Antes de mais nada,
fluxo com você que nos lê e nos honra com a sua PÓS-PREFACIALIDADE
(...)
De acordo com
Safatle, a exposição do modo de produção é o artifício do qual a arte moderna
lança mão para enfatizar seu distanciamento da compulsão psico-social mimética
(reprodução de comportamentos mecâncios) e reforçar a idéia de que se define
pela autonomia em relação às ''representações naturalizadas na realidade social
(...)
A única língua que estudei
com força foi a portuguesa.
Estudei-a com força
para poder errá-la ao dente.
A língua dos índios
Guatós é múrmura: é como se ao
dentro de suas
palavras corresse um rio entre pedras.
A língua dos Guaranis
é gárrula: para eles é muito
mais importante o
rumor das palavras do que o sentido
que elas tenham.
MANOEL DE BARROS
(...)
O universo é um livro, diz a sabedoria:
todo livro contém o universo. É preciso recordar que o traço negro de cada
palavra se torna inteligível no livro graças ao branco da página. Esse branco
de que a palavra brota e en que acaba por desaparecer o Silencio Primordial.
Princípio e fim de cada criatura, de todo o criado, o branco escreve para nós o
fundamental de toda escritura: o círculo de mistério que envolve nossa
existencia. A qualidade de qualquer escritura depende da medida em que tramite
o mistério, esse silencio que não é ela. Seu esplendor é enriquecedora
abdicação de si. E essa resulta evidente no tipo de leitura que permite e
exige. A palavra portadora de mistério demanda uma leitura lenta, que se
interrompe para meditar, tratar de absorver o incomensurável: pede releitura,
consideração do branco.
idem
(...)
(apagam-se as
luzes sobre as cadeiras. Burroughs 2 dirige-se a um caixote sobre o qual
se encontra uma máquina de escrever. Pega uma cadeira jogada em um
canto do palco, ao fundo, senta-se e começa a martelar a máquina.
Enquanto isto Burroughs 1 sobe ao palco e acende algumas velas
espalhadas por várias partes. Ao falar, segue se movimentando de um
canto a outro. Apaga-se a luminária sobre a mesa. Logo os quatro
Burroughs iniciam um rápido diálogo.) CONFERENCISTA – Acaso as palavras
não são objetos secretos e intocáveis? BURROUGHS 1 – A linguagem é
essencialmente mistificação. Em toda parte são máquinas com seus
acoplamentos e conexões. Uma máquina órgão para uma máquina energia,
sempre fluxos e cortes. Há sempre uma máquina produtora de um fluxo e
uma outra que lhe é ligada, operando um corte, na extração de fluxo
BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – As palavras não são
sagradas. CONFERENCISTA – , cito os célebres casos de Joyce e sua
minuciosa criação de “casewords”- as “palavras-valise” - ; Aldous Huxley
e a técnica do “contraponto” narrativo, que influenciou o Érico
Veríssimo de Caminhos cruzados; o “fluxo de consciência” - “stream of
consciousness” - nas obras de Gertrude Stein; o “real maravilhoso” e a
“linguagem neobarroca”, defendidos por Alejo Carpentier para a
realização de uma literatura latinoamericana essencialmente
participativa; a “desmemorização” nos escritos de Virginia Woolf; assim
como a atmosfera que J. G. Ballard institui por meio do estilo que ele
denomina “waking dreams”: “[...] isto é, mostrar a realidade como se
fosse um sonho, de modo que nada seja real e nos encontremos lançados em
um universo onde tudo é imaginação ou pesadelo. O que fazer com tudo
isso? BURROUGHS 1 – As palavras são necessárias. BURROUGHS 2 –
Sincrônica à pintura em estilo cut-up, estava a realização de poemas
elaborados de maneira análoga, cujos resultados logo entusiasmaram
Burroughs, inclusive, pelo caráter de destituição autoral sobre os
versos, que eram retirados de seu contexto original -. BURROUGHS 3 –
Tudo depende do resultado. CONFERENCISTA – Eu sou o artista BURROUGHS 1 –
Por que estamos aqui? BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – Eu
sou a palavra apagada. CONFERENCISTA – Tu não és senão um livro que foge
de si mesmo. BURROUGHS 1 – A barata de Kafka fugiu apavorada. .
BURROUGHS 3 – Tudo depende. CONFERENCISTA – Tu és o livro invisível.
BURROUGHS 1 – Eu sou tua alma. BURROUGHS 2 – Eu sou o que sou BURROUGHS
3 – Tudo depende (Uma trilha de rangidos se mescla ao barulho das
teclas da máquina de escrever. Logo Burroughs 2 tira uma folha de papel
da máquina. Novo diálogo entre eles: Para os que pensam como Updike,
torna-se necessário prestar muita atenção nesta afirmação de Carpeaux,
presente no ensaio “Alexandria ou a inteligência”: Não importa o
material. Importa o que o artista sabe fazer do seu material.Uma sonata
de Beethoven, construída com apenas cinco temas, ou umacantata de Bach,
construída (como a n° 140) em cima de um único tema (queainda por cima
não é de Bach), valem mais que uma ópera tradicional com20 árias de
originalíssima invenção melódica e sem unidade nenhuma. TheWaste Land
tem, em 433 versos, 32 citações: mas é poema inconfundivelmente de
Eliot. Está unificado. Assim como as poesias líricas de Catulo,
construídas a base de versos gregos, são catulianas. É a emoção
controlada pela inteligência.)Em um certo sentido, um uso especial de
palavras e imagens pode conduzir ao silêncio.
http://portalpineal.blogspot.com.br/2011/09/forcas-informuladas.html
(...)
IONESCO escreveu que, com seu teatro, ele
propõe antes de tudo DESSOCIALIZAR –cfr DON JUAN em suas reiteradas
prédicas nesse sentido a CASTANEDA – porque é, precisamente, ‘’a
representação cotidiana’’ do homem –social que o torna uma criatura
psicologicamente suscetível. Ele lançou mão de mecanismos de liberação
do tempo tradicionais, como koans zen e toda e qualquer UPAYA(truque,
estratégia) que produzisse uma ''implosão dos hábitos mentais''.
Saída do ESPAÇO-TEMPO e entrada no que James Joyce chamou de Mama
Matrix Most Mysterious. Um momento de quase ubiqüidade, uma experiência
de TESTEMUNHO INCONTAMINADO, etc
Poderia parafrasear as
explicações de Goethe, Guenon e outros, mas vou ficar com a explicação
do fraternauta anônimo de ‘’Plano Criativo’’ – ‘’penso que as sensações
de de javu ocorrem quando identificamos padrões energéticos associados a
uma situação ou experiência concreta. O mundo se move em padrões,
nossas experiências estão embebidas dos mesmos padrões que se repetem
uma e outra vez. As vezes, a consciencia percebe mais facilmente os
padrões energeticos, como um barômetro interior que acusa ‘’algo’’ por
trás de cada experiência. É como uma sensação de estar dormindo/sonhando
acordado. E certamente é devido ao fato de que se saiu por alguns
segundos da textura do espaço-tempo e se encontrou com as formas por
trás das formas. Energia’’.
A estratégia de BORRAR A HISTÓRIA
PESSOAL e tudo o que ela implica é bem ilustrativo desse processo de
dissolução das estruturas do ego dentro dos limites do mundo...
(A iniciação do (a) xamã é sempre um caminho no qual ele se desintegra,
se desfaz de tudo que dele fizeram e então é reconstruído pela força
mesma da Mãe Natureza e redivivo começa outra vida, não mais presa as
antigas formas , mas nascido (a) de si, por si vai agora trilhar um
caminho que é antes de mais nada pragmático y emocionante)
Detournement – palavra francesa que significa ‘’desvio’’, ‘’rapto’’ ou
‘’roubo’’ – era a maneira como Lautreamont –Isidore Ducasse, aquele do
encontro entre um guarda-chuva e uma máquina de costura sobre uma mesa
de cirurgia e da ‘’POESIA FEITA POR TODOS – chamava o método que
empregava ao selecionar frases e expressões existentes, adicionando
palavras e/ou suprimindo e substituindo por outras, a fim de modificar a
idéia, fazer galhofa, ou homenagear o autor da sentença; Alfred
Hitchcock, enquanto cineasta e escritor, possuía seu artifício
particular, que batizou de ‘’Mac Guffin’’ – a pista-falsa , forjada para
ludibriar personagens e o próprio espectador.
Existe algo
parecido em Nisargadatta que consiste em indagar como a sociedade nos
mantém enganados nos fazendo acreditar que já ‘’nascemos’’ e que para
nascer é preciso ludibriar o PREDADOR (instalação mental externa que
manipula o entorno social e nos transforma num nó de sentimentos
confusos e reacções emocionais cegas ).
E para terminar não
poderíamos deixar de mencionar o nome de ANTONIN ARTAUD, que já havia
usado a UPHAYA que este guru deu a conhecer noventa anos antes dizendo
que ele não havia nascido e que isso era tão certo como um bife com
batatas fritas. Mencionei também Gurdjieff porque é o que mais se
aproxima como antecedente para quebrar a ilusão de que a alma é um FATO
PRÉVIO ou um DADO A PRIORI e de que carecemos de destino individual e
alma sem o TRABALHO SOBRE NÓS MESMOS.
Recordemos que
Kierkegaard disse que ‘’o Tempo é o Pecado’’. Deter o TEMPO –a imagem
móvel da Eternidade, segundo Platón – é parar o diálogo interno, ‘’parar
o mundo’’... A parábola do cocheiro lava ao tema do condutor e do
passageiro, análogo ao do ‘’dono da casa’’. Assim, a metáfora de que
somos UM TAXI em que qualquer um ou qualquer coisa pode subir, de que
estamos ocupados e usurpados chega até o poeta Arthur Rimbaud que
secamente sentencia- ‘’EU É UM OUTRO’’. Afirmando o ‘’anagógico’’ –tudo
está em si mesmo – e desde o imperativo delfico de CONHECE-TE A TI MESMO
até Nisargadatta; passando por Jesus ‘’O PAI TEM A VIDA EM SI MESMO’’;
patinando numa zona de complexidades mal destiladas –e isto vale para
toda mensagem e toda tradição – enquanto a ESSENCIA MESMA luta
bravamente para harmonizar os opostos e transmutar o sangue em espírito
contra a ambiguidade anfibológica de todo engano e adormecimento.
(...)
O universo é um livro, diz a sabedoria:
todo livro contém o universo. É preciso recordar que o traço negro de cada
palavra se torna inteligível no livro graças ao branco da página. Esse branco
de que a palavra brota e en que acaba por desaparecer o Silencio Primordial.
Princípio e fim de cada criatura, de todo o criado, o branco escreve para nós o
fundamental de toda escritura: o círculo de mistério que envolve nossa
existencia. A qualidade de qualquer escritura depende da medida em que tramite
o mistério, esse silencio que não é ela. Seu esplendor é enriquecedora
abdicação de si. E essa resulta evidente no tipo de leitura que permite e
exige. A palavra portadora de mistério demanda uma leitura lenta, que se
interrompe para meditar, tratar de absorver o incomensurável: pede releitura,
consideração do branco.
idem
(...)
(apagam-se as luzes sobre as cadeiras. Burroughs 2 dirige-se a um caixote sobre o qual se encontra uma máquina de escrever. Pega uma cadeira jogada em um canto do palco, ao fundo, senta-se e começa a martelar a máquina. Enquanto isto Burroughs 1 sobe ao palco e acende algumas velas espalhadas por várias partes. Ao falar, segue se movimentando de um canto a outro. Apaga-se a luminária sobre a mesa. Logo os quatro Burroughs iniciam um rápido diálogo.) CONFERENCISTA – Acaso as palavras não são objetos secretos e intocáveis? BURROUGHS 1 – A linguagem é essencialmente mistificação. Em toda parte são máquinas com seus acoplamentos e conexões. Uma máquina órgão para uma máquina energia, sempre fluxos e cortes. Há sempre uma máquina produtora de um fluxo e uma outra que lhe é ligada, operando um corte, na extração de fluxo BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – As palavras não são sagradas. CONFERENCISTA – , cito os célebres casos de Joyce e sua minuciosa criação de “casewords”- as “palavras-valise” - ; Aldous Huxley e a técnica do “contraponto” narrativo, que influenciou o Érico Veríssimo de Caminhos cruzados; o “fluxo de consciência” - “stream of consciousness” - nas obras de Gertrude Stein; o “real maravilhoso” e a “linguagem neobarroca”, defendidos por Alejo Carpentier para a realização de uma literatura latinoamericana essencialmente participativa; a “desmemorização” nos escritos de Virginia Woolf; assim como a atmosfera que J. G. Ballard institui por meio do estilo que ele denomina “waking dreams”: “[...] isto é, mostrar a realidade como se fosse um sonho, de modo que nada seja real e nos encontremos lançados em um universo onde tudo é imaginação ou pesadelo. O que fazer com tudo isso? BURROUGHS 1 – As palavras são necessárias. BURROUGHS 2 – Sincrônica à pintura em estilo cut-up, estava a realização de poemas elaborados de maneira análoga, cujos resultados logo entusiasmaram Burroughs, inclusive, pelo caráter de destituição autoral sobre os versos, que eram retirados de seu contexto original -. BURROUGHS 3 – Tudo depende do resultado. CONFERENCISTA – Eu sou o artista BURROUGHS 1 – Por que estamos aqui? BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – Eu sou a palavra apagada. CONFERENCISTA – Tu não és senão um livro que foge de si mesmo. BURROUGHS 1 – A barata de Kafka fugiu apavorada. . BURROUGHS 3 – Tudo depende. CONFERENCISTA – Tu és o livro invisível. BURROUGHS 1 – Eu sou tua alma. BURROUGHS 2 – Eu sou o que sou BURROUGHS 3 – Tudo depende (Uma trilha de rangidos se mescla ao barulho das teclas da máquina de escrever. Logo Burroughs 2 tira uma folha de papel da máquina. Novo diálogo entre eles: Para os que pensam como Updike, torna-se necessário prestar muita atenção nesta afirmação de Carpeaux, presente no ensaio “Alexandria ou a inteligência”: Não importa o material. Importa o que o artista sabe fazer do seu material.Uma sonata de Beethoven, construída com apenas cinco temas, ou umacantata de Bach, construída (como a n° 140) em cima de um único tema (queainda por cima não é de Bach), valem mais que uma ópera tradicional com20 árias de originalíssima invenção melódica e sem unidade nenhuma. TheWaste Land tem, em 433 versos, 32 citações: mas é poema inconfundivelmente de Eliot. Está unificado. Assim como as poesias líricas de Catulo, construídas a base de versos gregos, são catulianas. É a emoção controlada pela inteligência.)Em um certo sentido, um uso especial de palavras e imagens pode conduzir ao silêncio.
http://portalpineal.blogspot.com.br/2011/09/forcas-informuladas.html
(...)
IONESCO escreveu que, com seu teatro, ele propõe antes de tudo DESSOCIALIZAR –cfr DON JUAN em suas reiteradas prédicas nesse sentido a CASTANEDA – porque é, precisamente, ‘’a representação cotidiana’’ do homem –social que o torna uma criatura psicologicamente suscetível. Ele lançou mão de mecanismos de liberação do tempo tradicionais, como koans zen e toda e qualquer UPAYA(truque, estratégia) que produzisse uma ''implosão dos hábitos mentais''.
Saída do ESPAÇO-TEMPO e entrada no que James Joyce chamou de Mama Matrix Most Mysterious. Um momento de quase ubiqüidade, uma experiência de TESTEMUNHO INCONTAMINADO, etc
Poderia parafrasear as explicações de Goethe, Guenon e outros, mas vou ficar com a explicação do fraternauta anônimo de ‘’Plano Criativo’’ – ‘’penso que as sensações de de javu ocorrem quando identificamos padrões energéticos associados a uma situação ou experiência concreta. O mundo se move em padrões, nossas experiências estão embebidas dos mesmos padrões que se repetem uma e outra vez. As vezes, a consciencia percebe mais facilmente os padrões energeticos, como um barômetro interior que acusa ‘’algo’’ por trás de cada experiência. É como uma sensação de estar dormindo/sonhando acordado. E certamente é devido ao fato de que se saiu por alguns segundos da textura do espaço-tempo e se encontrou com as formas por trás das formas. Energia’’.
A estratégia de BORRAR A HISTÓRIA PESSOAL e tudo o que ela implica é bem ilustrativo desse processo de dissolução das estruturas do ego dentro dos limites do mundo...
(A iniciação do (a) xamã é sempre um caminho no qual ele se desintegra, se desfaz de tudo que dele fizeram e então é reconstruído pela força mesma da Mãe Natureza e redivivo começa outra vida, não mais presa as antigas formas , mas nascido (a) de si, por si vai agora trilhar um caminho que é antes de mais nada pragmático y emocionante)
Detournement – palavra francesa que significa ‘’desvio’’, ‘’rapto’’ ou ‘’roubo’’ – era a maneira como Lautreamont –Isidore Ducasse, aquele do encontro entre um guarda-chuva e uma máquina de costura sobre uma mesa de cirurgia e da ‘’POESIA FEITA POR TODOS – chamava o método que empregava ao selecionar frases e expressões existentes, adicionando palavras e/ou suprimindo e substituindo por outras, a fim de modificar a idéia, fazer galhofa, ou homenagear o autor da sentença; Alfred Hitchcock, enquanto cineasta e escritor, possuía seu artifício particular, que batizou de ‘’Mac Guffin’’ – a pista-falsa , forjada para ludibriar personagens e o próprio espectador.
Existe algo parecido em Nisargadatta que consiste em indagar como a sociedade nos mantém enganados nos fazendo acreditar que já ‘’nascemos’’ e que para nascer é preciso ludibriar o PREDADOR (instalação mental externa que manipula o entorno social e nos transforma num nó de sentimentos confusos e reacções emocionais cegas ).
E para terminar não poderíamos deixar de mencionar o nome de ANTONIN ARTAUD, que já havia usado a UPHAYA que este guru deu a conhecer noventa anos antes dizendo que ele não havia nascido e que isso era tão certo como um bife com batatas fritas. Mencionei também Gurdjieff porque é o que mais se aproxima como antecedente para quebrar a ilusão de que a alma é um FATO PRÉVIO ou um DADO A PRIORI e de que carecemos de destino individual e alma sem o TRABALHO SOBRE NÓS MESMOS.
Recordemos que Kierkegaard disse que ‘’o Tempo é o Pecado’’. Deter o TEMPO –a imagem móvel da Eternidade, segundo Platón – é parar o diálogo interno, ‘’parar o mundo’’... A parábola do cocheiro lava ao tema do condutor e do passageiro, análogo ao do ‘’dono da casa’’. Assim, a metáfora de que somos UM TAXI em que qualquer um ou qualquer coisa pode subir, de que estamos ocupados e usurpados chega até o poeta Arthur Rimbaud que secamente sentencia- ‘’EU É UM OUTRO’’. Afirmando o ‘’anagógico’’ –tudo está em si mesmo – e desde o imperativo delfico de CONHECE-TE A TI MESMO até Nisargadatta; passando por Jesus ‘’O PAI TEM A VIDA EM SI MESMO’’; patinando numa zona de complexidades mal destiladas –e isto vale para toda mensagem e toda tradição – enquanto a ESSENCIA MESMA luta bravamente para harmonizar os opostos e transmutar o sangue em espírito contra a ambiguidade anfibológica de todo engano e adormecimento.
idem
(...)
(apagam-se as luzes sobre as cadeiras. Burroughs 2 dirige-se a um caixote sobre o qual se encontra uma máquina de escrever. Pega uma cadeira jogada em um canto do palco, ao fundo, senta-se e começa a martelar a máquina. Enquanto isto Burroughs 1 sobe ao palco e acende algumas velas espalhadas por várias partes. Ao falar, segue se movimentando de um canto a outro. Apaga-se a luminária sobre a mesa. Logo os quatro Burroughs iniciam um rápido diálogo.) CONFERENCISTA – Acaso as palavras não são objetos secretos e intocáveis? BURROUGHS 1 – A linguagem é essencialmente mistificação. Em toda parte são máquinas com seus acoplamentos e conexões. Uma máquina órgão para uma máquina energia, sempre fluxos e cortes. Há sempre uma máquina produtora de um fluxo e uma outra que lhe é ligada, operando um corte, na extração de fluxo BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – As palavras não são sagradas. CONFERENCISTA – , cito os célebres casos de Joyce e sua minuciosa criação de “casewords”- as “palavras-valise” - ; Aldous Huxley e a técnica do “contraponto” narrativo, que influenciou o Érico Veríssimo de Caminhos cruzados; o “fluxo de consciência” - “stream of consciousness” - nas obras de Gertrude Stein; o “real maravilhoso” e a “linguagem neobarroca”, defendidos por Alejo Carpentier para a realização de uma literatura latinoamericana essencialmente participativa; a “desmemorização” nos escritos de Virginia Woolf; assim como a atmosfera que J. G. Ballard institui por meio do estilo que ele denomina “waking dreams”: “[...] isto é, mostrar a realidade como se fosse um sonho, de modo que nada seja real e nos encontremos lançados em um universo onde tudo é imaginação ou pesadelo. O que fazer com tudo isso? BURROUGHS 1 – As palavras são necessárias. BURROUGHS 2 – Sincrônica à pintura em estilo cut-up, estava a realização de poemas elaborados de maneira análoga, cujos resultados logo entusiasmaram Burroughs, inclusive, pelo caráter de destituição autoral sobre os versos, que eram retirados de seu contexto original -. BURROUGHS 3 – Tudo depende do resultado. CONFERENCISTA – Eu sou o artista BURROUGHS 1 – Por que estamos aqui? BURROUGHS 2 – Serei um polvo? BURROUGHS 3 – Eu sou a palavra apagada. CONFERENCISTA – Tu não és senão um livro que foge de si mesmo. BURROUGHS 1 – A barata de Kafka fugiu apavorada. . BURROUGHS 3 – Tudo depende. CONFERENCISTA – Tu és o livro invisível. BURROUGHS 1 – Eu sou tua alma. BURROUGHS 2 – Eu sou o que sou BURROUGHS 3 – Tudo depende (Uma trilha de rangidos se mescla ao barulho das teclas da máquina de escrever. Logo Burroughs 2 tira uma folha de papel da máquina. Novo diálogo entre eles: Para os que pensam como Updike, torna-se necessário prestar muita atenção nesta afirmação de Carpeaux, presente no ensaio “Alexandria ou a inteligência”: Não importa o material. Importa o que o artista sabe fazer do seu material.Uma sonata de Beethoven, construída com apenas cinco temas, ou umacantata de Bach, construída (como a n° 140) em cima de um único tema (queainda por cima não é de Bach), valem mais que uma ópera tradicional com20 árias de originalíssima invenção melódica e sem unidade nenhuma. TheWaste Land tem, em 433 versos, 32 citações: mas é poema inconfundivelmente de Eliot. Está unificado. Assim como as poesias líricas de Catulo, construídas a base de versos gregos, são catulianas. É a emoção controlada pela inteligência.)Em um certo sentido, um uso especial de palavras e imagens pode conduzir ao silêncio.
http://portalpineal.blogspot.com.br/2011/09/forcas-informuladas.html
(...)
IONESCO escreveu que, com seu teatro, ele propõe antes de tudo DESSOCIALIZAR –cfr DON JUAN em suas reiteradas prédicas nesse sentido a CASTANEDA – porque é, precisamente, ‘’a representação cotidiana’’ do homem –social que o torna uma criatura psicologicamente suscetível. Ele lançou mão de mecanismos de liberação do tempo tradicionais, como koans zen e toda e qualquer UPAYA(truque, estratégia) que produzisse uma ''implosão dos hábitos mentais''.
Saída do ESPAÇO-TEMPO e entrada no que James Joyce chamou de Mama Matrix Most Mysterious. Um momento de quase ubiqüidade, uma experiência de TESTEMUNHO INCONTAMINADO, etc
Poderia parafrasear as explicações de Goethe, Guenon e outros, mas vou ficar com a explicação do fraternauta anônimo de ‘’Plano Criativo’’ – ‘’penso que as sensações de de javu ocorrem quando identificamos padrões energéticos associados a uma situação ou experiência concreta. O mundo se move em padrões, nossas experiências estão embebidas dos mesmos padrões que se repetem uma e outra vez. As vezes, a consciencia percebe mais facilmente os padrões energeticos, como um barômetro interior que acusa ‘’algo’’ por trás de cada experiência. É como uma sensação de estar dormindo/sonhando acordado. E certamente é devido ao fato de que se saiu por alguns segundos da textura do espaço-tempo e se encontrou com as formas por trás das formas. Energia’’.
A estratégia de BORRAR A HISTÓRIA PESSOAL e tudo o que ela implica é bem ilustrativo desse processo de dissolução das estruturas do ego dentro dos limites do mundo...
(A iniciação do (a) xamã é sempre um caminho no qual ele se desintegra, se desfaz de tudo que dele fizeram e então é reconstruído pela força mesma da Mãe Natureza e redivivo começa outra vida, não mais presa as antigas formas , mas nascido (a) de si, por si vai agora trilhar um caminho que é antes de mais nada pragmático y emocionante)
Detournement – palavra francesa que significa ‘’desvio’’, ‘’rapto’’ ou ‘’roubo’’ – era a maneira como Lautreamont –Isidore Ducasse, aquele do encontro entre um guarda-chuva e uma máquina de costura sobre uma mesa de cirurgia e da ‘’POESIA FEITA POR TODOS – chamava o método que empregava ao selecionar frases e expressões existentes, adicionando palavras e/ou suprimindo e substituindo por outras, a fim de modificar a idéia, fazer galhofa, ou homenagear o autor da sentença; Alfred Hitchcock, enquanto cineasta e escritor, possuía seu artifício particular, que batizou de ‘’Mac Guffin’’ – a pista-falsa , forjada para ludibriar personagens e o próprio espectador.
Existe algo parecido em Nisargadatta que consiste em indagar como a sociedade nos mantém enganados nos fazendo acreditar que já ‘’nascemos’’ e que para nascer é preciso ludibriar o PREDADOR (instalação mental externa que manipula o entorno social e nos transforma num nó de sentimentos confusos e reacções emocionais cegas ).
E para terminar não poderíamos deixar de mencionar o nome de ANTONIN ARTAUD, que já havia usado a UPHAYA que este guru deu a conhecer noventa anos antes dizendo que ele não havia nascido e que isso era tão certo como um bife com batatas fritas. Mencionei também Gurdjieff porque é o que mais se aproxima como antecedente para quebrar a ilusão de que a alma é um FATO PRÉVIO ou um DADO A PRIORI e de que carecemos de destino individual e alma sem o TRABALHO SOBRE NÓS MESMOS.
Recordemos que Kierkegaard disse que ‘’o Tempo é o Pecado’’. Deter o TEMPO –a imagem móvel da Eternidade, segundo Platón – é parar o diálogo interno, ‘’parar o mundo’’... A parábola do cocheiro lava ao tema do condutor e do passageiro, análogo ao do ‘’dono da casa’’. Assim, a metáfora de que somos UM TAXI em que qualquer um ou qualquer coisa pode subir, de que estamos ocupados e usurpados chega até o poeta Arthur Rimbaud que secamente sentencia- ‘’EU É UM OUTRO’’. Afirmando o ‘’anagógico’’ –tudo está em si mesmo – e desde o imperativo delfico de CONHECE-TE A TI MESMO até Nisargadatta; passando por Jesus ‘’O PAI TEM A VIDA EM SI MESMO’’; patinando numa zona de complexidades mal destiladas –e isto vale para toda mensagem e toda tradição – enquanto a ESSENCIA MESMA luta bravamente para harmonizar os opostos e transmutar o sangue em espírito contra a ambiguidade anfibológica de todo engano e adormecimento.
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