francês Arréat em torno da substância
do ego e, por quase seis anos, com o filósofo norte-americano
William James. Depois de formado, ele e outros colegas, entusiastas
do ideário socialista romântico, inspirado em Lasalle e Saint-Simon,
tentaram estabelecer uma comunidade utópica e anarquista numa ilha inexplorada do Paraguai em terras pertencentes à família Molina y
Vedia , primeira evidência do interesse candente pela atividade
política. A exemplo do pai de Borges e de tantos bacharéis e letrados
dessa geração nos países latino-americanos, leitores convictos de
Spencer e infensos aos poderes do Estado, Macedonio se enquadrava no
perfil dos membros da elite dirigente de livres pensadores e
anarquistas, atentos aos grandes acontecimentos do momento.
Por
conta desses ligamentos, não é de se estranhar que o jovem Borges
tenha se afeiçoado a Macedonio e o tenha convertido em modelo de
excelência "clandestino". Nos primeiros anos dessa amizade um tanto
assimétrica, o mestre "subterrâneo" e o discípulo "afilhado"
apreciavam os mesmos filósofos em especial, Schopenhauer , e
partilhavam tantas afinidades políticas que formularam o projeto,
jamais encetado, de escrever uma novela fantástica que abordaria os
meios empregados pelos maximalistas a multiplicação de muitas
pequenas moléstias para provocar uma neurastenia geral em todos os
habitantes de Buenos Aires e abrir assim caminho ao bolchevismo.
Com
o regresso dos Borges em 1921, e sob a instigação maravilhada de
Jorge Luis pelo quase mítico guru e por seus escritos, Macedonio se
incorporou à vida literária portenha, colaborando em diversos
periódicos e ampliando o rol de fervorosos jovens admiradores na
vanguarda. Em 1927, Macedonio deve ter instado Borges a aderir à
candidatura de Hipólito Yrigoyen, tendo ambos participado do Comité
Irigoyenista de Intelectuales Jóvenes. Os dois primeiros livros de
Macedonio foram editados no final dos anos 1920, o primeiro deles
custeado pelo autor, numa tiragem de apenas duzentos exemplares, o
segundo com selo das edições Proa27.
Macedonio
também fez as vezes de intermediário entre Borges e os intelectuais
veteranos da geração precedente, os quais detinham o controle dos
principais periódicos e empreendimentos editoriais de vanguarda, como
as revistas Proa 2 e Martín Fierro e a Editorial Proa.
Refiro-me ao condomínio de interesses e frentes de investimento
envolvendo Evar Méndez, Ricardo Güiraldes e Oliverio Girondo, esse
último o único da geração de Borges. Num campo intelectual ainda em
gestação, como o argentino, no qual a fortíssima ingerência do poder
econômico deixava espaço restrito aos rompantes de autonomia por
parte de seus integrantes, mesmo daqueles mais trunfados social e
intelectualmente, a proteção conferida pelos grandes investidores
tanto mais valiosa quando esses empreendedores exerciam em paralelo
uma atividade literária, como nos casos de Güiraldes e Girondo
constituía a moeda decisiva das relações de força e de sentido
naquele universo restrito de trocas. Macedonio aproximou Borges dos
figurões no universo literário argentino da década de 1920. De
imediato, Borges soube consolidar laços de amizade com cada um deles,
passando a colaborar na revista dirigida por Girondo e Evar Méndez,
tornando-se parceiro de Güiraldes e Evar Méndez no projeto da Editorial
Proa e, por fim, ajudando a promover a empreitada latino-americanista
dos martinfierristas liderados por Girondo em sua viagem de 1924.
As
diversas intervenções no debate em torno dos graus de originalidade
de Macedonio acabaram por ricochete se transmutando em indagações a
respeito de Borges como plagiário de Macedonio. Daí em frente, ao
longo de toda a vida, Borges jamais deixou de endossar as influências
recebidas de Macedonio, os empréstimos sucessivos de seus achados,
aforismos, reinações, de seu léxico chacoalhado por significações
forjadas. Em retrospecto, a interação tão estratégica de Borges com
Macedonio lhe permitiu testar expectativas e intentos, como
pretendente trunfado à carreira intelectual entre os muitos egressos
dos antigos ramos da elite argentina, como integrante de uma família
orgulhosa de sua linhagem, dos feitos militares e políticos dos
antepassados, buscando guarida num modelo de escrita pouco convencional,
fora dos parâmetros daquela geração. Tal exemplo lhe proporcionou
um modelo de intelectual destoante, de leitura difícil, cujos atributos
mais ostensivos procediam de uma inserção social acidentada, e
não de uma prática intelectual profissional.
O
convívio próximo com Macedonio lhe permitiu uma sondagem mais
distanciada do imaginário e dos padrões de sensibilidade dos círculos
sociais a que pertenciam aquelas famílias criollas. Esse
relacionamento lhe espicaçou o empenho em discernir os impensados e
as excentricidades daquela mentalidade, em deslindar os meandros de
suas preferências políticas e doutrinárias ou os esquadros de
apreciação da tábua de valores do que se considerava então
autenticamente "argentino". Macedonio fez a ponte entre a primeira
socialização familiar, demasiado turvada pelos sentimentos
tumultuados de Borges diante dos reveses familiares, e a tomada de rumos
para uma carreira intelectual em sintonia com seus "iguais".
A
recepção crítica favorável a Borges, desde a arrancada de sua
trajetória intelectual, ao longo dos anos de 1920, deveu-se às
relações privilegiadas que logrou estabelecer com os letrados
veteranos da geração paterna Macedonio Fernández, Evar Méndez,
Ricardo Güiraldes, Roberto Giusti e também com lideranças de peso
na cena cultural espanhola e latino-americana. Primeiro com o poeta
Rafael Cansinos-assens, os ensaístas Ramón Gomez de la Serna e
Guillermo de Torre, logo adiante Ortega y Gasset, Alfonso Reyes e
outros nomes destacados do establishment cultural e literário
hispano-americano. A rigor, o único companheiro de geração literária
que mereceu sua atenção foi Oliverio Girondo, por razões que pouco
têm a ver com as preferências literárias ou pessoais de Borges. A
caracterização desses letrados pertencentes ao círculo do pai de
Borges, em especial Macedonio Fernández, propicia um flagrante
matizado da rede de interdependências a que estavam conectados,
naquele espaço social trincado pelas incertezas quanto ao futuro
dessa fração da elite argentina, detentora de um superavit de capital cultural que lhe permitiria infundir energias explosivas na modelagem do projeto criativo de seus herdeiros.
Borges
adquiriu prontidão técnica e ideológica por meio desse círculo de
letrados, o qual fazia as vezes de microcosmo vibrante do universo de
interações ao alcance de seus calouros. Não se podem descarnar os
desígnios doutrinários dos primeiros livros, tingidos a cada página
pelos ideais e ruminações queixosas daqueles homens cultos criollos,
relegados pela nova dinâmica de oportunidades econômicas,
nostálgicos da herança prestigiosa das antigas gerações familiares,
tão orgulhosos dos políticos, militares e periodistas, entre seus
ilustres antecessores. Não foi por acaso, capricho ou apenas vontade
própria que Borges se empenhou com garra nesse estrondo expressivo.
Sua primeira década como escritor altamente produtivo evidencia o
intento de assumir a dianteira como ideólogo traquejado, capaz de
viabilizar a redenção dos valores conservadores, sob ameaça iminente
de serem desfibrados.
Na
tentativa de fundir, nessa prática poética e ensaística, a bandeira
patriótica e o estro lírico tão fortemente associado às figuras de
Banchs e Almafuerte, o jovem Borges quis por à prova o calibre de seu
cabedal, então a serviço de um programa recessivo, o qual pudesse
trazer alento, ou ao menos sustar o esvaimento das pretensões de
influência política dos círculos criollos a que pertenciam ele
próprio e todos os seus. A apreensão do caráter, do estilo e da
substância temática das obras dos anos 1920 deve, pois, estribar-se
no resgate dos laços íntimos do estreante Borges com esses setores,
no interior dos quais ele foi socializado e, no limite, convencido
quanto à legitimidade e à urgência das palavras de ordem de sua
redenção. Tais experiências modelaram as feições e os feitos
extraordinários desse talento fulgurante, como que empurrado, alçado
mesmo, desde os escritos de juventude, à condição privilegiada de
porta-voz e herdeiro das "iluminações" alardeadas pelos mentores e
patronos.
Girondo, Borges e Bernárdez28 foram alguns dos escritores vinculados à vanguarda martinfierrista
que, de fato, se formaram em contato e proximidade com as propostas
de renovação da cultura européia no período de entreguerras. Eles
tiveram o privilégio de empreender, no mais das vezes em companhia de
suas famílias, sucessivas viagens à Europa. O envolvimento crescente
com linguagens e procedimentos das vanguardas locais, em especial na
França e na Espanha, mas também na Alemanha e na Itália, abriu-lhes
oportunidades de veicular seus textos em revistas européias, e ainda
lhes propiciou uma reação crítica favorável naqueles espaços
estratégicos de difusão. A vocação literária de todos eles resultou,
portanto, do embate entre constrições contrastantes: de um lado, as
expectativas dos círculos sociais e intelectuais a que pertenciam na
Argentina, as obras e os autores festejados daquela tradição
cultural, a agenda de temas e prioridades derivados de uma dada
conjuntura histórica; de outro, os modelos de inovação estética e
literária em vigência na cena européia de vanguarda.
Nas
condições de operação do campo literário argentino nos anos 1920 e
1930, em lugar de priorizar o significado estético das iniciativas e
obras dessa geração de vanguarda, os arroubos criativos de juventude
se tornam inteligíveis nos marcos da socialização desses "herdeiros",
em especial nos casos exemplares de Girondo e Borges, impregnados
por completo pelo universo de valores, padrões de gosto e
expectativas de suas famílias, ou seja, dos círculos de elite em que
se modelaram tais projetos intelectuais. Basta atentar às inúmeras
modulações com que Borges intentou manejar o gênero biográfico, a
começar pelo experimento multifacetado que desaguou no ensaio Evaristo Carriego,
para nos darmos conta da incessante reciclagem de sentidos a que foi
tentando sujeitar os retratos hirtos dos antepassados, os relatos
memorialísticos das grandes figuras do Centenário, mesclados às
representações personalizadas de personagens prensados, literalmente,
entre a legenda histórica, a memória familiar e de classe, e o
enredo ficcional.
Fervor de Buenos Aires
foi recepcionado por uma dúzia de resenhas, na Argentina e na
Europa, algumas delas subscritas por escritores de certa reputação,
como Enrique Díez-Canedo, Salvador Reyes e Ramón Gomez de la Serna,
este último tendo publicado a sua na prestigiosa Revista de Occidente. O livro seguinte de Borges, Inquisiciones,
mereceu resposta de voltagem idêntica, tendo feito jus a resenhas em
periódicos locais e àquelas assinadas por Cansino-assens, Guillermo
de Torre e Pedro Henríquez Ureña em publicações espanholas. Luna de Enfrente,
o segundo livro de versos, suscitou resenhas pelos companheiros de
maior prestígio na turma vanguardista Bernárdez e Marechal , além
do artigo firmado pelo crítico e futuro cunhado, Guillermo de Torre,
outra vez na Revista de Occidente. Tais reações garantiram a
Borges um cabedal invejável de prestígio, um lugar de primazia,
abrindo-lhe oportunidades e iniciativas que ele jamais poderia ter
sem respaldo dos veteranos, os quais lhe permitiram calçar uma posição
de força no comando da geração argentina de vanguarda.
(...)
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