segunda-feira, 22 de julho de 2013

Seja bem-vindo, oh Papa confinado no mundo!

Carta ao Papa ▬ Antonin Artaud

O confessionário não é você, oh Papa, somos nós; entenda-nos e que
os católicos nos entendam.
Em nome da Pátria, em nome da Família, você promove a venda das
almas, a livre trituração dos corpos.
Temos, entre nós e nossas almas, suficientes caminhos para
percorrer, suficientes distâncias para que neles se interponham os
teus sacerdotes vacilantes e esse amontoado de doutrinas afoitas
das quais se nutrem todos os cadáveres do liberalismo mundial.
Teu Deus católico e cristão que, como todos os demais deuses,
concebeu todo o mal:
1º. Você o enfiou no bolso.
2º. Nada temos a fazer com teus cânones, índex, pecado,
confessionário, padralhada, nós pensamos em outra guerra, guerra
contra você, Papa, cachorro.
Aqui o espírito se confessa para o espírito.
De ponta a ponta do teu carnaval romano, o que triunfa é o ódio
sobre as verdades imediatas da alma, sobre estas chamas que
chegam a consumir o espírito. Não existem Deus, Bíblia. Evangelho;
não existem palavras que possam deter o espírito.
Nós não estamos no mundo, oh Papa confinado no mundo; nem a
terra nem Deus falam de você.
O mundo é o abismo da alma. Papa caquético. Papa alheio à alma,
deixe-nos em nossos corpos, deixe nossas almas em nossas almas,
não precisamos do teu facão de claridades.

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